Depois de duas mulheres morrerem após serem operadas pelo programa Plástica Para Todos, além de outros casos de internação devido a complicações nos procedimentos cirúrgicos, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso (MPE) instaurou um procedimento para apurar possíveis irregularidades.
Conforme o documento assinado pelo promotor do Núcleo de Cidadania e Defesa do Consumidor, Ezequiel Borges de Campos, algumas irregularidades já foram apontadas. Dentre elas, o promotor citou uma possível incapacidade estrutural, uma vez que houve “execução de procedimentos múltiplos em unidade hospitalar sem Centro de Recuperação Pós-Anestésico”.
O Ministério Público quer apurar ainda se houve falha no atendimento dado às pacientes, irregularidades com o alvará sanitário, falta de notificações sobre eventuais infecções hospitalares e possível propaganda enganosa.
Para a investigação, o promotor também notificou o Conselho Regional de Medicina (CRM-MT), que abriu sindicância para apurar as duas mortes registradas pelo programa. O Hospital Militar de Mato Grosso, onde foram feitas as cirurgias em questão, também foi notificado. O objetivo é ter acesso a todos os dados relativos às pacientes e procedimentos realizados.
Os casos
A primeira morte de paciente foi registrada em maio deste ano, poucos meses após o Plástica para Todos começar a atuar em Mato Grosso. A vítima foi a esteticista Edléia Daniele Ferreira Lira, que se submeteu a uma “lipoescultura” e redução dos seios. Conforme o boletim médico, a mulher, que tinha 33 anos, sofreu choque hemorrágico, chegou a ser reanimada e encaminhada para o Hospital Sotrauma, mas não resistiu. Ela morreu no dia seguinte.
Quase dois meses depois, dois novos casos de intercorrência foram noticiados em primeira mão pelo LIVRE. As pacientes também foram operadas no Hospital Militar, e precisaram ser encaminhadas para outras unidades médicas. Conforme o programa informou à época, elas continuaram sendo acompanhadas por médicos do Plástica Para Todos.
Em novembro, Ivone Alves de Almeida, de 67 anos, servidora pública aposentada, morreu ao se submeter a uma cirurgia de lipoaspiração. Segundo o Plástica para Todos e o Hospital Militar, a causa da morte teria sido embolia pulmonar, “causa grave mais comum decorrente de procedimentos cirúrgicos”.
Por meio de nota, a empresa e o hospital informaram que foram realizados todos os protocolos prévios e pós-cirúrgicos, sendo que a idosa estaria apta a passar pelo procedimento de lipoaspiração. Além disso, asseguraram que a cirurgia transcorreu dentro da “mais absoluta normalidade”.
Investigações
Após a primeira morte, o Conselho Regional de Medicina (CRM) já tinha aberto sindicância para apurar as responsabilidades dos profissionais, que foram acusados de negligência com a esteticista. Em novembro, a sindicância foi prorrogada por mais seis meses, conforme a assessoria do órgão. Os outros dois casos também estão sob investigação do Conselho.
No mês de julho, após o surgimento dos dois novos casos de intercorrências, o escritório do programa, localizado no edifício Santa Rosa Tower, em Cuiabá, foi interditado pelo CRM. Já em setembro, médicos que atuam no programa também sofreram com a ação, ficando impedidos de atuarem em qualquer escritório de Mato Grosso. A justificativa, segundo o órgão fiscalizador, é a “preservação da dignidade do atendimento à população e a segurança do ato médico”. Semanas depois, voltaram a ser liberados.
O Hospital Militar, onde foram feitos todos os procedimentos, informou que a unidade é preparada para o tipo de cirurgia realizado pelas três pacientes e que havia recebido vistoria do CRM após o primeiro caso.
A Polícia Civil também investiga as circunstâncias das duas mortes relatadas.
