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Líder quilombola Nezinho teria sido agredido por policial durante festa tradicional em Mata Cavalo

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Líder quilombola Nezinho teria sido agredido por policial durante festa tradicional em Mata Cavalo
(Foto: Plano de Desenvolvimento do Arranjo Produtivo)

De acordo com mensagem que circula via WhatsApp, uma das lideranças mais importantes das comunidades quilombolas de Mato Grosso, Sizenando do Carmo Santos, o mestre Nezinho, foi vítima de agressão policial durante festa realizada em homenagem a São Benedito, promovida por ele há mais de 49 anos.

Em quase meio centenário, nunca houve qualquer ocorrência desta natureza. Revoltados com o fato, amigos envolveram-se em uma campanha para trazer à luz a ação policial que consideram desproporcional, contra o quilombola.

Eles relatam que o festeiro e presidente da Associação dos Moradores do Quilombo de Mata Cavalo de cima, viveu momentos de tensão na alvorada deste domingo (16), depois de ser agredido por um dos policiais que realizavam abordagem à festa familiar, tradicional e religiosa, em devoção a São Benedito. Depois disso, a festa foi abreviada e não teve mais continuidade.

“Hoje, ele faz 60 anos, mas o sentimento de alegria deu lugar à tristeza”, diz o rapper Raul Fortes. A escritora e membro da AML, Luciene Carvalho, também chegou momentos depois do ocorrido e relata o clima negativo. “Dava pena ver Nezinho daquele jeito, tão abatido. Ele vem mantendo a tradição da festa de santo e o siriri de raiz, há muitos anos. Não merecia esse tipo de tratamento”, desabafa.

Outro amigo, convidado para ser um dos festeiros no próximo ano, o contador José Célio Vaz, ressalta que depois da abordagem da polícia, a festa foi encerrada tanto porquê muita gente teria ido embora e também, porquê não havia mais clima.

“Os policiais se locomoveram da base no Jardim Marajoara para seguir até lá, uma região isolada, de chácaras e cujos vizinhos são todos parentes do Nezinho. Quando chegamos lá, a festa já tinha acabado e o rastro de desgosto tomava conta”, diz José Célio.

Ele cita que Nezinho teria contado – e testemunhas confirmado – que os policiais chegaram por volta das 5h15 da manhã, perguntando pelo dono da festa, pedindo para baixar o som. “E aí um dos policiais perguntou: ‘ah, você que é o tal de Nezinho?’. E logo, ele deu um tapa no peito dele e na região do pescoço, perto do rosto. E então, foi o empurrando para o salão de festas. Todos ficaram abismados. Foi então que o policial pediu para ver a documentação da festa e a partir daí, alguns dos convidados passaram a registrar a abordagem policial temendo mais abusos. A agressão não foi registrada porquê ninguém imaginou que chegasse a esse ponto”, diz o contador.

De acordo com o amigo de Nezinho, logo, eles apresentaram toda a documentação exigida pelos policiais que aparecem no vídeo dizendo: “Isso aqui para mim não serve. Eu só estou cumprindo ordens”. “Mas quem seria e porquê”, questiona Zé Célio.

Muito querido pela comunidade, afinal Nezinho preside a associação, ele é também muito respeitado pelo trabalho que desenvolve pela manutenção da cultura tradicional e popular, com a preservação do siriri e cururu de raiz, bem como das rezas cantadas que fazem parte da programação da festa que realiza anualmente e que neste ano, não terminou bem.

Entre suas ações, coordena o grupo de Siriri, como uma expressão diferente da dança em outras regiões da Baixada Cuiabana. A brincadeira é feita com pedaços de pau que são cruzados durante as cirandas. Nos três dias de evento, mesa farta, oração, música e dança abrilhantam a festança.

“Se depender da gente isso não vai ficar por isso mesmo. Vamos levá-lo para fazer o Boletim de Ocorrência, acionar a PF – já que se trata de terra da união – e pedir orientação do Ministério Público Federal”.

Acionada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Polícia Militar encaminhou nota à redação:

NOTA PMMT

Até o final da tarde desta segunda-feira (16.07) a Corregedoria da Polícia Militar não havia recebido nenhuma denúncia relacionada a comunidade Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento.

O comando do 2ºCR (Comando Regional), com sede em Várzea Grande, unidade responsável pelo policiamento na região, também desconhece, até o momento, que tenha ocorrido qualquer alteração ou excesso por parte dos policiais.

O 2º CR informa ainda, que a documentação solicitada para a realização de festas onde há exibição de som e consumo de bebida alcoólica é uma exigência legal para qualquer região. Portanto, assim como na Comunidade Mata Cavalo, na mesma data os policiais fizeram solicitação similar em outras duas festas realizadas em comunidades da mesma região.

Todavia, a Corregedoria da PMMT informa que com base nas informações veiculadas na imprensa, expediu um pedido de providências, ou seja, um levantamento prévio cujo resultado definirá o procedimento a ser instaurado e as medidas a serem adotadas.

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