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No deserto de livros, uma bibliotecária de 13 anos fez a revolução

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No deserto de livros, uma bibliotecária de 13 anos fez a revolução

Ednilson Aguiar/Olivre

Biblioteca Livre

A simplicidade com que Carol lida com as crianças quebrou a barreira da autoridade. Ler para estes pequenos se tornou sinônimo de brincadeira.

“Carol me empresta este daqui?”, grita uma criança ao erguer a cabeça para Carol Oliveira, a mais velha do grupo, que se reúne em torno da geladeira colorida onde se fez a biblioteca comunitária. “Pode, sim”, responde Carol, que aos 13 anos se tornou a primeira (e única) bibliotecária do bairro onde mora.

Há três meses, Carol e os amiguinhos eram um grande problema para os professores da Escola Municipal Júlio Domingos de Campos, onde estudam os filhos dos moradores do Residencial São Francisco, um bairro de casas populares no “fim” de Várzea Grande, na região do Capão Grande.
“Quando a gente lia, a gente sempre gaguejava”, relembra a pequena bibliotecária. Livros distribuídos por um professor de Língua Portuguesa da escola incentivaram Carol a ler e ela não parou mais.

“Na escola onde eu estudo a biblioteca não empresta livros. E eu pedi para a minha mãe uma biblioteca, eu disse que queria ser uma bibliotecária”. A mãe de Carol, Fabiana Oliveira, conseguiu trazer os livros e a estrutura da biblioteca para o bairro, com a ajuda de um amigo da família. O amigo é o criador da primeira Biblioteca Livre de Várzea Grande, no bairro São Matheus. 

Ednilson Aguiar/Olivre

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Com a ajuda de um amigo da família, Fabiana Oliveira deu à filha o que ela mais queria: uma biblioteca

A biblioteca comunitária do Residencial São Francisco funciona há dois meses e já abriga 200 exemplares. No fim da tarde, quando o sol perde a intensidade, a meninada se reúne em volta do antigo eletrodoméstico, cochicham e riem com os livros na mão. Sempre na liderança dos mais pequenos, Carol empresta os livros, anota as datas, cobra devolução e indica obras para outras crianças.

“Quando eu chego do trabalho, eles estão todos aqui espalhados. Cada um com um livro na mão. Aí eles trocam, cansam de um livro e pegam outro e por aí vai”, relata Fabiana.

Ednilson Aguiar/Olivre

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Com cerca de 200 livros em seu acervo, a jornada literária de Carol com os amigos já começou a dar resultados. Ela conta que, em apenas três meses de existência da biblioteca, os pequenos leitores já começaram a tirar notas melhores na escola.

A biblioteca se tornou uma opção para os moradores que não têm com quem deixar os filhos em casa. A creche prometida para o bairro nunca foi construída – e o local onde deveria ter sido feita uma praça tem apenas alguns brinquedos cobertos de mato. 

“É muito bom saber que eles estão lendo, é uma forma gostosa que eles têm de ajudar na sabedoria”, conta Priscila Freitas, 27. Ela é vizinha da biblioteca e ajuda Fabiana imprimindo desenhos para as crianças colorirem, quando a leitura acaba.

Deserto de livros

Criar uma biblioteca comunitária não foi uma decisão ocasional para os Oliveiras. No município onde vivem, em Várzea Grande, não há bibliotecas públicas em funcionamento.

Para piorar a situação, nem sempre as escolas têm capacidade técnica e estrutural de comportar um bom acervo e administrá-lo. A Escola Municipal Júlio Domingos de Campos, onde Carol e seus três irmãos estudam, não consegue atender às necessidades dos pequenos leitores. “Além de tudo, lá tem poucos livros”, critica Carol.

Doação

Aqueles que quiserem ajudar Carol e os amigos a terem mais livros podem doar entrando em contato com Fabiana Oliveira, a mãe da pequena bibliotecária, pelo número (65) 99237-2268. 

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