Política

O que a crise do PSDB diz sobre os partidos e a política brasileira?

Grupo que surgiu no final da década de 1980 como alternativa de terceira via passa tempos de desgaste politico. E não está sozinho

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O que a crise do PSDB diz sobre os partidos e a política brasileira?
João Doria e Eduardo Leite, protagonistas do último embate dentro do PSDB (Foto: Reprodução PSDB)

A desistência do ex-governador de São Paulo, João Doria, de disputar a Presidência do Brasil, em decorrência de uma crise interna do PSDB, acendeu o alerta do partido sobre seu papel na política nacional. 

Mas o definhamento do grupo vem dando sinais há alguns anos. E o momento atual coincide com as dificuldades da “terceira via” em ter um candidato de força. 

O Partido Social Democrático Brasil (PSDB) surgiu nos fins da década de 1980, formado por um grupo de dissidentes do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). O espectro do qual a política brasileira tentava se desvencilhar, na época, era ditatura militar. 

“Os políticos que formavam o grupo do PSDB eram aqueles mais intelectualizados do MDB, tinham uma postura de terceira via forte e propunham ideias que serviam para o país naquele momento. Tanto que Fernando Henrique Cardoso foi destaque com o Plano Real (1994) e conseguiu se eleger presidente logo em seguida”, diz o analista político Onofre Ribeiro. 

Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

Agenda social-democrática 

O programa político do grupo estava expresso no nome da sigla. Uma mistura de vertentes da economia sem intervenção estatal e combate aos aspectos sociais adversos do modelo por meio da política. 

Hoje o PSDB, assim como outros partidos no centro político, se perde entre bipolaridade de um grupo mais liberal, com traços do regime militar – que penderia mais para o lado do presidente Jair Bolsonaro -, e um grupo mais pro socialismo – que se identificaria mais com a pauta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

O analista Onofre Ribeiro avalia que a posição sustentada por décadas pelo PSDB está esgotada e tende a perder mais espaços no virar de mandato do atual presidente, a partir de 2023 – seja para um lado ou para outro. 

“O PSDB precisa se reinventar, trocar de nome, mudar a agenda política para atender a demanda política que vai ganhar força a partir de 2023. A crise do partido, hoje, acontece por falta de diálogo com a sociedade”, comenta. 

Dificuldades da terceira via 

Para o analista, o modelo de federação implantado a partir deste ano tende a reduzir os partidos políticos no país a uma lista com menos de 10 siglas nos próximos anos.  

E as dificuldades encontradas para um candidato de terceira via à Presidência da República em 2022 teriam a ver com a crise dos tucanos. Os partidos que se articulam para lançar candidato possuem programas políticos semelhantes ao do PSDB, ou seja, também estão desorientados sobre o cenário. 

“A crise do PSDB é a crise da terceira via. São todos partidos que precisam achar uma nova maneira de fazer política para se opor à polarização. Do jeito que eles tentam, não dá mais. O que nós vemos acontecer hoje é resultado de mudanças mais profundas na política brasileira”, afirma.  

Anúncio da crise 

(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

A situação do diretório do PSDB em Mato Grosso demonstra a crise. O presidente, deputado estadual Carlos Avallone, já admitiu que o futuro dos tucanos é incerto e aponta para fragmentação dos filiados para outros presidenciáveis. 

Mas o desgaste vem de tempo mais longo. O último grande expoente tucano no Estado foi ex-governador Dante Martins de Oliveira (1994-2002), morto em 2006. Na época, o PSDB tinha cinco deputados na Assembleia Legislativa. Quando o empresário Blairo Maggi se candidatou ao governo, em 2002, quatro deixaram o partido.

O já combalido PSDB não elegeu novo governador – a aposta estava com Antero Paes de Barros – por força do pequeno PPS, no qual Maggi estava filiado. 

A posição mais expressiva no Executivo que o partido ocupou, desde então, foi a eleição de Wilson Santos para a Prefeitura de Cuiabá. Ele foi eleito para dois mandatos, mas deixou o segundo pela metade, para concorrer ao governo. Não venceu. 

Neste ano, os últimos remanescentes da era Dante deixaram o PSDB por conflitos internos e levaram junto consigo uma das duas cadeiras que a sigla tinha na Assembleia Legislativa, a ocupada por Wilson Santos.

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