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Coleta seletiva começou em Cuiabá, mas educação ambiental ainda é um desafio

Apesar de alguns locais já realizarem esse tipo de separação, há ainda muita mistura de resíduos

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Coleta seletiva começou em Cuiabá, mas educação ambiental ainda é um desafio
(Foto: Natália Araújo / O LIVRE)

A coleta seletiva foi implantada na Capital e a primeira fase do plano já está em execução. A Prefeitura de Cuiabá entregou quatro caminhões para as cooperativas que recolhem o material reciclável nos principais pontos da cidade. Agora, a educação e conscientização ambiental se fazem ainda mais necessárias e se mostram como um desafio que ainda precisa ser vencido para que a prática seja um hábito, se não de todos, ao menos de uma grande maioria.

A principal prova disso é o material reciclável encontrado em meio a tudo o que é descartado. No aterro cuiabano, catadores se espalham revirando as milhares de sacolas despejadas pelos caminhões. Rasgam uma embalagem aqui e outra acola, e então, encontram: latas de alumínio, garrafas pet, embalagens de produtos de limpeza e tetra pak, cobre, vidro, papel. Tudo que poderia ser melhor acondicionado para o descarte e posteriormente, reaproveitamento.

“Vem tudo misturado e achamos muita coisa, principalmente, material plástico”, diz José Ribamar Santos da Silva, de 51 anos, que trabalha como catador no local. “Aqui cada um cata uma coisa, eu pego plástico, outro, só papel e por aí vai. O problema é que assim [lixo todo misturado] às vezes contamina o material e fica ruim de reciclar. Se viesse separado aqui também seria bom”, afirma.

José Ribamar, conhecido como Parazinho, cata plásticos em meio ao lixo descartado pelos cuiabanos (Foto: Natália Araújo / O LIVRE)

200 toneladas por mês

Ao menos 200 toneladas de material reciclável não chegam ao aterro cuiabano mensalmente. Afinal, são direcionadas para a Cooperativa de Trabalho dos Catadores e Produtores de Materiais Recicláveis de Mato Grosso (Coopemar). A estimativa é feita pelo presidente, Wanderley Cavenaghe.

O material que chega à Coopemar passa por triagem para ser prensado e enviado para outro local ou reciclado ali mesmo na Cooperativa (Foto: Natália Araújo / O LIVRE)

Essa quantidade é resultado das coletas realizadas em pelo menos 50 condomínios e algumas empresas da cidade. Mas ainda assim, são encontrados lixos orgânicos e não recicláveis em meio ao material recolhido.

“Vamos até os condomínios, conversamos com os síndicos e eles orientam os moradores sobre como devem proceder”, explica Wanderley. “Há quem já se conscientizou e faz o descarte correto, já melhorou muito, mas há outras pessoas que ainda mandam de tudo. A conscientização ambiental é a principal necessidade para a coleta seletiva funcionar”, pontua o presidente que atua no ramo há 8 anos.

Primeiro passo dado

Em cada andar do condomínio administrado por Gapar, tem um cartaz orientativo e dois cestos para o recolhimento dos resíduos (Foto: Natália Araújo / O LIVRE)

No condomínio administrado por Gaspar Turíbio, o processo de separação dos resíduos foi iniciada há quase dois anos, e neste primeiro semestre de 2022, já foram recolhidas 2 toneladas de material reciclável, como papel, papelão e garrafas pet. O óleo também é comprado, mas por outra empresa. O restante vai para o descarte comum.

Turíbio explica que em cada andar foi anexado um cartaz orientativo aos moradores sobre como proceder com a separação. Também foram colocados dois cestos, um para o material orgânico e outro para o que vai ser reaproveitado.

O primeiro recolhimento é feito pelos funcionários do prédio que realizam uma separação prévia antes da empresa buscar os resíduos.

“O material é pesado e o valor gerado é depositado em uma conta bancária especifica. No final do ano, o montante é dividido entre os moradores do condomínio (50%), funcionários (30%) e o restante fica com a empresa de reciclagem”, conta Turíbio.

Após o recolhimento, o material passa por uma triagem ainda no condomínio (Foto: Natália Araújo / O LIVRE)

O síndico confirma que muitas pessoas ainda se mostram relutantes. Um dos principais motivos é o direcionamento para o aterro, pelo poder público. Não há uma coleta como é feito com o lixo comum, comenta Turíbio.

“A reciclagem é importante, aos poucos estão sendo buscadas as soluções para essa questão tão séria. Mas ainda é preciso incentivar a educação ambiental”, reforça.

Coleta facilitada

O argumento quanto a necessidade do fortalecimento de uma conscientização ambiental é reforçado também por Luciana Trombim, que atua na área de estratégia e pessoas da Federação da Indústria de Mato Grosso (Fiemt).

Há dois anos, em casa, Luciana começou a realização de práticas sustentáveis, dentre elas, a coleta seletiva. O material é recolhido por uma empresa contratada pelo condomínio onde ela mora.

“Em casa eu deixo os reciclados em separado e faço compostagem com o material orgânico. É necessário mais educação e consciência ambiental, é preciso mudar os hábitos”, destaca.

Luciana agora conta com um ecoponto no local de trabalho também (Foto: Luana Daubian / Fiemt)

Agora, nos últimos meses, Luciana passou a contar com mais um local de descarte correto: o ecoponto da Fiemt. O local já recolheu mais de 1,5 tonelada de material e vai continuar disponível até setembro deste ano.

“Facilitou muito a doação, é uma ótima contribuição para o processo e fortalece o exemplo porque as pessoas veem as outras fazendo e se interessam em fazer também”, diz. Isso, inclusive, é vivenciado em casa, a filha de 4 anos já se inspira na mãe e faz a separação.

Para incentivar a coleta seletiva, Luciana acredita que seria importante instalar mais ecopontos nos bairros e em pontos estratégicos da cidade.

Outra ideia é promover incentivos financeiros e também instituir multas para que as pessoas se sintam mais interessadas em aderir ao processo de coleta seletiva.

“Seria uma multa para quem não se adequar. Já os incentivos poderiam ser por meio de parcerias que promovessem descontos na energia, na água”, propõe.

Adesão às causas

Pedro e a esposa resgataram duas gatinhas e descobriram o projeto Tampatinhas que ajuda animais vulneráveis, por meio da venda de tampinhas de plástico. (Foto: Acervo pessoal)

Já o gerente de economia da Fiemt, Pedro Máximo, acredita que seria importante divulgar melhor o destino do material coletado.

Como por exemplo com os resíduos juntados nos ecopontos da Fiemt e do Comper, no Jardim Itália. Cada tipo de material é direcionado para um tipo de causa. Foi aqui que Pedro viu mais um estímulo para arrecadar e doar.

Há aproximadamente dois anos, o economista já realizava a coleta seletiva em casa. Prática adotada no condomínio onde reside. Mas nos últimos dias, viu uma nova motivação.

Ligado à causa animal, após resgatar duas gatinhas, descobriu o projeto Tampatinhas, cuja base é a arrecadação de tampinhas plásticas que serão vendidas e a renda é revertida para os cuidados com os animais vulneráveis.

“Virou um hábito para mim, é uma ação muito simples e ainda estou ajudando uma causa”, frisa.

Processo iniciado

O secretário da Empresa Cuiabana de Limpeza Urbana (Limpurb), Júnior Leite, frisa que a educação ambiental é fundamental para que a coleta seletiva dê certo.

O gestor lembra que a implantação da coleta seletiva contará com três fases e, nesses dois primeiros momentos, de julho a agosto, a conscientização da população ficará a cargo das cooperativas que atuam na reciclagem do material recolhido.

Caminhões foram entregues na quarta-feira (6) (Foto: Luiz Alves / Secom)

A primeira fase iniciou nesta semana, com a reestruturação e auxílio das cooperativas, por meio da distribuição dos caminhões que auxiliarão na logística da coleta que já é realizada, em empresas e ecopontos.

A segunda etapa será realizada a partir de setembro, quando serão instalados ecopontos, pela Prefeitura em parceria com as cooperativas. Primeiramente, serão 12 ecopontos, três em cada região da cidade. A estimativa é que, até o final da gestão de Emanuel Pinheiro, sejam 50 ecopontos espalhados por Cuiabá.

Secretário Júnior Leite frisa que educação ambiental é fundamental para a coleta seletiva funcionar (Foto: Luiz Alves / Secom)

“O cidadão levará o material até ali. Já será resultado de um trabalho de educação ambiental, por parte das cooperativas, que visitarão empresas, condomínios, para dar a orientação sobre o processo”, explica o secretário.

Júnior Leite pontua ainda que na fase três será implantada a coleta seletiva nos bairros, mas de forma gradativa. Nesse momento também serão realizadas ações de conscientização nos órgãos públicos e nas empresas. A estimativa é que essa última etapa se inicie em dezembro deste ano.

“Encerraremos o ciclo de fases de 1 a 3 para que possamos ter efetivamente a coleta seletiva na nossa cidade. Isso caminha a passos largos e não faremos nada disso sem educação ambiental”, conclui.

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