Política

Todo mundo só fala em voto útil. Você sabe por quê?

A duas semanas da votação para novos mandatos, o conceito, que não é novo, mas ganhou força agora, é foco da atenção dos candidatos

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Todo mundo só fala em voto útil. Você sabe por quê?

A campanha eleitoral 2022 ainda está a duas semanas do fim, no primeiro turno, mas os candidatos a presidente já começaram a correr atrás, ou a reclamar, das estimativas do voto útil. 

O conceito não é novo e o fenômeno político ocorre em todas as eleições brasileiras. O destaque que ele ganhou neste ano, contudo, tem a ver como o momento político do país em mais de um aspecto. 

Estratégia ou falta de aptidão política?

Conforme o professor e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Ricardo Ismael, o voto útil, também conhecido como voto estratégico ou voto tático, é contado do eleitor que dá o seu voto para o candidato que está na frente nas pesquisas. 

“A questão não é nova, já aconteceu em eleições passadas. O eleitor, ao longo do processo, vai indicando sua preferência [que aparece nas pesquisas]. Se durante esse tempo, o candidato não decolou ou por qualquer outro motivo, o eleitor faz a mudança para outro candidato, para se sentir representado”, explica. 

Segundo o pesquisador, esse voto é uma característica das campanhas aos cargos executivos, neste ano disputados para governos e a Presidência da República.  

A mudança de voto ocorreria mais num perfil de eleitor que “não quer jogar voto fora” e escolhe votar nos candidatos na frente nas pesquisas, ou seja, com mais chances reais de  vencer a corrida. 

Outro uso da utilidade do voto está em tentar formar um eventual segundo turno nas disputas. A prática da estratégia seria mais aplicada a esse perfil de eleitor. Ele votaria em candidatos com baixa pontuação nas pesquisas para evitar que um concorrente indesejado ganhe no primeiro turno e chegue mais forte ao segundo. 

“A ideia de voto útil é que o voto que seria descarregado sobre um candidato pode ir para outro, e isso realmente altera e até falseia o resultado das eleições. Neste caso, ao invés do eleitor votar naquele com quem mais se identifica, ele vota na segunda ou na terceira opção”, comenta. 

Por que se popularizou em 2022? 

A polarização entre dois candidatos, como vem sendo registrada desde a pré-campanha entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL) – que estão nos primeiros lugares nas pesquisas de intenção de voto – contribuiu para o maior peso do voto útil. 

Segundo o professor Ricardo Ismael, o embate entre figuras públicas tem a ver com a personalização mais cristalizada da política. Seja a favor ou contra um candidato, o leque de sentimentos está vinculado a imagem do político.  

Isso também ajudaria a explicar a tensão entre ambos e seus simpatizantes e os níveis de rejeição. 

“Quando temos uma eleição já polarizada no primeiro turno, um lado vai buscar fechar a concorrência já no primeiro, tendo chances reais para isso, e outro vai ser ‘desidratado’. O eleitor vai buscar um candidato que tenha ideias semelhantes às suas. Mas essa migração é perigosa porque as pesquisas mostram momentos e, às vezes, nas vésperas da votação, há mudanças”, comenta. 

A concentração dos eleitores na figura do candidato ocorre em detrimento dos partidos políticos. O cientista diz que a falta de conteúdo programático e multipartidarismo no país leva ao esvaziamento das agendas políticas. 

Candidatos não se identificam com seus grupos políticos, o eleitor não se identifica com os partidos e se voltam para a pessoa vista como proeminente de um lado ou de outro. 

“É natural que dentro de um período de quatro anos haja certa volatilidade. Se o eleitor votou em alguém há quatro anos e agora está decepcionado e decidiu mudar. É normal. Mas nós temos com uma volatilidade dentro de uma mesma eleição”, afirmou. 

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