Ao cozinhar, você descasca legumes e frutas e certamente trata o que não vai panela como lixo. É este conceito que a empresa Origem quer mudar, oferecendo o serviço de coleta dos materiais e transformando aquilo que geraria mais custos para o poder público em adubo, por meio do sistema de compostagem.
Um processo que envolve uma série de tecnologias e, além de reduzir o que vai para o aterro sanitário, diminui o impacto no meio ambiente e promove um novo ciclo de vida ao material.
O empreendimento, pensado e concretizado pelos jovens Yasmim Rojas Fonseca e Khayke Botelho Sorobata, foi fruto de muita pesquisa, que inclusive levaram em consideração os modelos usados por outras grandes metrópoles.
Aqui, o tratamento dos materiais acontece em um sítio nas margens da MT-251, estrada de acesso a Chapada dos Guimarães, a exatos quatro quilômetros do trevo de acesso à Fundação Bradesco, em Cuiabá.
Em fevereiro deste ano, as atividades começaram, mas devido à pandemia do coronavírus elas tiveram que ter ações mais tímidas. A princípio, o trabalho está focado no lixo residencial, mas o local tem capacidade de processar também os médios geradores, como bares, lanchonetes e pequenos mercados.
Em um hectare, os empresários conseguem receber 300 toneladas de resíduos por mês, mas, por enquanto, estão atuando com 10 toneladas/mês.
Como ganhar dinheiro com o lixo?
A empresa cobra pela coleta e tratamento do lixo. Nos planos disponíveis para casas, por exemplo, o cliente pode escolher entre a assinatura de recolhimento semanal ou quinzenal. Elas custam R$ 40 e R$ 60, respectivamente.
Como compensação pelo contrato, o assinante recebe mudas de hortaliças e sacos de adubo para colocar nas plantas e, assim, reavivar a horta doméstica.
Depois de tratado, o material vira húmus, que também pode ser vendido para viveiros e empresas que atuam com jardinagem e paisagismo. Conhecido como um ótimo recurso para a nutrição da plantas, tem um bom valor de mercado, em torno de R$ 4 o quilo.
Além disso, a Origem está instalando um espaço para tratamento do chorume, que é tóxico. Após o processamento, ele se transformará em fertilizante líquido.
Ampliação a caminho
A próxima etapa do projeto da empresa é atender os médios geradores de lixo, como lanchonetes, restaurantes e supermercados. Atualmente, Cuiabá conta com uma empresa que trabalha apenas como os grandes geradores, como é o caso shoppings centers e redes de supermercado.
Vale lembrar que, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, esses estabelecimentos são responsáveis por dar a correta destinação dos resíduos que produzem.
Como funciona o processo?
Khayke explica que, depois de recolher os resíduos, eles são levados até uma área da empresa. Primeiro, são acomodados em leiras, que recebem a devida impermeabilização para que o chorume, líquido obtido a partir da decomposição dos resíduos, não entre no solo e sim caia em uma caixa d’água, onde posteriormente será tratado.
Ele lembra que a estrutura precisa estar devidamente fundamentada para que não haja vazamentos, uma vez que o chorume é altamente tóxico e, no local onde ele cai, não há mais produção.
Nas leiras, há a formação de camadas entre matéria seca e resíduos, que depois de atingirem uma certa altura passam para a fase de repouso, que demora cerca de 90 dias.
Passado o período, o material já será o substrato que se vende nas lojas de produtos agrícolas, porém, a Origem agrega valor ao produto no minhocário, onde se transforma em húmus.
Esta fase acontece no galpão da empresa, em uma série de tanques, que possuem a temperatura controlada.
Depois que os animais trabalham no substrato, o conteúdo dos tanques passa pela peneira e, em seguida, é ensacado para venda ou entrega para os assinantes, como forma de compensação.
Conforme Yasmim, o próximo passo da estruturação será para tratamento do chorume por um processo chamado evapotranspiração, no qual o líquido se transformará em fertilizante. Eles usarão, na filtragem, pés de bananeiras.
Tem como fazer a compostagem em casa?
A resposta é sim. Inclusive a própria empresa ensina a fazer, porque acredita que é importante o despertar das pessoas com relação à sustentabilidade.
Veja o vídeo abaixo:
Como o poder público economiza?
Você sabe como é o método de pagamento da empresa que atualmente faz a gestão do aterro sanitário de Cuiabá?
De acordo com informações da prefeitura, a empresa recebe R$ 173,05 por tonelada de material coletado, que, em Cuiabá, chega a ser 600 toneladas por dia. Em um mês, o custo com o serviço chega a R$ 3,1 milhões.
Dados do Ministério do Meio Ambiente apontam que cerca de 50% dos resíduos sólidos produzidos pelas cidades são orgânicos em condição de serem tratados. Sendo assim, o tratamento deste material resultaria na redução de metade dos custos.
Isso sem contar o impacto ao meio ambiente causado pela produção de gás metano e chorume, que é danoso à saúde.