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Perri classifica Paulo Taques como “provável líder de organização criminosa”

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Perri classifica Paulo Taques como “provável líder de organização criminosa”

 

José Medeiros/Gcom

Pedro Taques e Paulo

Primos, governador Pedro Taques e ex-chefe da Casa Civil Paulo Taques são investigados pelo esquema das interceptações ilegais

O ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, primo do governador Pedro Taques (PSDB), é apontado como “um dos prováveis líderes da organização criminosa” por trás do esquema das interceptações telefônicas ilegais, enfatizou o desembargador Orlando Perri, na decisão que determinou prisão preventiva dele e mais sete pessoas.

Segundo o desembargador, que também foi alvo dos grampos e ordenou a instauração de investigação, as provas colhidas até o momento revelam que Paulo “foi quem mais se serviu do falseado Núcleo de Inteligência [da Polícia Militar]” – que teria feito as escutas.

“Basta lembrar que – as provas assim indicam – foi ele o responsável por interceptar ilegalmente a sua ex-amante Tatiana Sangalli, o jornalista Muvuca, a sua ex-secretária Carolina e, provavelmente, os advogados José do Patrocínio e José Antônio Rosa, além da Deputada Janaína Riva, dentre outros”, reforça Perri na decisão.

No início de agosto, Paulo Taques chegou a ser preso também por decisão de Perri no caso dos grampos, mas acabou solto pouco mais de uma semana depois, por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ). 

Violação de segredo profissional

Em sua decisão, o desembargador detalha que o ex-chefe da Casa Civil, valendo-se da condição de advogado, usou informações confidenciais de um ex-cliente envolvido em situações de dependência química para tentar forçá-lo a atrapalhar as investigações.

O plano seria gravar, com câmera escondida, uma conversa com Perri sobre o caso dos grampos. Posteriormente, o material deveria ser utilizado em desfavor do desembargador, para afastá-lo do comando da investigação.

O cliente se trata do tenente-coronel José Henrique Costa Soares, a quem Paulo Taques atendeu num caso particular de dissolução de sociedade.

Em depoimento, Soares declarou que, uma semana após ter assumido o posto de escrivão do Inquérito referente aos grampos, foi procurado pelo advogado Marciano Xavier das Neves, que o avisou que a esposa do Coronel Evandro Lesco, Helen Christy, teria “informações a seu respeito”. 

Soares então marcou um encontro com Helen para saber do que se tratava. Nesta ocasião, segundo o depoimento, ela disse que a Secretaria de Estsdo de Segurança Pública (Sesp) “tinha posse de interceptações e vídeos dos quais revelam sua dependência química”. 

O militar contou ter ficado surpreso, pois a informação não era de conhecimento de seus superiores e poderia “encerrar definitivamente sua carreira”. Quem sabia do fato, segundo ele, era Paulo Taques.

“Todas as circunstâncias apontam no sentido de que as situações que fragilizavam o coagido, Ten.-Cel. Soares, foram mesmo passadas por Paulo Taques, cujos segredos – da sabença de ninguém –, recebeu quando patrocinou-lhe a defesa de uma causa na justiça. Aí encontram-se suas digitais. Do contrário, como o grupo criminoso tomou conhecimento dos segredos?”, questiona Perri na decisão.

O plano de gravar o desembargador não chegou a ser concretizado. Soares, em depoimento neste mês à delegada Ana Cristina Feldner – uma das responsáveis pela investigação conduzida pelo Tribunal de Justiça -, contou que, em uma conversa no Parque Mãe Bonifácia no último dia 13, o major Michel Ferronato agiu como mediador do titular da Sesp afastado, Rogers Jarbas, lhe oferecendo vantagens, como uma eventual promoção a coronel.

O desembargador atribuiu ao ex-chefe da Casa Civil ao menos 7 crimes – corrupção ativa, coação no curso do processo, integrar organização criminosa, embaraçar investigação de infração penal que envolva organização criminosa, prevaricação, denunciação caluniosa e violação do segredo profissional –, que somam 37 anos de prisão.

A reportagem entrou em contato com a defesa de Paulo Taques, representada pelo advogado Saulo Gahyva, mas não obteve retorno.

Amante e eleições

Em sua decisão, o desembargador Orlando Perri pontua que Paulo Taques “praticamente exigiu das autoridades responsáveis pela segurança pública do Estado” a interceptação telefônica de sua ex-amante (Tatiana sangalli) e de sua ex-secretária (Carolina dos Santos).

Outro acontecimento que evidencia, “de modo irretorquível”, o elo entre Paulo Taques e “a organização criminosa que se instalou no seio da cúpula da Polícia Militar de Mato Grosso”, ressalta Perri, diz respeito ao fato de que, nas eleições estaduais de 2014, o Núcleo de Inteligência da PM grampeou dois advogados, que trabalhavam para os adversários do então candidato Pedro Taques.

“José Antônio Rosa era advogado da candidata Janete Riva, e José Patrocínio de Lúdio Cabral, enquanto Paulo Taques representava os interesses de Pedro Taques, principais candidatos ao Governo do Estado de Mato Grosso. (…) a única banca que não teve advogado grampeado foi justamente a de Paulo Taques”, aparece na decisão.

Denúncia

O responsável por trazer à tona o caso das interceptações ilegais, em maio deste ano, foi o promotor de Justiça Mauro Zaque, que atuou como secretário de Estado de Segurança Pública de janeiro a dezembro de 2015.

Ele acusa o governador Pedro Taques (PSDB) de não ter tomado providências, após ser comunicado da existência do suposto esquema. O promotor levou a denúncia à Procuradoria Geral da República (PGR), que investiga o envolvimento de Pedro Taques.

A acusação dá conta de que ao menos 80 pessoas teriam sido grampeadas ilegalmente com autorização judicial, por meio da prática denominada “barriga de aluguel” – quando contatos de pessoas não investigadas são inseridos em pedidos de quebra de sigilo.

O governador nega ter conhecimento de qualquer esquema de grampos em sua gestão e enfatiza que nunca pediu que fossem realizadas escutas ilegais. Pedro Taques chegou a fazer uma representação contra Zaque no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), apontando que o ex-secretário fraudou o documento com as denúncias sobre a existência de possíveis escutas ilegais.

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