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Um grande país com maioria afrodescendente, população amigável, emprego para todos e bons salários. Era assim que os haitianos viam o Brasil em meados de 2010, diz a pesquisadora Denise Cogo, que estuda ondas migratórias e a inserção social das populações migrantes.
Naquele ano, o fluxo migratório começava a se intensificar por causa dos efeitos devastadores do terremoto que atingiu a pequena ilha caribenha e matou 300 mil pessoas. Enquanto países próximos fechavam as portas, o Brasil recebia levas de imigrantes e concedia vistos humanitários.
“A evidência do racismo à la brasileira foi um choque para os haitianos, e acho que é o principal foco que vai se evidenciar na relação com a sociedade brasileira”, diz Cogo, que também é professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “Eles não imaginavam [o racismo] porque o Brasil aparece nas entrevistas como um país negro”, completa.
Outros desencantamentos se seguiriam: dificuldade de inserção, falta de oportunidades de trabalho, poucas opções de qualificação e sub empregos. “A migração [mundial] é uma economia. O capitalismo está interessado na mão de obra estrangeira para, em geral, precarizar [o trabalho]”, diz.
Para a pesquisadora, o Brasil tem perdido a oportunidade não só de aprender a incluir socialmente outras populações, mas de aproveitar a contribuição de haitianos qualificados que não conseguem exercer suas profissões no Brasil.
“Países como os Estados Unidos fizeram programas para atrair imigrantes judeus e alemães. Se o Brasil soubesse aproveitar esses imigrantes… Mas não aproveita para isso nem para construir políticas adequadas e interculturais”.
Veja os principais trechos da entrevista: