“Desistir? Jamais. Estava preparado fisicamente e consciente das dificuldades que poderia enfrentar. Além disso, a torcida das pessoas me fez seguir em frente”.

Subir as montanhas dos Pirineus de bicicleta durante sete dias no menor tempo possível. Este é o objetivo da prova Haute Route e era também o desafio do ciclista Ulisses Nunes Abbud, de 33 anos. O atleta, que vive em São José do Rio Preto (SP), não só chegou lá como conseguiu o melhor tempo entre brasileiros. Determinado, Ulisses gosta de dar o melhor de si em tudo o que faz. Com o ciclismo não seria diferente. O que começou como uma alternativa à corrida, depois de uma lesão no joelho, acabou virando seu esporte favorito. Aqui, Ulisses fala um pouco do seu caminho rumo ao topo.

Divulgação

Bike 1

A prova
O que é Haute Route? 

É uma volta composta por sete etapas, aberta a todos os ciclistas do mundo, que reúne somente estágios de montanha. A cada dia, subimos um pouco mais os Pirineus, na Europa.

Como é a competição?
São seis etapas de 150km por dia, em média, mais uma parte de escalada de 18km. No total, são cerca de 910 quilômetros percorridos em sete dias.

Como o vencedor é escolhido? Qual foi sua colocação?
Vence quem tiver a menor soma de tempo no final das etapas. Finalizei como vice-campeão na categoria de 18 a 39 anos e fui o quarto colocado no quadro geral.

Quais dificuldades enfrentou?
Tive dois pneus furados, em etapas diferentes.

Você chegou a pensar em desistir durante a prova? 
Jamais. Havia me preparado muito e isso me dava segurança. Estava consciente dos imprevistos, como pneus furados. A torcida dos amigos, familiares e também de pessoas que eu não conhecia me fortaleciam para buscar sempre o melhor.
 
Ciclismo
Quais os tipos de ciclismo?
Os principais são estrada, contrarrelógio (estrada pavimentada com bicicleta específica), pista (realizado dentro de velódromos), mountain bike (em estradas de terra) e BMX (pista de terra). Eu participo de competições nas modalidades mountain bike e estrada.

Quais as principais provas de ciclismo no mundo?
São as grandes voltas: Tour de France, Giro de Itália e a Vuelta a Espanha.

Qual a diferença do Haute Route, que você competiu, para o Tour de France? 
O Tour de France é uma grande volta, composta por 21 etapas, com vagas somente para equipes de um ranking mundial ou convidadas, só para profissionais.

O Tour de France, mais conhecido, é para todos os tipos de ciclistas ou para um tipo específico? 
É para todo tipo de ciclista, desde que de altíssimo rendimento. Porém, é feito para que um atleta com especialidade em escalada (montanha) vença, já que é sempre decidido nesse tipo de etapa.

Quais os prêmios que um atleta leva ao ganhar um Tour de France ou mesmo o Haute Route?
No Tour de France, o prêmio é uma quantia em dinheiro. No Haute Route, a premiação varia a cada ano. Este ano, foram equipamentos para as bikes.

Por que o esporte não é valorizado no Brasil?
Acho que é mais por uma questão cultural do que financeira. A Colômbia é uma grande potência no ciclismo, por exemplo. No Brasil, além de ser difícil algum esporte bater o futebol, não há uma porta de entrada, como a cultura de locomover-se com bicicletas.

Como é a renda dos ciclistas que vivem do esporte: recebem salário de equipes ou do governo?
Fora do país eles recebem salários das equipes e dos patrocinadores. No Brasil, vive-se através de bolsas do governo e patrocinadores. 

Quem é o maior ciclista da atualidade?
O nome da vez é Chris Froome, um queniano naturalizado inglês. 

Além de participar das grandes provas, o ciclista também tem como objetivo participar das Olimpíadas?
Sim. Porém, para um ciclo olímpico é necessário ser jovem. Então, os maiores ciclistas acabam optando por outras provas, que não dependem da idade e favorecem apenas a resistência.

Ainda são comuns casos de doping como o do Lance Armstrong?
Sim, mas infelizmente o doping existe em todo esporte de alto rendimento. Sou totalmente contra o doping ou qualquer tipo de trapaça. Para dar oportunidade igual a todos os atletas é preciso investir na educação e conscientização das categorias de base dos esportes, já que a tecnologia do doping está sempre à frente da do antidoping.
 

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Bike 2

Vida de atleta
Como se interessou pelo ciclismo?
Tive uma lesão no joelho na época em que corria. Fui buscar outro esporte que fosse igualmente bom para o corpo, mas sem impacto na articulação. Comecei comprando uma mountain bike e me encontrei no ciclismo.

Você tem um treinador?
Sim. O Paulo Fernandes é meu coach e me prepara física e mentalmente para as competições.

Você pedala todos os dias? O que leva na bike?
Treino seis dias por semana. Saio com o GPS, água e comida, além de alguns equipamentos. 

O que faz para evitar lesões?
No fim do ano, planejo o ano seguinte. A partir daí, montamos um cronograma para, na data prevista, estar no pico da forma física e mental. Isso faz com que eu evolua gradualmente, preparando o corpo para aguentar a carga de treinamento e evitando lesões.

Como é sua alimentação?
Acredito que dietas não são sustentáveis a longo prazo, então, passei por um processo de reeducação alimentar. Antes de uma prova, conto as calorias ingeridas e a qualidade dos nutrientes, para estar no peso ideal. Mas, no geral, não restrinjo nenhum tipo de alimento, apenas uso o bom senso.  

Quem é seu ídolo no esporte?
Sempre fui fã do Michael Schumacher. No ciclismo, apesar dos escândalos, gosto do Lance Armstrong.
 
Palavras de especialista
Qual conselho daria para quem pedala?
Use equipamento até para ir à padaria. Busque ser visto pelos carros, utilizando roupas chamativas e iluminação adequada.

Por que um iniciante precisa de um treinador?
Porque um treinador sabe o caminho mais eficiente. Há muita técnica envolvida no ciclismo e começar com a orientação certa fará com que tenha uma evolução rápida, sem lesões. 

Quantas vezes na semana uma pessoa deve andar de bicicleta para sentir mudanças na forma física?
Se começar com três horas na semana, intercaladas em dois ou três dias, já vai notar uma diferença. O importante é a continuidade e a frequência, além do cuidado com a alimentação.  

O que faz quando tem preguiça de pedalar?
Pedalo menos, mas venço a preguiça.

O que te motiva?
A busca pelo autoconhecimento, por meio da exploração dos nossos limites.

Qual o segredo do sucesso de um vencedor?
Para mim, determinação e persistência.

Qual o seu próximo objetivo?
Para este ano, o L’Etape Brasil, em Cunha (SP), no dia 27 de setembro. Em 2018, pretendo fazer novamente o Haute Route.

Assinatura Debora Nunes

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