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Crossfiteiras: as histórias de quem compete por diversão

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Crossfiteiras: as histórias de quem compete por diversão

Ednilson Aguiar/O Livre

Crossfit

Neusa Cristina Gomes da Costa, 35 anos, pensou em se profissionalizar no esporte

Quando a última repetição é executada e o corpo finalmente pode desmoronar no chão, o relógio, que oscilou entre segundos intermináveis e minutos que passaram em um instante, volta ao seu ritmo normal.

Passo a escutar o barulho da torcida e a comemoração dos Head Coachs (treinadores). Enquanto meus pulmões tentam sugar mais ar do que são capazes, minha parceira conclui a parte dela do primeiro de cinco workouts of the day (série de exercícios), ou simplesmente wods, como o pessoal do Crossfit chama.

“É para saber que você consegue, para se superar. Você acha que não dá conta, mas não desiste e, quando vê, você fez. Não é por prêmio ou para vencer. É pelo bem estar de conseguir terminar”

O objetivo não é o pódio. É superar seus próprios limites. É por isso que estamos ali: eu, a jornalista; Maiara Barbant (26), a estudante de Administração; Gibranna Oliveira (36), a enfermeira, e Neusa Cristina Gomes da Costa (35), a doutoranda. Nesse dia, somos todas atletas.

Neusa Cristina chegou a tentar se profissionalizar no esporte, mas percebeu que teria que se dedicar muito mais do que considerava viável, diante do rumo que sua vida havia tomado. Casada e mãe de um garotinho de dois anos e meio, preferiu manter a participação nos campeonatos na esfera da diversão.

Maiara tem o apoio do pai, que sonha com a filha seguindo a carreira de atleta. Mas ela faz questão de “pisar no freio” e esclarecer que a rotina de treinos e viagens para competir fora do Estado não passam de sua diversão de “final de semana”, como ela mesma pontua. “Porque não é só final de semana né?!”, brinca.

Ednilson Aguiar/O Livre

Crossfit

Maiara Barbant, 26 anos, trocou a dança pela intensidade do Crossfit

Gibranna, também casada e mãe de um adolescente de 13 anos, volta para casa todos os dias cerca de três horas depois que seu expediente termina. O tempo dedicado aos treinos é sagrado, ela diz, e competir, além de parte da brincadeira, é preciso para se testar.

“É para saber que você consegue, para se superar. Você acha que não dá conta, mas não desiste e, quando vê, você fez. Não é por prêmio ou para vencer. É pelo bem estar de conseguir terminar”.

Todas têm uma história de “amor à primeira vista” com o Crossfit, assim como eu. Chegaram nos boxes – como os praticantes chamam as academias – por convite de amigos e só precisaram de uma aula para ter certeza que era ali que queriam passar as horas livres de seus dias.

Neusa Cristina foi acompanhar o marido. Policial Militar, ele treinava para passar no teste físico da seletiva para o Batalhão de Operações Especiais (Bope). Ex-jogadora de futebol americano, ela resolveu fazer a aula também e se saiu melhor do que esperava. Na época, tinha dado à luz ao filho há apenas três meses.

Maiara, Gibranna e eu trocamos outras atividades pelo Crossfit. Até tentamos manter as duas práticas. A universitária dançava e, passados alguns meses, percebeu que não conseguiria fazer as duas coisas bem. Optou pelo esporte, por conta de sua maior intensidade. A enfermeira e eu frequentávamos academias tradicionais e logo percebemos que o Crossfit não precisa de complementos.

Ednilson Aguiar/O Livre

Crossfit

Gibranna Oliveira, 36 anos, diz que o treino é “sagrado” e competir é necessário para se testar

Não demorou para notarmos que, primeiro, teríamos que vencer nós mesmas. Todo treino é uma oportunidade de superar os limites. Os campeonatos são a fase seguinte. Neusa Cristina afirma que são uma característica do próprio esporte, que chegou ao Brasil por volta de 2010, mas se espalhou pelo país a partir de 2014.

Para Maiara, as competições – que acontecem, a cada dia, em maior número, em todos os Estados – apareceram como uma oportunidade de evoluir, quando lutar contra seu próprio corpo já não era mais suficiente.

“Primeiro eu queria aprender a fazer os movimentos. Depois, só aprender não estava tão legal. Eu queria me testar, daí pensei: então tá, vamos competir”, conta a estudante, que acumula uma experiência de oito campeonatos em três anos de prática de Crossfit.

“É da minha personalidade querer um objetivo palpável. Os campeonatos proporcionam isso. Já nas duas primeiras competições nacionais que eu fui, deu para quantificar minha evolução”, completa.

Sentir esse crescimento, se perceber mais forte – não apenas fisicamente – e saber que concluímos uma tarefa que a maioria das pessoas não conseguiria – às vezes até nós mesmas – consideraria não ser capaz de fazer é o que nos faz querer disputar.

É a recompensa pelas dores musculares dos treinos, pela recusa a convite de amigos para aquele happy hour, pelo nervosismo da véspera da competição, pela falta de ar quando o wod termina. Nesse dia, todas somos atletas.

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