Quando a Torre está em perigo o cavalo precisa se mexer. Os movimentos do cavalo podem ser bons para um ou outro lado, dependendo do ângulo que se olhe. A economia tem várias facetas, tanto as formais como as informais.

O comércio de heroína e ópio foi profundamente afetado na década de 90 pela atuação do grupo Talibã no Afeganistão, uma vez que ele estava erradicando as plantações de papoula, matéria-prima do ópio e da heroína, chegando quase à erradicação total. Esta droga tem uma longa história de uso na Ásia. Todavia, em relatório do ano passado lemos: “De 2016 a 2017, a produção global de ópio aumentou 65%, atingindo 10.500 toneladas, a mais alta estimativa já registrada pelo UNODC desde que começou a monitorar a produção de ópio global, no início do século 21. A expansão acentuada do cultivo de papoula de ópio e o aumento gradual de rendimentos no Afeganistão resultaram em uma produção de ópio nesse país que atingiu 9.000 toneladas” – vide.

Em outubro de 2001, como reação aos eventos de 11 de setembro, os EUA, e alguns aliados, invadiram o Afeganistão. O gráfico abaixo mostra a dinâmica da consequência da invasão do Afeganistão nas plantações de papoula:

Na Coreia do Norte, existe razoável produção de anfetaminas – vide. Esta é uma fonte de renda do país, que tem uma economia precária e sob sanções, para financiar seus projetos estratégicos e outras destinações  – vide. A Síria, após o início da guerra civil que assola o país, adentrou a este mercado com a produção da metanfetamina Captagon (cujo princípio ativo é a fenetilina) que tem tido grande comercialização. Para se ter uma ideia de valor deste “negócio” de anfetaminas cabe citar que um carregamento, que saiu do porto de Latakia na Síria, e que foi interceptado por autoridades gregas, com ajuda do FBI, apreendeu 33 milhões de comprimidos Captagon (conhecidas localmente como Abu Hilalain) estimados, a valor de mercado, em quase US$ 700 milhões. É uma das drogas mais procuradas no Oriente Médio e Norte da África. Estamos falando de apenas um carregamento, disfarçado em paletes de madeira, que foi rastreado e interceptado, e certamente representa pouco em relação ao total comercializado na região. Coisa de gente grande – vide.

Nas Américas e Europa predomina a cocaína, ainda que também haja a presença crescente de outras drogas. Também é um “negócio” de grandes proporções. No primeiro artigo da série Xeque-mate intitulado “O xeque-mate se aproxima célere”, publicado em julho, eu escrevi: “Em 17 de junho autoridades estadunidenses apreenderam, de um navio (MSC Gayane) no porto de Filadélfia, 15,8 toneladas de cocaína, tornando-se o maior carregamento flagrado na história da Alfândega dos EUA. Eles estimam o valor das drogas em US$ 1,1 bilhão. O navio foi financiado para a MSC pelo grupo JP Morgan. Em fevereiro, agentes alfandegários já tinham apreendido 1,6 tonelada de cocaína em outro navio, o Carlotta, também da MSC, ao entrar no porto de Newark. Este não é um negócio para gente pequena.”. O Wall Street Journal divulgou a notícia – vide. A manufatura global de cocaína alcançou, em 2016, seu nível mais alto de toda a história, com uma estimativa de produção de 1.410 toneladas. – vide.

O “negócio” de drogas movimenta muitos bilhões de dólares, e necessita de uma vasta e sofisticada estrutura para funcionar. Não é coisa para amador. Em 2017, estima-se que 271 milhões de pessoas – ou 5,5% da população mundial entre 15 e 64 anos – usaram drogas no ano anterior. Quem quiser conhecer um pouco mais, ainda que superficialmente, pode ler o Relatório Mundial sobre Drogas 2019 – vide.

No campo da Torre tudo continua evoluindo como previsto. O chefe do BIS (Banco de Pagamentos Internacionais), que é o Banco Central dos Bancos Centrais, disse recentemente que os “Bancos centrais podem emitir moedas digitais ‘mais cedo do que pensamos’”. Importante frisar que ele já havia feito comentários e relatórios muito críticos sobre criptomoedas nos últimos anos, mas voltou atrás e admitiu o seu uso – vide -.

David Marcus, executivo do Facebook para o Projeto Libra, fez uma advertência inusitada 17/10/19 ao dizer “que Pequim ganha se o plano de Libra falhar”. Vai mais longe ao afirmar que Washington corre o risco de “ter uma parte do mundo completamente bloqueada das sanções dos EUA e protegida das sanções dos EUA e ter uma nova moeda de reserva digital”. Muitos encararam estas afirmações apenas como uma “pressão” – vide.

Há uma forte disputa por definir quem vai capitanear a nova moeda. Em 11 de outubro a BBC divulgou que gigantes como a Mastercard, Visa, eBay e a empresa de pagamentos Stripe retiraram-se do projeto de criptomoeda do Facebook, a Libra, seguindo o exemplo da PayPal. Até mesmo o Mercado Pago desistiu – vide.

Marc Carney, Governador do Banco da Inglaterra, já citado anteriormente em nossos artigos, agora está à procura de um “motivo” para justificar o colapso financeiro iminente. Como o colapso é dado como certo, e reconhecer como ele foi produzido geraria constrangimentos, ele agora atribui o mesmo a questões climáticas. Muito criativo este senhor, vide.

Muitos tem apontado o dia 31 de outubro como digno de muita atenção. Decisões importantes estão reservadas para este dia, incluindo a questão do Brexit, mas não só ela. As consequências de algumas decisões serão sentidas mais adiante.

Como já prevíamos nos EUA a situação política se agrava a cada dia, com manobras e complôs sendo expostos a cada dia, revelando que a situação não terá um desfecho suave – vide. Cabe salientar que Paul Craig Roberts foi subsecretário do Tesouro no governo Ronald Reagan e trabalhou no congresso estadunidense.

Para fazer frente a situação o Presidente Trump tem se apoiado fortemente nas Forças Armadas para enfrentar os desafios com os quais tem de lidar, tendo demonstrado este “apoio” em várias ocasiões, como demonstrado abaixo.

Trump com oficiais generais:

Na semana passada em reunião na Casa Branca, com a participação do General Mark Milley, de acompanhamento da operação contra Abu Bakr al-Baghdadi, chefe do Estado Islâmico – vide.

Em 24 de outubro uma matéria citou que houve uma pesquisa do Instituto de Política e Serviço Público da Universidade de Georgetown onde se aferiu que 67% dos americanos acredita que haverá uma Guerra Civil em breve. Na matéria é dito que “O próprio Trump levantou a perspectiva de guerra civil, citando o pastor Robert Jeffress, que alertou para ‘uma guerra civil como uma fratura’ se Trump for removido do cargo.” – vide. Numa reportagem da CBSNEWS lê-se que o ex-secretário de Defesa Jim Mattis, após fazer vários comentários irônicos em relação a Trump durante um jantar, passou a falar sobre Abraham Lincoln e as condições políticas que levaram à Guerra Civil, incluindo o hiperparticularismo – vide.

A Rússia iniciará à partir de 1º de novembro os testes da RuNet, sua versão nacional da internet. Eles querem estar seguros de que poderão manter a normalidade mesmo sem a internet ocidental. Após verificar o efeito das redes sociais em eleições e na Primavera Árabe os russos decidiram estar preparados para se desconectarem da internet a qualquer tempo, mantendo serviços internos – vide.

No jogo estão presentes vários objetivos estratégicos norteadores e determinantes que estão ligados entre si, tais como: o controle da “produção” e distribuição da “moeda”, o controle do comércio e orçamento “negro” (drogas e armas) do qual não se precisa prestar conta a nenhum governo, o controle de tecnologias sensíveis para emprego militar e civil,  a produção e controle do fluxo de informação da narrativa, dentre outros. Estes são pontos-chaves determinantes nos quais a Torre, o Cavalo e o Bispo precisam se movimentar de forma coordenada para, junto com a Rainha, chegar ao Xeque-mate. Na concepção de um dos jogadores as “ideias” devem ser geradas e disseminadas para criar um ambiente psicossocial favorável a consecução destes objetivos. Naturalmente, sendo um jogo, tem dois lados. Por isso avançamos para um confronto determinante.

A América Latina não está, digamos, no centro das decisões, mas é um recurso de retaguarda a ser preservado. Não possui protagonismo algum. Após a eleição e posse do Presidente Bolsonaro surgiram vários “analistas” nas redes sociais abordando o tema de esquerda versus direita. Para eles tudo é uma questão de estudar Gramsci, o Foro de São Paulo, o Grupo de Puebla, etc…. Eles não têm alcance para entender que a dicotomia esquerda versus direita é apenas uma invenção para, alternativamente, servir aos mesmos propósitos dentro do conceito da Teoria da Tesoura. Não faz diferença qual “ismo” (socialismo, comunismo, liberalismo, conservadorismo, petismo, chavismo, etc….) é adotado, desde que ele atenda ao jogador que o patrocina. A Fundação Ford financiou a direita no passado e hoje financia a “esquerda”. Open Society, Fundação Friedrich Ebert, Fundação Rosa Luxemburgo, etc…. atendem ao mesmo jogador que lhe doa os fundos.

O jogador não tem ideologia, tem objetivos. O que passa disso é para iniciantes e ingênuos. Não há latino-americanos jogando, eles são jogados. Assim, os recentes movimentos na América Latina, e em outras partes do mundo, tem na ideologia apenas uma bandeira para juvenis, os verdadeiros jogadores não tem estes ímpetos universitários, eles têm objetivos estratégicos globais, e só. Com estas análises precárias jamais os governos locais conseguiram mudar o rumo dos acontecimentos, exceto se o jogador o fizer, o que somente fará por interesse.

Qualquer analista de inteligência, ainda que use a melhor TAD, não poderá ter assertivo na estimativa se não conhecer as “regras” do jogo, as estratégias envolvidas, o “modus operandi” tradicional de cada jogador com suas crenças e idiossincrasias, e por fim os objetivos reais que estão sendo buscados. Para isso, além de conhecimentos específicos normalmente classificados e não ensinados nas escolas de inteligência, ele precisará dominar em bom nível de profundidade algumas áreas de conhecimento públicas, tais como: economia, auditoria financeira, contabilidade, geopolítica, relações internacionais, inteligência estratégica, psicologia, sociologia, história e geografia. Do contrário, suas chances de êxito diminuirão sensivelmente.

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas” – Sun Tzu em “A arte da Guerra”.

O efeito dominó começou, na medida que a cada movimento um novo dominó cai e empurra outro para a queda seguinte!

Todo jogo acaba ou muda de fase. O xeque-mate se aproxima.

Luiz Antonio Peixoto Valle é Professor e Administrador de Empresas.

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