Com enxadas nas mãos e amor no coração, as mulheres que vivem no entorno da Lagoa do Jacaré, em Várzea Grande, estão mudando a comunidade. Elas fizeram de um terreno inabitado, usado como depósito de lixo, um jardim.
As mudas foram coletadas na própria lagoa ou no quintal de vizinhos e amigos. Já os pneus, que servem de adorno, como vasos, estavam entre os entulhos despejados no local.
Um trabalho de formiguinha, como se diz popularmente, e que deu abertura para várias ações sociais como as de incentivo à leitura e distribuição de alimentos e brinquedos em datas comemorativas.
“Não aguentávamos mais aquela situação. À noite, tomávamos tereré e reclamávamos muito. Principalmente do cheiro dos animais mortos, jogados no local”, explica Claidi Ribeiro, 51, a dona Preta.
Indignação que se transformou em ação. Primeiro em um pedaço pequeno e depois em toda margem da rua.
Para acabar com o matagal, as mulheres, que são donas de casa e domésticas, juntaram dinheiro e contrataram uma pessoa para roçar. Depois, foi com elas.
Toneladas de lixo e resto de construção foram carregadas no carrinho de mão por Sandra Maria, Marta da Silva e Preta.
Elas contam que antes da limpeza, o cheiro que vinha do terreno era insuportável e às vezes os moradores não conseguiam sequer abrir as janelas.
Sem o menor pudor, todo tipo de coisa era descartada no local e não adiantava colocar placas ou chamar a atenção de quem jogava.
“Uma vez, uma moradora daqui do bairro jogou um lixo cheio de resto de peixe. Eu vi e depois catei as sacolas e deixei na porta da casa dela. Ela não falou nada porque sabia que estava errada”, lembra Preta.
Mais problemas
Além do mau cheiro, a proliferação de animais peçonhentos e a formação de criadouros do mosquito da dengue eram outros problemas trazidos pelo depósito de lixo a céu aberto que se tornou o terreno.
O risco era grande para quem morava no local e também para as crianças, que usam o local com trajeto para escola diariamente.
Quando o espaço virou caso de polícia, as mulheres viram que precisavam intervir imediatamente.
Elas contam que um ladrão se escondeu no mato e assaltou um jovem a caminho da aula. O crime aconteceu a luz do dia e preocupou os demais pais porque muitas vezes, os filhos precisam ir sozinhos para escola.
A comoção foi de geral, porém a reação de restrita.
Duas pessoas, além do trio de vizinhas arregaçaram as mangas. Além de pegar no pesado, elas também corriam o bairro atrás de qualquer tipo de contribuição.
Então, apareceu uma vizinha com mudas feitas no fundo do quintal. Em seguida, um irmão da igreja com a máquina roçadeira e parentes com a construção de balanços para as crianças aproveitarem no final da tarde.
Mudança que motiva
O jardim virou ponto de encontro para bater papo no final da tarde. Elas alocaram uma caixa d’água no chão para poderem molhar as plantas.
Enquanto “papeiam”, elas molham as plantas e organizam ações assistenciais.
Passaram a receber doações em datas comemorativas e a distribuição sempre é muito esperada pela comunidade e chega acompanhada de festa.
Roupas e brinquedos são lavados, passam por triagem e em seguida ganham um novo dono. A comida também é distribuída e quando se trata de datas comemorativas, como é o caso da Páscoa, Dia das Crianças e Natal, as três mulheres – Marta, Sandra e Preta – vão para cozinha e preparam guloseimas.
Seja ovo da Páscoa ou cachorro-quente, o sabor sempre é aprovado pelo público, que lota o terreno que virou “O Jardim das Mulheres”.
Abandonados pelo poder público
A Lago do Jacaré, no bairro Cristo Rei, já foi espaço de uma ocupação. Depois as pessoas foram retiradas e virou um lixão.
Entre os vizinhos, a frustação com a ausência do poder público é evidente. A comunidade sonha com a transformação do local em um parque, porém não consegue que a prefeitura sequer limpe a vala por onde passa o esgoto que cai na lagoa.
“Já apareceu um monte de gente querendo apoio político para as eleições, mas nossa ação não tem esta finalidade. É um trabalho dos moradores e para os moradores. Queremos que a prefeitura cumpra a sua obrigação e nos ajude com limpeza, infraestrutura e mudas”, reivindica Preta.
Natal da lagoa
No momento, as mulheres da lagoa estão com pires na mão. Elas buscam doações para construir estruturas elevadas para os canteiros.
Quando chove, a água leva tudo e elas temem perder o que foi construído.
Outra frente de trabalho delas é fazer o Natal na Lagoa.
A ação reúne dezenas de crianças e são distribuídos brinquedos, um delicioso lanche e brincadeira com a instalação de pula-pula e escorredores infláveis.
As pessoas que quiserem ajudar podem buscar informações no Facebook do grupo.