Ednilson Aguiar/O Livre
No bairro Cristo rei, em Várzea Grande, um espaço que deveria servir à população e ser referência cultural encontra-se abandonado há, pelo menos, quatro anos. Menos de um ano depois de passar por reforma, em 2013, a biblioteca municipal Laurinda Coelho fechou as portas por falta de manutenção, permanecendo desta forma até os dias de hoje.
Devido à falta de cuidado, a infraestrutura se deteriorou. Pelas paredes e piso, é comum encontrar rachaduras. No forro, buracos por várias partes.
O local chegou a contar com cerca de 4 mil livros, além de quatro terminais de computador com acesso a internet, que acabaram furtados. Porém, o acervo encolheu depois que a prefeitura levou embora milhares de livros, e parte deles está inutilizável.
Mãos à obra
A falta de movimentação das autoridades, no sentido de fazer os reparos necessários, levou os moradores a tomar uma iniciativa por conta própria.
“Qual o interesse em manter
um espaço como esse
fechado, abandonado,
por tanto tempo assim?”
Desde o último domingo (27/08), um grupo de jovens ocupou o espaço e deu início aos trabalhos de revitalização. O mato em volta começou a ser aparado, assim como as árvores, que estão sendo podadas.
O mutirão da limpeza permitiu que a biblioteca, ainda com todos os problemas na infraestrutura, fosse reaberta.
Na quinta-feira (31), alunas da Escola Estadual José Ferreira Leite aproveitaram a volta para casa para, após uma rápida vistoria, emprestar alguns livros. “Podemos devolver quando, moço?”, perguntou uma das estudantes.
“Para você ver, o local, do jeito que está, ainda mantém a sua utilidade. Imagina só se estivesse bem cuidado? Esse espaço é da população, e é por isso que iremos reativá-lo”, afirmou o tatuador Thiago Chaveiro, 30 anos, um dos representantes do Ocupa VG, movimento que busca discutir a utilização dos espaços públicos com a população e autoridades.
Além dos trabalhos de revitalização da biblioteca, o movimento planeja promover atividades culturais e esportivas no local para torná-lo novamente um ponto de encontro dos moradores da região. “Vamos ter capoeira, aulas de jiu-jitsu, francês e muita poesia”, contou.
Segundo ele, um possível enfrentamento com o poder público não deve ser encarado com temeridade. É a segunda vez que o grupo ocupa a biblioteca. Na primeira, em outubro do ano passado, acabou expulso pela Guarda Municipal depois de pouco mais de uma semana.
Ednilson Aguiar/O Livre
“O enfrentamento abre um diálogo com a comunidade. Qual o interesse em manter um espaço como esse fechado, abandonado, por tanto tempo assim?”, questionou.
Moradora do Cristo Rei há 34 anos, a funcionária pública aposentada Aparecida de Gomes Silva, 62 anos, se disse favorável à intervenção dos jovens.
“É muito melhor do que deixar a biblioteca como ela estava, abandonada. Se a prefeitura não faz nada, então deixa quem quer fazer em paz. A biblioteca precisa de vida. É muito melhor ocupar o espaço de maneira saudável do que deixá-lo à mercê de usuários de drogas ou criminosos. A juventude tem o nosso apoio”, enfatizou.
A biblioteca municipal Laurinda Coelho situa-se na Rua Mário Machado. Aqueles que tiverem interesse em contribuir com doação de livros ou qualquer outra ajuda para revitalizar a biblioteca basta ir até o local ou entrar em contato com Tiago Chaveiro.
Reforma
Por meio da assessoria, a prefeitura de Várzea Grande disse que a ordem de serviço para a reforma da biblioteca foi assinada e que as obras devem começar já na próxima semana, com previsão de conclusão em três meses. O valor a ser investido é de R$ 150 mil.
Questionada sobre a razão da demora para o início dos trabalhos, a prefeitura culpou a gestão passada pelo abandono dos espaços e ressaltou que “não tem como fazer tudo” e que a prioridade era revitalizar as escolas municipais.