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Arquitetura, história e fé: conheça as igrejas históricas de Cuiabá

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Arquitetura, história e fé: conheça as igrejas históricas de Cuiabá

Não precisa ser católico e nem religioso para se interessar pelas históricas igrejas de Cuiabá. Os monumentos encantam os apaixonados pela arquitetura e contam muitas histórias da cidade, cercadas de lendas que despertam a curiosidade do povo. Elas também recebem festas típicas, são importantes pontos turísticos para os visitantes de Mato Grosso e a maioria tombadas como patrimônio histórico.

Para os cuiabanos de tchápa, os paus rodados devotos dos padroeiros e também para situar os gringos, o LIVRE mapeou cinco igrejas e conta suas histórias baseadas nos estudos do arquiteto e servidor público Robinson Araújo.

Ednilson Aguiar/O Livre

Catedral de Cuiaba

A história Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus do Cuiabá acompanha a trajetória de Cuiabá

Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus do Cuiabá

Localizada em frente à Praça da República, Centro Histórico de Cuiabá, a igreja acompanha a trajetória da cidade, como um marco de sua modernização. Construída em 1722, foi a partir dela que se deu todo o processo de urbanização, pois, na época, fundar uma vila era construir uma igreja.

Conforme Cuiabá crescia, o poder público acreditava que a igreja também deveria modificar-se para se igualar a sociedade. Assim, ela passou por várias reformas e ganhou uma segunda torre, deixando de ser Matriz para se tornar Catedral. Mas um factoide de Dom Orlando Chaves de que suas paredes estavam desmoronando, a derrubou totalmente com duas descargas de dinamite, em 14 de agosto de 1968.

É a partir de sua reconstrução que a Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus do Cuiabá passa a ser o que ela é hoje, com suas características modernas e as duas torres com um relógio em cada. Nela, encontra-se imagens do Padroeiro, da Imaculada Conceição e o crucifixo da cátedra do bispo, originais do século XVIII.

Sua estrutura é composta por três altares e três andares: o térreo da igreja, onde as missas são realizadas, com capacidade para 800 pessoas sentadas, no primeiro andar funciona uma lavanderia, no segundo salas de reuniões, e no terceiro e quarto andar funcionam a casa paroquial.

Em uma cripta localizada no subsolo da igreja, como acesso livre para visitação, estão enterradas grandes autoridades da igreja católica de Mato Grosso como os fundadores de Cuiabá Pascoal Moreira Cabral e Miguel Sutil de Oliveira, além dos arcebispos Dom Orlando Chaves, Dom Carlos Luiz DAmau e o cuiabano Dom Francisco de Aquino Corrêa.

Na Catedral são realizadas missas às segundas, às 18h30, de terça à sábado, às 6h30 e 18h30 e no domingo são três horários, às 7h, 9h, 17h e 19h.

Ednilson Aguiar/O Livre

Fé e encontro nas escadarias da Igreja do Rosário (Ednilson Aguiar/O Livre)

Fé e encontro nas escadarias da Igreja do Rosário 

Igreja do Rosário e São Benedito

Tradicional para os festeiros, uma das igrejas mais famosas de Cuiabá é visível para quem passa pelo cruzamento da Coronel Escolástico e a antiga Prainha. Localizada em frente ao local conhecido como Ilha da Banana, antiga Lavanda de Ouro, onde um garimpo era explorado, é também uma das mais antigas da capital.

Em 1727, a expressiva riqueza de ouro na região formava um arraial no local, onde surgiram duas Igrejas e três ruas mal alinhadas. Nesse contexto, a Igreja do Rosário foi construída por braços negros devotos de São Benedito, o padroeiro da cor que deu o nome pela qual ela é conhecida. Não se sabe a data exata de sua construção, mas é certo que a Igreja do Rosário já passou por reformas que alteram muito seu estilo.

Em 1928, durante o governo de Mário Correia da Costa, sua fachada colonial foi substituída por uma torre central e pontiaguda de características neogóticas. Essa reforma teria como inspiração a construção de outros templos, como a Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora e a igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho.

A paróquia de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito foi criada em 1945. Em 1960, a capela de São Benedito foi ampliada e uma intervenção paisagística foi realizada no governo de Pedro Pedrossian, em 1968. Mesmo com suas recorrentes modificações, ela foi tombada patrimônio histórico nacional devido seu valor histórico, em 1975, pelo antigo SPHAN.

Na década de 80, a igreja passa por restauração para resgatar sua fachada original. Nela, todos os anos a celebração da fé ao Santo Padroeiro de Cuiabá mobiliza o povo cuiabano em missas da madrugada, procissões, apresentações culturais, shows e feira gastronômica com comidas típicas regionais.

Na igreja são realizadas missas nas terças-feiras, às 5h e 19h, nas quartas, quintas e primeira sextas do mês, às 19h, e no domingo às 8h e 19h.

Ednilson Aguiar/O Livre

são gonçalo

Ingreja São Gonçalo, onde a imagem da Santíssima Virgem teria vertido lágrimas dos olhos

Igreja São Gonçalo do Porto

Um dos templos religiosos mais frequentados da cidade foi construído na antiga Rua Larga, em 1782, pelo Dr. José Carlos Pereira, terceiro Juiz de Fora das Minas de Cuiabá, e concluída com rapidez, pois seu idealizador estava prestes a deixar o cargo. No dia 15 de novembro, data que dá o atual nome da rua, uma pomposa solenidade caracteriza sua missa inaugural, onde chega a imagem do santo, transplantada numa procissão solene da Capela de São Gonçalo Velho por via fluvial.

Durante a Guerra do Paraguai, imagens também foram transferidas do Forte de Coimbra e Corumbá via Cais do Porto de Cuiabá, sob grande comoção popular. O episódio gerou a lenda de que a imagem da Santíssima Virgem havia vertido lágrimas dos olhos.

A igreja passou por várias reformas até chegar a sua atual arquitetura, definida a partir de 1894 com a chegada da Missão dos Salesianos de São João Bosco. Ela traz consigo o Padre José Solari, escultor, coreógrafo, pintor, cantor e cientista, responsável pela remodelação da Igreja, dando-lhe o atual estilo neoclássico. Ao padre artista também foi atribuída a autoria das imagens de São João, São Marcos, São Lucas e São Mateus, localizadas no templo.

Em 1916, é incorporada a Igreja o último adereço, a imagem do Cristo Redentor, inaugurada em 17 de dezembro, com missa solene do então Bispo Auxiliar Dom Aquino Corrêa.

As missas na igreja são realizadas de segunda a sexta, às 19h, no sábado, às 17h, e no domingo são quatro horários, 06h30, 08h30, 17h e 19.

Ednilson Aguiar/O Livre

 Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho.

Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, uma tentativa de cópia da Catedral de Notre-Dame

Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho

Lá do alto, a Igreja Bom Despacho pode ser vista atrás do matagal do famoso Morro do Seminário. Ela é resultado de uma tentativa de cópia da Catedral de Notre-Dame de Paris. Foi edificada em 1918, sob a antiga Capela do Bom Despacho, e construída pelo Conde Manoir, falecido durante a execução da obra.

Com traços da arquitetura neogótica, a fachada original de tijolos expostos tem uma história curiosa. Ao contrário dos que imaginam ser proposital, Robinson Araújo conta que sua estética era resultado de uma obra paralisada por denúncias de utilização de verbas públicas para Igreja Católica, durante o governo de Dom Aquino – onde também residia quando capela. Sua fachada externa e ornamentação interior só foram concluídas durante o governo de Blairo Maggi, perdendo a característica.

Em 2004, o templo que estava há aproximadamente uma década fechado passou por restauração, resgatando sua pintura original, vitrais, ornamentos, pisos e instalações. Em 2014, foram reconstruídas as figuras do ápice das torres, trabalhos de reboco e pintura foram feitos, e uma nova cobertura de telhas metálicas substituíram as de cerâmica, descaracterizando o imóvel de forma significativa.

As  missas no local são realizadas às segundas-feiras, às 7h e 18h30, de terça à sexta, às 7h e 16h, aos sábados, às 7h, e aos domingos, às 8h, 11h e 17h.

Ednilson Aguiar/Olivre

 Igreja Nossa Senhora da Boa Morte

Nossa Senhora da Boa Morte está localizada ao lado de cemitério

Igreja Nossa Senhora da Boa Morte

O nome já a localizada: ao lado do Cemitério Municipal, a Igreja Nossa Senhora da Boa Morte é a que mais conserva suas características originais. Antiga vizinha de Marechal Deodoro e propriedade de uma irmandade de homens responsável por sua construção, realizada em 1810, a igreja é feita em taipa e pilão, método conhecido como “terra crua”. Já seu altar foi concluído em 1864, através da arrecadação da irmandade.

Originalmente, a igreja possuía uma única torre que ruiu e sua reforma resultou em formas neoclássicas, sem que se alterasse o interior barroco. Na década de 40, o prédio passou por nova reforma com a inserção o arco cruzeiro e uma escultura em relevo de Nossa Senhora, ladeada por anjos, em estilo beneditino. Já na década de 50, as alterações mais significativas foi a mudança dos telhados.

Em 2010, a igreja passou por processo de restauração, no qual o Arcebispo Metropolitano de Cuiabá, Dom Milton, exclamou o ressurgimento da Igreja para o Senhor. Porém, incompleta devido à escassez de recursos, restou a restauração de dois sinos, além do jardim e da praça ao entorno.

Ednilson Aguiar/O Livre

Nosso senhor dos passos

História da Igreja Nosso Senhor dos Passos é cercada de lendas

Igreja Nosso Senhor dos Passos

A história da Igreja Nosso Senhor dos Passos é marcada por lendas e crenças religiosas que permeiam o imaginário cuiabano. Sua construção data 1792 e há quem diga que ela se ergueu como consequência da fé de um devoto – ou da insatisfação de vários fiéis do padroeiro.

Segundo a versão que conta um milagre, o cristão chamado Manoel Homem havia sido enterrado vivo no local. Para se livrar da situação, o fiel fez a promessa de construir a igreja. Mas há quem diga que, em 1790, o templo já existia como um oratório e foi construído por devotos de Nosso Senhor dos Passos que buscavam uma imagem e um local para ser venerar o santo.

Localizada no cruzamento da Avenida Voluntários da Pátria com a Rua 7 de setembro, antigamente conhecida como Rua do Oratório, o tempo está curiosamente de costas para a Avenida Prainha, porque a via não tinha importância na época. O local ainda ambienta a lenda de uma figura misteriosa, um tal de Toto Onça, que vivia na torre da igreja, considerado notre-dame cuiabano.

Sua primeira alteração ocorreu em 1898, quando a capela foi ampliada pelo Bispo Dom Carlos Luis D’amour. A última reforma que a igreja passou foi em 2005, reaberta no ano seguinte. A Igreja Senhor dos Passos é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio histórico.

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