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Aterro sanitário de Cuiabá inicia processo de desativação e catadores torcem para plano ser cumprido

Na última fase, em 2023, catadores não poderão mais entrar no local atual e deverão se organizar em cooperativa

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Aterro sanitário de Cuiabá inicia processo de desativação e catadores torcem para plano ser cumprido
(Foto: Luiz Alves / Secom Cuiabá)

O plano de desativação do aterro sanitário de Cuiabá já foi iniciado e a expectativa dos catadores de material reciclável que trabalham ali é que a teoria seja realmente executada, desta vez. Conforme o planejamento, em março de 2023, o espaço onde hoje é feito o descarte do lixo da Capital será fechado e os trabalhadores devem se organizar em cooperativa para atuar no novo local, no Centro de Triagem do Ecoparque Pantanal.

A primeira fase do plano está em execução e prevê o direcionamento de 35% dos resíduos produzidos em Cuiabá para a área do ecoparque. Ali está sendo implementado o aterro sanitário ambientalmente correto, frisou o prefeito Emanuel Pinheiro, nesta sexta-feira (16), durante o anúncio dos trabalhos.

A proposta é que até o primeiro trimestre do ano que vem, 100% da produção de lixo seja direcionada para a área localizada no bairro Pedra 90. A partir de então os catadores, cerca de 300 atualmente, não poderão mais entrar no antigo local para revirar a montanha de lixo em busca de materiais para revenda. Porém, também não poderão, ainda, ir para o Ecoparque.

Indenização

Milton Pilão, presidente da Orizon, empresa responsável pelo novo aterro, explicou que será construído um Centro de Triagem de Resíduos (CTR) e ali trabalharão as cooperativas de Cuiabá. A proposta é a mesma já aplicada em outros 14 ecoparques distribuídos no Brasil. O prazo para a construção do CTR é até março de 2024.

O titular da Empresa Cuiabana de Limpeza Urbana (Limpurb), Júnior Leite, reforçou que durante o período em que os catadores não puderem atuar, a proposta é pagar uma indenização de dois salários mínimos para cada catador. Já foi feito um cadastro prévio dos trabalhadores e receberão o benefício aqueles que estiverem aptos, frisou.

Nesse período de um ano, os catadores devem ainda se organizar em uma cooperativa para que depois também possam trabalhar no CTR.

A Prefeitura de Cuiabá divulgou também que conseguiu que sejam construídas 50 casas para serem sorteadas entre os catadores. A iniciativa é fruto de um acordo entre o Município e o secretário Nacional de Saneamento do Ministério do Desenvolvimento Regional, Pedro Maranhão.

“Fechar o lixão e implantar o aterro ambientalmente correto traz mais qualidade de vida, saúde e autoestima para os catadores, que vão desenvolver uma atividade de forma salubre e segura, se tornando, então, agentes de meio ambiente”, comentou Maranhão.

Coleta seletiva em destaque

Enquanto o novo aterro vai ganhando forma, a coleta seletiva também deve se fortalecer. Conforme o cronograma divulgado pela Prefeitura de Cuiabá, até abril de 2023, a Capital terá oito ecopontos nas quatro regiões da cidade. Para maio a proposta é ter quatro grandes ecopontos e em julho, o Município prevê a coleta seletiva de porta a porta, por meio das cooperativas que serão contratadas pela Prefeitura.

Esse trabalho de coleta é o pontapé inicial na atividade dos catadores de material reciclável. Ajudará na separação do que pode ser coletado e vendido e o que será descartado, otimizando o tempo laboral. O restante do material será enterrado e tratado na nova área do aterro.

Para que isso seja executado, defendeu Leite, é importante que a “taxa de lixo” seja aprovada pela Câmara de Cuiabá, onde o projeto segue em discussão.

“(Todo esse processo) custa e não é barato. A gente precisa da conscientização da população que a coleta de lixo não é algo que precisamos para arrecadar mais, mas sim, para que implantemos todas essas ações”, argumentou. “A prefeitura de Cuiabá não está cobrando para fazer, ela já iniciou todas as atividades”, complementou.

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Bosque, contemplação e memorial

De acordo com o prefeito Emanuel Pinheiro, a área do, também chamado lixão, não ficará esquecida. O plano, segundo o gestor municipal, é construir um bosque, uma área de contemplação e um memorial para as vítimas da covid-19.

Da teoria a execução

Quem trabalha no lixão já está acostumado a ouvir as promessas de que o lugar acabará. Em 2014, inclusive, houve uma tentativa de fechamento, mas não seguiu adiante e se manteve a montanha de lixo com pessoas revirando o material em busca do sustento próprio ou para toda a família.

Agora, a expectativa bate à porta mais uma vez. Willian Geraldo de Jesus, de 38 anos, narrou que cresceu ali no lixão. Quando era criança, após a separação dos pais, foi entregue à avó paterna que trabalhava como catadora. Ali, começou a acompanhar a familiar e ficou até hoje, onde se dedica para sustentar, ainda, a mulher e os cinco filhos, um deles, recém-nascido.

“Pra (sic) mim é uma alegria imensa ouvir esse projeto da Prefeitura, vai trazer mais dignidade, mais conforto e sustentabilidade pro meio ambiente”, comentou.

Outra expectativa é pela melhoria nas condições do trabalho, desta vez, observando a salubridade.

“Sofremos muito preconceito porque trabalhamos ’em cima’ do lixo, agora vai mudar, espero por isso há muito tempo”, afirmou o rapaz, que começou na “catação” ainda criança.

Valdeci Rocha Araújo passou sete anos trabalhando no lixão antes de presidir a Coopunião, onde está até hoje. Um dos pontos que a cooperada torce para que saia da teoria se firme na prática é o incentivo à coleta seletiva, prática que facilita, e muito, o trabalho do catador.

“A coleta seletiva vai dar um novo olhar para o catador e, mais, fortalecer esse processo, passar mais credibilidade para a proposta. Se isso acontecer mesmo, de verdade, eu acredito que vai, será muito bom”, avaliou.

(Foto: Luiz Alves / Secom Cuiabá)

Thiago da Silva Duarte é o representante dos catadores e parabenizou o prefeito Emanuel Pinheiro pela proposta. Mas preferiu não sinalizar uma alta expectativa, mesmo depois de visitar pela primeira vez a área onde será o novo aterro e o CTR. Local mais distante do que o lixão. “Prefiro não criar muitas expectativas. Vamos esperar”, disse.

De lixão a aterro ambientalmente correto

Secretário da Limpurb, Júnior Leite (à esq.) e Pedro Maranhão (à dir.), secretário nacional de Saneamento, visitam o Ecoparque presidido por Milton Pilão (centro) .(Foto: Luiz Alves / Secom Cuiabá)

O aterro de Cuiabá, chamado por muitos de lixão, foi criado em 1992, mas entrou em operação em 1997. Naquela época, 200 toneladas de lixo eram descartadas diariamente, hoje, esse número quintuplicou e chega a 1 mil toneladas. “Apenas 16% disso é reciclado”, afirmou Emanuel Pinheiro.

Para mudar essa realidade, a Prefeitura de Cuiabá realizou uma licitação e a vencedora foi a empresa Orizon Valorização de Resíduo, que fará um investimento de R$ 81 milhões. No ecoparque será feita a destinação final ambientalmente correta, com tratamento dos efluentes protegendo o lençol freático, redução da emissão de gases do efeito estufa e geração de créditos de carbono, além de transformação do resíduo em energia e materiais renováveis.

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