Ednilson Aguiar/O Livre
Governador Pedro Taques durante visita em Vila Bela
Neste domingo, 19 de março, exatamente 265 anos depois de Vila Bela da Santíssima Trindade ter sido escolhida por Portugal como a primeira capital da Capitania de Mato Grosso, a cidade volta a se tornar sede do Estado. O ato, simbólico, acontece pela segunda vez, desde que o governador Pedro Taques, no ano passado, sancionou a lei 10.377, que instituiu “programação comemorativa e educativa para alusão do município como primeira capital” do Estado, conforme o texto da lei.
Em 1752, os portugueses descobriram ouro e outros minerais às margens do rio Guaporé, que banha Vila Bela da Santíssima Trindade. Com medo do avanço de colonizadores espanhóis na América do Sul, logo se apressaram para povoar o município, que fica aos pés da Serra de Ricardo Franco, uma das mais belas paisagens do Estado. Assim se fez, mas, com o tempo, a ausência de rotas comerciais, a presença de doenças e o isolamento obrigou o reino a transferir, em 1835, a capital do Estado para Cuiabá. Os moradores mais ricos foram junto, abandonando a cidade aos cuidados dos escravos. Até hoje, a cultura dos quilombolas toma conta do município, com manifestações artísticas como o ritual do Congo, uma mistura de dança e música que homenageia São Benedito todos os anos durante o mês de julho, e o Chorado, que representa o sofrimento das famílias de escravos massacrados em praça pública.
Por conta das chuvas que deixaram escorregadia a pista de grama do aeroporto de Vila Bela da Santíssima Trindade, o governador Pedro Taques e a comitiva que o acompanhou tiveram de aterrissar no município de Pontes e Lacerda. Na manhã de hoje, por volta das 8h30, Taques chegou à antiga capital do Estado pela BR-174 na companhia dos secretários Wilson Santos, de Cidades, Rogers Jarbas, de Segurança Pública, Airton Benedito Siqueira Junior, de Justiça e Direitos Humanos, Evandro Lesco, secretário-chefe da Casa Militar, Leandro Carvalho, de Cultura, e Marco Marrafon, de Educação.
Na noite anterior, um show da dupla sertaneja Munhoz e Mariano animou a praça central do município com ares de comício. A cada quinze minutos, os nomes dos deputados Wancley (PV), Leonardo (PSD) e Mauro Savi (PSB), responsáveis pelas emendas parlamentares que custearam o evento, eram repetidos no alto-falante, e também apareciam estampados em faixas no local. O nome de Pedro Taques também ressoava pelo ambiente, embora com menos frequência, para uma plateia de cerca de 2 mil pessoas. O secretário de Turismo, Luiz Carlos Nigro, que já estava no município para divulgar melhorias na infraestrutura do acesso às cachoeiras da região e a implantação de um curso profissionalizante para guias turísticos, assistiu ao show e aproveitou para comentar sobre a presença de fazendeiros na área do Parque Estadual Serra de Ricardo Franco, que cerca o município: “O que aconteceu com os agricultores aqui foi lastimável”, disse Nigro. “Eles estavam nas áreas muito antes da criação do parque, eles nunca foram indenizados e agora estão sendo penalizados, mas o governador Pedro Taques está cuidando disso”.
Por volta das 9h30, a comitiva se reuniu na frente do Palácio dos Capitães-Generais para o hasteamento da bandeira nacional e a apresentação de uma orquestra de música boliviana na presença de autoridades do município de San Ignacio de Velasco. Sob o forte cheiro do gramado usado na noite anterior como mictório por quem assistia ao show, secretários e o governador discursaram e depois seguiram para um café da manhã com comidas típicas no palácio. O evento seguiu até as 14h30 e incluiu uma missa, a inauguração da revitalização da cobertura das ruínas da catedral matriz do período colonial (obra de R$ 511 mil), a apresentação da banda do 2º Batalhão de Fronteira do Exército de Cáceres e da Guarda-Mirim local, além do lançamento de um convênio de uma ponte de concreto de 55 metros sobre o rio Capivari. Às 12 horas, o governador recebeu cerca de 25 prefeitos e vereadores da região, que aproveitaram o evento para levar a Taques as demandas de seus municípios. Na sequência a comitiva participou de um almoço público com moradores e partiu de volta a Cuiabá.
De acordo com o secretário municipal de Turismo, Cultura e Igualdade Racial, Francisco Robin Profeta Vieira (DEM), o Robinho Profeta, de 41 anos, o evento este ano custou R$ 331.640. “Foram 18.422 de contrapartida do município, o resto veio de emendas do deputado Wancley, de R$ 100 mil, do deputado Mauro Savi, R$ 63.218 e do deputado Dr. Leonardo, de R$ 50 mil, além de R$ 100 mil das Casa Civil e da Secretaria Estadual de Cultura”, disse.
O governador prometeu para março do ano que vem a conclusão do Congódromo, um centro cultural para homenagear o ritual do Congo. Também disse que vai reformar a praça central de Vila Bela da Santíssima Trindade, tornando-a mais acessível a cadeirantes, por exemplo. Questionado pelo LIVRE sobre em que estágio está o processo que bloqueou bens de proprietários de fazendas na área do parque da Serra de Ricardo Franco – entre eles o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha – o governador respondeu: “Não faço nem ideia, vou dar uma perguntada para o procurador-geral do Estado”, disse. “Eu já mexi muito com processo mas hoje não mexo mais. A unidade de conservação da Serra de Ricardo Franco foi criada 20 anos atrás no governo de Dante de Oliveira e infelizmente em 20 anos não fizeram absolutamente nada. A nossa administração, através do secretário de Meio Ambiente Carlos Fávaro, está tomando as providências. Sobre em que pé está o processo eu confesso que não sei porque nunca vi o processo”.