Ednilson Aguiar/O Livre
Cabo revelou suposta história de cobertura para interceptar suspeitos de ameaçar a juíza Selma Arruda
O cabo Gerson Luiz Ferreira Correa Júnior revelou seis novos fatos em seus depoimentos aos delegados Ana Cristina Feldner e Flávio Henrique Stringueta, encarregados pelo Tribunal de Justiça das investigações dos grampos. Gerson citou a suposta criação de uma história de cobertura para interceptar pessoas que estariam ameaçando a juíza Selma Rosane Arruda, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá.
Além disso, o cabo também citou a participação do ex-secretário da Casa Civil Paulo Taques no financiamento do esquema de escutas ilegais e também confirmou o direcionamento dos grampos contra adversários políticos do governador Pedro Taques (PSDB).
As informações constam em um pedido de liberdade do cabo feito pelos delegados Ana Cristina Feldner e Flávio Henrique Stringueta ao presidente do Tribunal de Justiça, Rui Ramos. Os inquéritos do caso, contudo, já foram enviados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), de acordo com a assessoria do judiciário estadual. Assim, o julgamento sobre o pedido deverá ficar a cargo do ministro Mauro Campbell Marques.
O documento elenca seis revelações. “Revelação de pagamento de R$ 50.000,00 pelo investigado Paulo Taques, para o também investigado coronel PM Evandro Lesco, para bancar as despesas das interceptações ilegais iniciadas durante a campanha para o Governo do Estado de Mato Grosso em setembro de 2014”, diz o primeiro item.
O segundo item diz que o Gerson revelou que ouviu de Paulo Taques “que o seu interesse nas interceptações ilegais era estritamente político”. Em seguida, o documento traz a informação de que os alvos eram adversários do então candidato ao governo do Estado, Pedro Taques.
De acordo com o depoimento do cabo, o coronel Zaqueu Barbosa seria o responsável por comandar a operação desde o início e por indicar a Gerson quem seriam as vítimas dos grampos. Zaqueu ainda teria incumbido o cabo de escutar os alvos políticos e repassar qualquer situação suspeita que fosse identificada.
A sexta revelação indica uma suposta irregularidade em uma investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). De acordo com Gerson, o então coordenador do grupo, promotor de Justiça Marco Aurélio Castro, teria determinado que fosse criada uma história de cobertura “para dar início a uma interceptação de pessoas suspeitas de tramarem a more da dra. Selma Arruda”.
Gerson afirma que a própria magistrada teria repassado as informações por meio de uma assessora de outra vara do Tribunal de Justiça. Os suspeitos, e alvos da interceptação, seriam o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e o ex-deputado José Geraldo Riva (sem partido). “Para poupá-la de ser implicada como a fonte da informação, houve a montagem dessa estória cobertura com o conhecimento dela”, afirmou Gerson.
O cabo trabalhou por cerca de 10 anos no Gaeco, onde teve contato com o Guardião, sistema utilizado para escutas em investigações criminais com autorização da Justiça. Assim, no esquema de interceptações ilegais, Gerson foi o responsável por operar o sistema Sentinela e a plataforma Wytron, utilizados para as escutas clandestinas, além de ter elaborado os pedidos judiciais dos grampos.