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Dois desaparecem após ação da polícia em garimpo ilegal na Serra da Borda

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Dois desaparecem após ação da polícia em garimpo ilegal na Serra da Borda

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Ao contrário do que informou nesta segunda-feira (22) o delegado regional de Pontes e Lacerda, Rafael Scatolon – segundo o qual “não foi necessário uso da força policial e a tomada da Serra da Borda foi realizada de forma pacífica”, garimpeiros dizem que a ação de policiais militares e civis no garimpo ilegal, realizada no último domingo (21), foi violenta e deixou ao menos duas pessoas desaparecidas. 

Segundo relatos ouvidos pelo LIVRE, os policiais atiraram com balas de borracha em homens rendidos e usaram munição real contra garimpeiros que fugiram na direção da mata fechada. Até a manhã desta terça-feira (23), a garimpeira Brasilmar Gonçalves Dantas, 48 anos, e Jair Francisco Duarte, 38, continuavam desaparecidos. As famílias registraram boletins de ocorrência na delegacia de Pontes e Lacerda. A Secretaria de Segurança Pública informou que está checando se há desaparecidos e disse que enviou uma equipe da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros para buscas no local.

De acordo com os relatos, um grupo de cerca de 70 garimpeiros chegou à Serra da Borda por volta das 16 horas do último sábado (20), solicitando autorização dos policiais do Grupo de Operações Especiais (GOE) que faziam a guarda do local para prosseguir com a busca por ouro no topo da serra. “No sábado a gente fez uma manifestação, juntamos um povo e fomos lá no Caldeirão”, disse um garimpeiro que preferiu não se identificar.

“Chegaram atirando em todo mundo, nem conversaram”

“Chegamos lá e conversamos com o GOE de Cuiabá, uma polícia educada, e falamos que íamos ficar lá em cima porque nós precisávamos trabalhar, não tínhamos o que comer na rua, sem emprego para ninguém. Aí eles falaram que estavam lá para cumprir ordens, não para prender garimpeiros. Disseram que a gente era ‘uns pobres coitados’, que o negócio deles era prender bandido, não trabalhador. E foram embora. Aí a gente subiu”.

Antes de sair, os policiais teriam deixado um conselho: “Eles falaram: ‘Nós não vamos fazer nada com vocês, mas com a polícia daqui, vocês se viram’”. Os garimpeiros relatam que, no dia seguinte, policiais civis e militares, além de seguranças da mineradora Santa Elina, que tem autorização federal para pesquisas no local, apareceram para retomar a área. “Chegaram atirando em todo mundo, nem conversaram”. Nesse momento, de acordo com os relatos, as duas pessoas que estão desaparecidas fugiram na direção da floresta. “Atiraram neles com bala de metal porque eles correram”, disse o parente de um dos desaparecidos. Os depoimentos estão reunidos no vídeo acima.

A exploração de jazidas de minérios em solo nacional exige autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). De acordo com o artigo 21 da lei 7.805/89, a extração ilegal de minérios está sujeita a pena que varia de 3 meses a 3 anos de prisão, além de multa.

Rixa antiga
Segundo garimpeiros que desde 2015 escavavam a Serra da Borda em busca de ouro, existe uma disputa antiga entre policiais do município de Pontes e Lacerda e pessoas que se instalaram na região do garimpo. Uma operação da Polícia Federal, desencadeada em novembro de 2015, chegou a prender quatro policiais civis, um tenente-coronel da PM e um vereador acusados de explorar o garimpo ilegalmente e extorquir garimpeiros.

Há cerca de uma semana, segundo um garimpeiro que não quis se identificar, a PM do município estava negociando valores com garimpeiros na cidade para permitir o acesso à Serra da Borda. “Fui lá e vi a polícia com 30 trabalhadores no garimpo”, disse. “A polícia está protegendo esses garimpeiros em troca de 50% do ouro que eles acharem”.

“A polícia está protegendo esses garimpeiros em troca de 50% do ouro que eles acharem”

Segundo ele, a perseguição de policiais a garimpeiros se intensificou a partir do fim do ano passado, quando um tiroteio entre homens armados de fuzis e policiais no garimpo chamou a atenção da imprensa estadual.

Um garimpeiro da cidade alega que sua casa foi alvo de vários tiros da polícia local (veja as fotos no fim desta matéria). “Acertaram o carro e a casa do cara todinha”, disse um colega, que também falou sob a condição de anonimato. “Está todo mundo com medo”.

Segundo os relatos, as mineradoras da região estariam pagando policiais por fora para manter o lugar livre de garimpeiros, que, na maioria das vezes, são pessoas pobres de Rondônia, Amazonas, Maranhão ou do interior do Estado em busca de renda.

Histórico de sumiços
Desaparecida desde o início de janeiro, a paranaense Paula Andressa, de 29 anos, foi a primeira pessoa a sumir no garimpo da Serra da Borda. De acordo com colegas que trabalhavam com ela na região do garimpo, Paula foi interrogada um dia antes de desaparecer por policiais civis do município que investigavam o tiroteio ocorrido no fim do ano.

A mãe da jovem, Rosa Gregório, relatou ao LIVRE que até hoje o corpo de Paula Andresssa não foi localizado. “A polícia de lá não atende, ninguém responde, principalmente quando se fala no nome da Paula Andressa. É um verdadeiro pouco caso”, disse. “Espero que a Justiça possa fazer alguma coisa”. Um colega de Paula Andressa, também garimpeiro, resumiu a situação: “Se morrer 50 pessoas aqui, ninguém fica sabendo”.

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