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“Está perdendo tempo demais com picuinhas”, diz Augusto Nunes sobre governo Bolsonaro

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“Está perdendo tempo demais com picuinhas”, diz Augusto Nunes sobre governo Bolsonaro
Augusto Nunes palestra no 19º Encontro Técnico Soja, realizado pela Fundação MT - Foto: Assessoria

O jornalista e colunista do LIVRE Augusto Nunes esteve em Cuiabá durante o 19º Encontro Técnico Soja, evento técnico sobre pesquisa agropecuária, promovido pela Fundação MT , no final da semana passada. Em seu painel fez uma análise sobre o atual cenário político e econômico do Brasil.

Para cerca de 200 pessoas, abordou assuntos como a reforma da Previdência, atuação dos ministros, Congresso Nacional e polêmicas que envolvem os filhos do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Nunes não poupou críticas ao governo Bolsonaro quanto à atuação do Executivo na comunicação com os eleitores e afirmou que o governo “está perdendo tempo demais com picuinhas, bobagens” e ainda disse que “não se governa com base nas redes sociais”. Chegou a dizer que Jair “tem que fazer um cursinho com pessoas que ele confia para ter um pouco mais de habilidade política”.

Nunes foi ainda mais firme ao falar dos últimos governos do Partido dos Trabalhadores (PT), liderados por Lula e Dilma Rousseff. Classificou o ex-presidente Lula – condenado na Lava Jato – como “perverso, insensível e sem misericórdia”.

Pediu para os presentes não “acreditem em mitos, em homens providenciais e em intervenção militar”. Advertiu que os venezuelanos chamaram os militares para resolver os problemas da nação e veio o Hugo Chaves. “A gente determina os rumos do Brasil”, finalizou.

Governo Bolsonaro

Para Augusto Nunes, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) mostrou grande força ao ser eleito, após “derrotar amplamente os institutos de pesquisa” que apontavam que “ele perderia para todos que o enfrentassem no segundo turno”. Ele ainda contabiliza a eleição de diversos parlamentares e governadores em sua conta.

“Lula tem poder de transferência de votos expressivo, mas quem elegeu governadores, senadores, uma bancada do próprio partido que tinha apenas três ou quatro deputados, foi ele. Hoje o PSL é a maior bancada”, disse o jornalista.

Apesar da boa performance nas urnas, Augusto Nunes adverte que Bolsonaro “ainda precisa se convencer” de que já foi eleito presidente e parar de se comportar como se estivesse em um “terceiro turno”.

Para ele, o grande número de representantes do Partido Social Liberal (PSL) no Congresso Nacional, nada significa, se comparado ao “desempenho que a turma vem tendo”.

Filhos do presidente

Augusto Nunes avalia que Bolsonaro precisa se distanciar dos filhos. Pois, “não se pode misturar assuntos de governo com assuntos de família”, adisse.

Sobre esse assunto ele ainda diz que essa participação “não dá certo pela simples e boa razão de que é indemissível”.

(Foto: Divulgação/Alerj)

Para ele, a investigação que apura movimentações financeiras atípicas nas contas de Flávio Bolsonaro não deve causar nenhum impacto mais relevante. Isso se “ele [Bolsonaro] parar de repetir desculpas do PT, ‘querem atingir fulano’, e dizer que as investigações serão feitas com total liberdade e se houver comprovação de alguma culpa, quem é culpado vai pagar por isso”, aponta.

“Não é porque é filho dele, mas as consequências são potencializadas porque são filhos. É um risco que você corre quando você é candidato à presidência e lança o filho que será eleito senador por causa do seu prestígio”, afirmou.

Segundo Nunes eles precisam parar com o discurso “estão fazendo isso para atingir meu pai”.

Ministros e militares

(Foto de Valter Campanato, da Agência Brasil)

Bolsonaro foi certeiro nas escolhas dos militares do Exército Brasileiro e ministros para seu governo, e eles “não podem ser perdidos”, avalia Augusto Nunes. Exceção para as “duas na educação”, que teriam sido “escolhas infelizes”.

“Gente que fica mais preocupado com os discursos de questões de comportamento, questões de fé e ideológicos, em vez de tratar dos problemas que não faltam no Brasil”, descreve ao tratar do ex-ministro da Educação, Ricardo Vélez e do atual Abraham Weintraub.

Ele ainda associa a escolha do staff federal ao fato de Bolsonaro ter assumido o país “sem dever nada a ninguém, a nenhum partido. Ele teve liberdade para montar um ministério sem barganhas”, justifica.

“Alguns dos ministérios tem ministros que são os melhores que eu já vi. Cito entre eles o da Infraestrutura [Tarcísio Gomes], o [Sergio] Moro evidentemente, e o Paulo Guedes, que tem feito um trabalho heroico e solitário em defesa da reforma da Previdência.

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Elogiou também a escolha do general Santos Cruz para ministro de Governo. “É o único general combatente do Exército Brasileiro. Chefiou a operação mais perigosa e antiga da ONU, que se dava na Congo. Havia uma guerra civil interminável, participou de combates. Esse não é de ficar dando tiro em parques de diversão, não é de ficar brincando”, relatou.

Augusto ainda afirma que Cruz tem “postura democrática” e que junto com os outros militares do governo “quer que Bolsonaro compreenda que a campanha já acabou e que ele já é presidente de todos e tem de atacar problemas sérios”, sustentou.

Quanto aos militares, Nunes defende que “estão ansiosos por tratar de problemas reais do país” – e que o “brasileiro infelizmente é apressado demais no julgamento, acha que tudo já devia ter sido resolvido e não é possível. Temos duas décadas perdidas”, finaliza.

Para ele as trocas dos ministros que não deram certo deve ser feito de forma mais rápida. Assim como acontece em “contrato de qualquer empresa”. “Não funcionou, até logo, porque tem os que funcionam”, defende.

Pois, segundo ele “a gente tem um país que está pronto para investir e receber investimento, precisa de segurança jurídica e econômica que só virá a partir da reforma da Previdência”, finaliza.

Homens de confiança

Depois de algumas entrevistas com o presidente, Augusto Nunes conta que saiu com a sensação de que Bolsonaro escuta o Paulo Guedes, Sérgio Moro (“embora ele escute e as vezes não concorde, o que também não adianta muito”), Augusto Heleno e os filhos, relata.

Conta que se surpreendeu com a capacidade de convencimento do ministro da Economia Paulo Guedes. Segundo Nunes, Bolsonaro era um estatista e contra a reforma da Previdência, mas “foi convertido pelo Paulo Guedes”, já que passou a vida combatendo esse tipo de coisa. “Privatizar era um pecado, um crime contra a nação, no entanto o governo já fez o leilão dos aeroportos, que é um bom começo”.

Congresso Nacional e o Centrão

Augusto Nunes associa ainda defende que existe uma fragilidade no governo Bolsonaro e que ela está ligada ao centrão, que “só querem um lugar perto do cofre”. Segundo ele, o PT quer que dê errado, e os deputados, base do governo, são muito inexperientes e por esse motivo enfrentam dificuldades.

“Alguns já foram vereadores, prefeitos, mas estão chegando lá agora e não tem ninguém pra pegar essa turma e dizer pera aí, vocês precisam aprender o básico”, explica.

“O povo fez o seu papel, renovou o congresso. Historicamente a taxa de renovação é de 40%, mas dessa vez foi maior que 42% [para] os deputados federais que estão exercendo o mandato pela primeira vez”.

Avalia que o governo precisa aprender determinados truques e práticas para “enfrentar o adversário sem escrúpulos. Ter a consciência de que não adianta tentar minueto com quem só sabe dançar forró ou funk”.

Reforma da Previdência

Sobre a reforma da Previdência, o colunista diz que não resolve muita coisa, pois, “não trata de todos os problemas”. Mas que a proposta apresentada pelo Paulo Guedes é a mais corajosa.

“Não mexe em todos os privilégios dos militares, mas é a primeira a mexer com os militares. Mexe com deputados e, se for aprovada agora em setembro, com 80% do que propõe o Paulo Guedes, já está de muito bom tamanho”, avalia.

Lula e a pobreza

(Foto:Leonardo Benassatto)

Sobre o ex-presidente Lula, condenado na Lava Jato, o colunista disse que “Quem conhece a pobreza e faz o que fez com os pobres dizendo que tinha acabado com a pobreza, é perverso, é insensível. É um homem que não tem pena, não tem misericórdia, é incapaz de ter dó de qualquer um”.

Criticou que ele usa todas as situações possíveis para fazer discursos políticos e disse que não fica feliz com a prisão de ninguém, mas que não se compadece quando é merecida. “Quem faz discurso ao lado do caixão da mulher, e apresenta a mulher como vítima da Lava Jato, fazendo discurso político, também é insensível”, sustentou.

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