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Vicente Lenílson: “Só vou acreditar quando a medalha estiver comigo”

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Vicente Lenílson: “Só vou acreditar quando a medalha estiver comigo”

O doping foi ao mesmo tempo vilão e herói na trajetória de Vicente Lenílson. Vilão porque a substância criminosa, mesmo para quem nunca a provou – “Vi alguns usando, mas nunca tive contato” -, o fez perder muito dinheiro. Herói porque acaba de trazer uma medalha olímpica, e para alguém que surgiu do nada, isso significa muito.

Vicente é um potiguar aguerrido que nasceu em uma família  tradicionalmente pobre, religiosa e honesta, como tantas que há no Brasil. Depois de perder o emprego como mecânico de motos em Currais Novos, no Rio Grande do Norte, arrumou o patrocínio de um coveiro, passou a treinar com disciplina, mudou-se para Mato Grosso e, até 25 de janeiro passado, tinha conquistado três respeitáveis medalhas como velocista – prata na Olimpíada de Sidney (2000), prata no Mundial de Saint-Denis (2003) e ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro (2007). Há três semanas, contudo, veio a quarta.

O Comitê Olímpico Internacional (COI), naquela quarta-feira, divulgou em seu site a notícia de que um dos quatro atletas da equipe jamaicana de revezamento 4x100m, com quem o Brasil havia disputado a prova em 2008, nos Jogos de Pequim, tinha sido reprovado no teste de urina. Havia consumido metilhexanamina, uma substância estimulante derivada do gerânio.

Na corrida, Nesta Carter, que agora terá de devolver medalha e diploma, assim como todos os outros membros da equipe da Jamaica, formou time ao lado de Michael Frater, Asafa Powell e do fenômeno Usain Bolt. Na ocasião, ganharam o ouro, deixando nos degraus mais baixos do pódio Trinidad e Tobago e Japão. O quarteto brasileiro – que na verdade é sexteto, contando os dois reservas – composto por Vicente, Bruno Lins, José Carlos Moreira e Sandro Viana ficou em quarto lugar.

Com a notícia do doping de Carter, os jamaicanos perderam o ouro, que sobrou para Trinidad e Tobago. Os japoneses alcançaram a prata e, para os brasileiros, veio o bronze. Um bronze que, embora repercutido na imprensa nos últimos dias, ainda não chegou. A novidade é que aterrissará em Cuiabá em muito breve, se bem que Vicente ainda desconfia: “Só acredito quando estiver no pescoço”. A desconfiança vem de 2005, quando o atleta norte-americano Tim Montgomery confessou ter consumido substâncias proibidas nos Jogos de Sidney, mas nem assim a equipe brasileira conseguiu o ouro que lhe era de direito.

Depois da recente notícia do COI, Vicente e seus ex-parceiros de competição voltaram a se falar com mais frequência em um grupo no WhatsApp. Fizeram a conta de quanto dinheiro perderam com o doping do jamaicano e, entre patrocínios e bonificações, traçaram o prejuízo: R$ 6 milhões – fora a emoção que não sentiram no pódio, o hino que não cantaram, os rostos que não foram estampados nas telas do mundo. Agora provavelmente vão receber a medalha pelo correio.

Hoje Vicente mantém, com ajuda da Caixa Econômica Federal e do Exército brasileiro (ele também é 3º sargento), o Instituto Vicente Lenílson de atletismo. De uma sala no Instituto Cuiabano de Educação (ICE), ele comanda a instituição que busca transformar crianças e adolescentes em atletas olímpicos. Nesta entrevista em vídeo, Vicente conta como tudo aconteceu. Confira:

 

 

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