A discussão acerca de crianças e adolescentes e a contaminação com a covid-19 se arrasta desde o início da pandemia. Contudo, dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021 e do Painel Covid-19 da Secretaria de Estado de Saúde mostram que o público infantojuvenil foi mais vitimado fatalmente pela violência do que pelo vírus em 2020.
Com relação aos casos de estupro e estupro de vulnerável, 1.454 casos foram registrados no ano passado, conforme o Anuário. Isso indica uma média diária de três casos e tendo as crianças de 0 a 11 anos como o grupo mais afetado, com 721 ocorrências. Em seguida, aparecem as vítimas de 12 a 17 anos, somando mais 669 notificações à conta.
O levantamento traz ainda os registros de mortes violentas intencionais de bebês a jovens de 19 anos. Entre 2019 e 2020 foram registrados 212 óbitos. Aqui, a média é de 1 registro a cada 2 dias.
Já com relação à covid-19, dentre as 4.526 mortes contabilizadas até 31 de dezembro de 2020, 41 registros são de bebês a jovens de 20 anos. Esse total indica um óbito a cada 10 dias.
Dois pesos, duas medidas
Diante desses dados, o médico e escritor Alessandro Loiola, avalia que as crianças e adolescentes estão sujeitas a um risco 30 vezes maior de serem vítimas de estupro em comparação ao risco de serem vítimas de covid-19.
Com relação às mortes violentas, o risco é 5 vezes maior do que morrer por ter adoecido com o vírus pandêmico.
“O governo de Mato Grosso alguma vez fechou escolas e cerceou a livre circulação de crianças por estar preocupado com mortes por violência ou estupro?”, indaga Loiola. “Será que crianças estupradas ou assassinadas valem menos que crianças com gripe?”, conclui.
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O que diz o Estado?
A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) esclarece que a maioria dos crimes de abusos, violência sexual e morte de crianças e adolescentes ocorre dentro do ambiente familiar, fora da esfera pública na qual o Estado não tem domínio.
“Quanto ao fechamento das escolas, o decreto se fez necessário para evitar a disseminação do vírus”, afirma em nota.
As restrições não ocorreram apenas em Mato Grosso, mas no mundo todo, argumenta a Secretaria de Estado de Educação (Seduc). Os alunos da rede estadual de ensino de Mato Grosso ficaram longe das salas de aula por 1 ano e 4 meses devido à pandemia da covid-19.
O retorno na modalidade híbrida ocorreu no dia 3 de agosto deste ano, após mais de seis meses de planejamento e preparação das escolas para garantir todas as medidas de biossegurança.