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Advogado do ex-governador Silval Barbosa em audiência no STF quando defendia Jacinto Lamas no caso do Mensalão
Depois de anunciar que irá confessar ao menos parte de seus crimes à Justiça na Operação Sodoma, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) foi obrigado a mudar o time responsável por sua defesa. Em seu próximo depoimento, marcado para 5 de julho, Silval terá a companhia de um novo advogado, o criminalista Délio Fortes Lins e Silva Júnior.
Silval está encarcerado há um ano e oito meses, acusado principalmente de organização criminosa, concussão e lavagem de dinheiro nas operações Sodoma e Seven. Três decretos de prisão no Centro de Custódia da Capital (CCC).
Os advogados Valber Melo, Ulisses Rabaneda, Francisco Faiad, Artur Osti e Renan Serra renunciaram ao caso, no final de abril, por discordarem da nova posição — desde que os processos foram iniciados, em 2015, a orientação era para que todos os crimes fossem negados. Além disso, Faiad também se tornou réu na quinta fase da Sodoma por desvios supostamente praticados enquanto esteve à frente da secretaria de Administração do governo Silval.
“Ele vai confessar algumas coisas que fez e se defender porque está sendo acusado de muita coisa que não fez”
Sobrenome
Sediado em Brasília, mas atuante em outras capitais, Délio Lins e Silva Júnior vem de uma família de advogados. Mestre pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (Portugal), Délio Júnior atua no escritório ao lado de seu pai, Délio Lins e Silva.
O novo advogado de Silval já foi conselheiro da seccional de Brasília da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), e o pai já foi conselheiro federal da OAB. Os dois atuam na esfera criminal. Além deles, outros membros da família atuam e já atuaram na advocacia desde o início do século XX, com destaque para o criminalista Raul Lins e Silva Filho.
Lava Jato
Délio Júnior está acostumado a grandes casos envolvendo a política. Ele é advogado de Diogo Ferreira, ex-chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT), em ações da Operação Lava Jato. Diogo fechou um acordo de delação premiada com a Justiça em 2016 no qual revelou o esquema organizado pelo senador para calar Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobrás. Na delação, o ex-chefe de gabinete também citou a proximidade de Delcídio com o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Marcelo Navarro, que teria sido nomeado com orientações para barrar a Lava Jato.
Ednilson Aguiar/O Livre
O ex-governador Silval Barbosa deixa a Delegacia Fazendária
Sem delação
A experiência do advogado deu fôlego às especulações de que Silval Barbosa tenha intenção de fechar um acordo do mesmo tipo. Em resposta ao LIVRE, o advogado negou essa possibilidade. “Ele vai confessar algumas coisas que fez e se defender porque está sendo acusado de muita coisa que não fez”, afirmou. “Então, ele vai afastar as acusações que não procedem”. Délio Lins foi enfático: “Não tem nada de delação”.
O advogado também foi responsável pela defesa de Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do antigo Partido Liberal (PL), atual Partido da República (PR), no escândalo do mensalão. Lamas tinha sido flagrado sacando R$ 1 milhão do Banco Rural para comprar apoio de deputados e senadores durante os primeiros anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Contra ele, pesavam acusações de formação de quadrilha, corrupção passiva e 40 acusações de lavagem de dinheiro. O ex-tesoureiro foi preso em 2013 e acabou condenado a cinco anos de prisão. Cumpriu pouco mais de um ano e quatro meses em regime fechado e foi solto.
Délio Lins foi enfático: “Não tem nada de delação”
Nas audiências do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), Lins e Silva ficou conhecido como o advogado que chamou Jacinto Lamas de um “zero à esquerda na política” para justificar que ele não teria como saber das atividades ilegais realizadas sob coordenação do Partido dos Trabalhadores (PT) julgadas naquela ação.
A estratégia do advogado foi diferente das outras defesas do mensalão, que tentavam negar a existência do esquema. Na ocasião, Délio Lins e Silva Júnior procurou mostrar que Jacinto Lamas não tinha conhecimento do pagamento de propina aos deputados federais. No caso, ele ainda atuou junto de seu pai, Délio Lins e Silva, na defesa do irmão de Jacinto, Antônio Lamas, que acabou absolvido por falta de provas.
O advogado também já atuou em ações de outras operações, como Furacão, Zelotes e Caixa de Pandora. Este não é o primeiro caso que assume fora de Brasília. No Amazonas, Délio Lins e Silva defende o deputado Luiz Ricardo Nicolau (PSD), que é acusado de desvios na construção de um prédio-garagem da Assembleia Legislativa do Estado.