Considerado um dos “celeiros do mundo”, o Brasil é um dos maiores produtores agrícolas. A perspectiva é de que ainda nesta década o país assuma a primeira posição. Para garantir a produtividade, o uso de defensivos agrícolas deve aumentar. Com isso, os roubos e furtos dessas cargas também devem seguir a tendência.
A maior incidência desses crimes está em Estados produtores, a exemplo de Mato Grosso. Entre 2017 e 2019, o registro de roubos e furtos de defensivos aumentou 131% no Estado.
No primeiro ano, 63 ocorrências de roubos e furtos de agroquímicos entraram para a estatística. Já em 2019, foram 146 casos registrados. O número só caiu na pandemia. Em 2020, 110 boletins foram feitos.
As quadrilhas costumam invadir fazendas armadas e mantém os funcionários como reféns. Para cometer o crime, usam caminhonetes roubadas. Em regiões produtoras, essa é uma das principais demandas de segurança pública.
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Em Sorriso, município que lidera o ranking de produção agrícola no país, os produtores já chegaram a pagar recompensa de R$ 5 mil para quem denunciar os criminosos.
A preocupação também é realidade para a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO). Segundo o delegado Vitor Hugo Bruzulato Teixeira, além de coibir os roubos e furtos, a atenção da delegacia especializada tem se voltado para o crime de receptação.
“Temos que combater quem está recebendo: seja o grupo de empresários ou as pessoas que estejam receptando essa carga roubada”, pondera.
Mesma rota do tráfico
Segundo o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF), a cadeia mercadológica dos defensivos ilegais é semelhante à rede estabelecida para o tráfico de drogas.
“É comum que os contrabandistas e falsificadores usem a mesma logística utilizada no transporte de drogas, porém a sofisticação das quadrilhas de agroquímicos se mostra cada dia mais elaborada, com transportes terrestres, aéreos, fluviais e marítimos”, explica .
A China está entre os principais fornecedores das substâncias que entram ilegalmente no Brasil. O defensivo ilegal atravessa os oceanos geralmente de navio. As embarcações atracam no Chile e seguem para o Paraguai, Bolívia e Uruguai.
Depois os produtos entram no Brasil pelo Rio Grande do Sul identificado como desinfetante, inseticida, herbicida e artigos para limpeza, por exemplo.
A estimativa é de que o comércio ilegal dos agroquímicos represente quase ¼ do mercado. O cálculo é da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), com base em dados da safra 2015/2016.
À época, a demanda total líquida dos produtos foi de R$ 33,4 bilhões. Desses, R$ 7,8 bilhões representam a fatia introduzida ilegalmente no país.
Crime hediondo
Desde 2015, tramita na Câmara Federal um projeto que inclui no rol de crimes hediondos o roubo, furto, receptação e contrabando de defensivos agrícolas. A proposta é de autoria do deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).
Em 2018, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania votou pela inconstitucionalidade do projeto.
Implicação na saúde
Chegando a alcançar cifras milionárias, os defensivos são cargas valiosas para as quadrilhas de falsificadores e de contrabando. Além do problema de segurança pública, os crimes acendem também um alerta sobre saúde e meio ambiente.
Ainda mais relevante do que o aspecto econômico, é o rastro social que o contrabando deixa.
Descartados inadequadamente, os recipientes dos produtos ilegais contaminam o solo e as águas. Em alguns casos, as embalagens dos produtos contrabandeados são reutilizadas sem critério, o que coloca em risco a saúde de pessoas e animais.