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Por medo, mulheres não denunciam assédio em ônibus

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Por medo, mulheres não denunciam assédio em ônibus

Ednilson Aguiar/O Livre

 ônibus do transporte coletivo

A notificação de casos de abuso dentro do transporte público é mínima, mas os relatos são diversos, principalmente nas redes sociais

Quem olha os números de assédio sexual dentro do transporte coletivo de Cuiabá e Várzea Grande pode imaginar que as duas maiores cidades de Mato Grosso são das mais seguras para as mulheres. Em 2016, apenas um registro policial foi feito e, até novembro de 2017, foram somente três.

A realidade, no entanto, é bem diferente dos números. Mariana*, de 26 anos, é um dos exemplos de como este tipo de crime continua subnotificado. Ela foi perseguida por um homem dentro do transporte coletivo. Ele se aproximava dela e a “encochava” durante a viagem. “Eu pedi para ele parar e ele riu, com ar de deboche”, contou. Angustiada, a jovem tentou se afastar, mas o agressor foi no seu encalço. A situação só melhorou quando os outros passageiros afugentaram o agressor.

Na ocasião, a jovem não registrou boletim de ocorrência, mas publicou um relato em sua página pessoal na internet, onde dava pormenores do que aconteceu. Nos comentários, outras mulheres também diziam ter passado por situações parecidas. A servidora pública Fernanda Paula fez a mesma coisa: sofreu abuso, reagiu e publicou detalhes da história em uma rede social. 

Assedio transporte coletivo

“Eu estava voltando agora há pouco do serviço, cansada, cochilando no ônibus, quando sinto uma mão na minha região íntima”, escreveu a jovem, em julho deste ano. O texto teve mais de 300 compartilhamentos, mas o agressor também não foi denunciado formalmente.

A subnotificação dos casos é admitida por todos, inclusive pela própria Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT). O delegado Cláudio Alves, que é representante da Delegacia da Mulher de Várzea Grande, enumera os três principais motivos pelos quais as mulheres não denunciam: elas temem ser ridicularizadas, não conseguem identificar o agressor e se assustam com a possibilidade de serem perseguidas mais tarde.

“Isso é o tipo de coisa que acaba sendo resolvido no interior do coletivo, a vítima bate-boca com o suspeito ou os outros passageiros reagem, mas deixa aquilo passar, nada é registrado. Até porque ninguém sabe a identificação do agressor. O crime acontece, mas tem a dificuldade da denúncia”, afirmou. 

Soluções

Sem o boletim de ocorrência, os policiais têm dificuldade para investigar. Mas, na opinião de Mariana, que viveu de perto a situação desconfortável, a denúncia causa um “cansaço emocional e psicológico” e algumas vezes acaba sem muitos resultados. 

Um sistema de monitoramento interno dentro dos ônibus poderia ser um passo importante para melhorar a segurança das passageiras, sugere Cláudio Alvares. Além disso, preparar os motoristas para agir nesses casos e informar o número do Disque-Denúncia dentro dos veículos também ajudaria a incentivar a denúncia e coibir os agressores.

“O agressor vai saber que está sendo monitorado e que a mulher pode denunciar. E para investigar fica mais fácil, porque através das imagens a gente consegue rapidamente identificar o suspeito. Muitas vezes a vítima vai até a delegacia para denunciar, mas ela não sabe identificar o agressor”, resumiu o delegado.

*A reportagem preservou a identidade das vítimas

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