Os mortos, bons ou maus, se assim pudéssemos definir alguns “homens de seu tempo”, merecem o repouso eterno. Suas idéias podem, e devem, ser debatidas, e passar dessa para melhor não torna ninguém santo, que se diga.

No entanto, o instinto pacificador demonstrado por personagens históricos malquistos por certos grupos deve ser levado em conta após a sua morte quanto a seus restos mortais, não para adular sua memória ou reescrever a História, mas justamente para honrar a esta última. Continua-se o debate, mas as almas pertencem a Deus, e os restos mortais, nestas condições, deveriam ficar onde estão.

Veja-se o caso de Karl Marx e Vladimir Lênin – nenhum dos dois com esse derradeiro instinto pacificador e reunificador: o primeiro, um notório ideólogo responsável pelo surgimento do mais nefasto regime político-social-econômico jamais imaginado pela Humanidade; o segundo, um genocida, facínora, inescrupuloso e assassino dos próprios “amigos”.

Marx está sepultado no Highgate Cemetery, no norte de Londres, e sua visitação é aberta ao público desde que, ironias da vida após a morte, se pague um pequeno montante de £4,00 (cerca de R$ 21,60) pelo ingresso ao local de sua sepultura com busto erigido pelo Partido Comunista Britânico. Assim, o incompetente economista, pífio escritor e nocivo ideólogo é teúdo e manteúdo do capitalismo após a sua morte – como foi também em vida, diga-se de passagem, devidamente sustentado pelo dinheiro alheio, algo bastante comum no meio até hoje.

Lênin encontra-se sepultado no “Mausoléu de Lênin”, na Praça Vermelha, coração do Kremlin em Moscou, em um suntuoso edifício piramidal, com direito a tribuna, que contém o que um dia foi o cadáver do assassino comunista embalsamado (ou empalhado, ou mumificado ou sintetizado – já que pouco ou nada resta do corpo).

Embalsamar o cadáver do ditador comunista vinha do claro anseio da União Soviética em emular os corpos incorruptos de santos, tão caros à cristandade católica e ortodoxa. Como tudo no comunismo, não passava de uma miragem tentando inutilmente plasmar a realidade. Outro que esteve em má companhia de Lênin, fazendo má companhia a ele por sua vez, no mesmo mausoléu foi Joseph Stálin, mas este, após dois anos, voltou a ser encerrado nos muros do Kremlin.

Como se vê, e se sabe, ambos os citados acima nunca se arrependeram de seus erros, nunca tentaram conciliação com seus pares e nunca buscaram uma saída pacífica à situação que criaram.

Goste-se ou não, o General Francisco Franco (1892-1975) salvou a Espanha e a Europa Ocidental de uma ditadura comunista-stalinista (mas também de um regime fascista em sentido estrito) e, após a sangrenta Guerra Civil Espanhola (1936-1939), cantada em verso e prosa pela esquerda mundial desde sua ocorrência, em que vários personagens, literatos e artistas de esquerda se voluntariaram ao lado comunista perdedor, buscou ao longo de seu governo (1938-1973) pacificar a situação na Espanha dividida.

Tanto é assim que construiu um monumental mausoléu (“Valle de Los Caídos”, abadia beneditina) que abriga os restos mortais das duas partes do conflito: tanto nacionalistas, vencedores, quanto “republicanos”, perdedores.

O próprio Franco decidiu ser sepultado na bela e monumental Abadia de Santa Cruz do Vale dos Caídos, ao lado se seus companheiros de armas, mas também de seus inimigos. Uma clara demonstração em reunir seu país.

Para quem não sabe, a Guerra Civil Espanhola começou com a perseguição da esquerda aos padres e freiras espanhóis durante o confuso período da “Segunda República”, esta fruto de um golpe dentro de um golpe, que deliberadamente iniciou uma perseguição implacável aos opositores do Regime republicano socialista (católicos, conservadores, carlistas, monarquistas e liberais). O parâmetro exemplar dos “Republicanos” era a União Soviética, que desde sempre forneceu apoio intelectual, material e bélico à esquerda espanhola.

Após uma série de confusões, assassinatos, chacinas, perseguições, atentados e mais uma miríada de atos vis, surgiu dentro do Exército uma oposição à insipiente e incipiente direita republicana e aos governos de assassinos da esquerda republicana socialista.

Depois de estar a Espanha em frangalhos, surge a figura do então mais jovem general espanhol, herói das guerras do Rif marroquino que jurou lealdade à República enquanto esta, de fato, existiu; assumiu seu lado junto às forças nacionalistas apenas após a morte em acidentes de avião, ambos em condições suspeitas, de dois generais nacionalistas: José Sanjurjo e Emílio Mola.

Franco, até então relegado às Ilhas Canárias em ostracismo, retorna à Espanha continental e empreende uma guerra de viés civilizatório contra a esquerda golpista revolucionária de viés stalinista, fundeada sobretudo no País Basco e na Catalunha – como ainda está.

Sobre a Catalunha, aliás, a situação em Espanha hoje lembra o que ocorreu na década de 30, e que a tenacidade de alguns cidadãos salvou o país do caos, do genocídio e do comunismo. Os comunistas catalães independentistas se assemelham, e muito, com seus antecessores Republicanos, e vêm fermentando o caos novamente como fizeram na Segunda República.

Quanto a alguns literatos e artistas que foram lutar ao lado dos comunistas Republicanos, vários voltaram às suas casas horrorizados não com a Guerra Civil e com as ações dos seus inimigos nacionalistas, mas sim com a indignidade, abjeção e violência dos republicanos, sobretudo comunistas (como descreveu Simone Weil), para com seus companheiros: dois casos famosos são o de George Orwell e Randolfo Pacciardi, posteriormente convertidos em detratores dos comunistas.

Mas tornemos à questão precípua: a conciliação. Franco nunca foi um político e tampouco tinha predisposição de espírito a ser um caudilho ou ditador – foi sim um autoritário, mas não um fascista em sentido estrito, epíteto este que poderia ser atribuído apenas a José Antonio Primo de Rivera, morto ainda em 1936.

No seu governo, Franco não abriu mão da repressão dos perdedores que, por seu turno, nunca desistiram de seu intento de instaurar a ditadura do proletariado em terras de Castela, Leão e Aragão. Franco não foi um democrata, mas lutou contra uma ditadura encarando a realidade com os meios possíveis.

No fim da vida, Franco optou por medidas arrojadas para a pacificação que recolocariam a Espanha nos trilhos da democracia, mesmo enfrentando forte oposição interna no Exército, restabelecendo a democracia constitucional por meio da monarquia Borbón na figura do então príncipe Juan Carlos I, neto de Afonso XIII exilado na Segunda República.

Antes disso Franco foi capaz de manter seu país neutro durante a Segunda Guerra Mundial, tendo, inclusive, irritado profundamente Hitler a ponto de este não querer nunca mais se encontrar com o general espanhol diante das negativas de apoio na guerra. Assim, também longe do nazismo conseguiu Franco marcar posição paternalista com seu povo: porém, nem nazista, nem fascista, nem comunista.

Da mesma forma, ao contrário do que ocorre ainda hoje em Cuba e do que ocorreu na União Soviética, a Espanha não impedia a saída do país de seus cidadãos desafetos do regime (como fez Maria Zambrano, entre tantos outros, indo para Itália). Mais ainda, muitos foram os casos de perseguidos pela URSS e outras ditaduras comunistas que se refugiaram na Espanha Franquista, como o refugiado romeno Vintilă Horia.

Ao longo do seu governo, Franco obteve algumas menções honrosas por parte da Igreja em seu esforço de reconstruir o país, unificá-lo e prepará-lo ao futuro (aqui é importante ressaltar: a Guerra Civil Espanhola foi fermentada com o assassínio em massa de clérigos, destruição de Igrejas e perseguição religiosa na Segunda República; como devoto fervoroso, Franco iniciou o contra-ataque).

Pio XII reconheceu “a difícil tarefa de restaurar os direitos de Deus e da religião. O povo espanhol se ergueu decidido à defesa dos ideais da fé e da civilidade cristã”. João XXIII disse: “Franco faz leis católicas, ajuda a Igreja, é um bom católico, que coisa mais poderíamos pedir?” Paulo VI, apesar da turbulenta relação com Franco, asseverou: “Franco fez muito bem à Espanha e a preparou para um desenvolvimento extraordinário em uma época de paz. Ele merece uma despedida gloriosa e uma lembrança cheia de gratidão”.

Com a redemocratização e instauração da monarquia constitucional, ressurgem os partidos de esquerda que nunca cessaram de tentar tomar o poder. Dentre eles está o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), que governa hoje a Espanha com um governo minoritário, em decadência, com o país fraturado politicamente mas também com severos problemas de unidade nacional: Catalunha e País Basco, ambos dominados pela esquerda, querendo a secessão do Reino castelhano.

E nesse contexto de busca de popularidade a todo custo, seja entre os centristas, seja entre a esquerda e extrema-esquerda, o primeiro-ministro socialista Pedro Sanchéz decidiu apostar no desalojamento de Franco como bandeira midiática e dividendo político.

Após uma longa luta com os familiares de Franco, Sanchéz conseguiu seu intento com a omissão impensável da Igreja, da qual apenas o responsável pela Basílica se manifestou contra a decisão de exumar e trasladar o corpo. Infelizmente as lideranças locais da Igreja, que foram salvas por Franco em sua Cruzada, não se preocuparam em vê-lo defenestrado e exposto ao escárnio público pelos socialistas em condições semelhantes às da Segunda República.

Assim é que após quase 44 anos de pacificação com seu sepultamento junto de amigos e inimigos, o PSOE recoloca Franco na alça de mira e aprofunda a divisão do país, reabrindo a ferida em busca de vantagens eleitorais, totalmente inconseqüente quanto aos seus resultados. Por isso é que, como no período imediato à Guerra Civil e a própria guerra, soldados armados voltaram a entrar em Igrejas para praticar atrocidades contra vivos e mortos em puro ato de revanchismo.

A operação midiática do PSOE contou com 22 equipes de televisão no Vale dos Caídos e mais equipes ainda no lugar em que o corpo será depositado provisoriamente até ser encaminhado à tumba da família. Um ato simbólico lúgubre e desumano do governo de esquerda espanhol (clara minoria parlamentar), com o aplauso da mídia mundial militante, expulsa-se Franco de sua tumba, partindo o país em vários pedaços, com a macabra idéia de reescrever a História.

Agem como bestas necrófobas, arfantes de ódio, de morte e de votos, ignorando o anseio de Franco em ser enterrado também com seus inimigos, em sinal claro de como as coisas deveriam ser dali em diante. Mas a esquerda não esquece, e à primeira chance atraiçoa quem lhe devolveu a vida e voz como faz uma serpente venenosa.

Mortos são mortos, e sobretudo aqueles que buscam curar uma ferida merecem a paz eterna – ainda que seus atos e idéias possam e devam ser questionados. Mas assim como era feito em alguns lugares ao longo do período medieval, retirar um cadáver de sua tumba para expô-lo novamente ao escárnio de seus detratores não é uma atitude de um governo que quer paz, mas sim de um governo que busca fraturar ainda mais o país para poder manter-se no poder.

Não se trata de uma defesa de Franco, mas sim visitação dos fatos Históricos. Che Guevara, Mao Tsé Tung, Stálin, Lênin, Pol-Pot, Marighella, Luiz Carlos Prestes, Fidel Castro, Hugo Chávez: se os restos mortais dos mais nefastos assassinos comunistas gozam de paz ao morrer, sendo até mesmo elevados a “heróis”, por que alguém que sequer chegou perto da crueldade e do número pantagruélicos de vítimas e, ainda, mesmo com seus erros, buscou restabelecer a concórdia, não pode descansar em paz?

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