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O Brasil precisa de mais médicos? Os números dizem que não

O problema está na distribuição dos profissionais pelo país e na necessidade de estimular a ida deles para regiões desassistidas

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O Brasil precisa de mais médicos? Os números dizem que não
(Foto: EVG Kowalievska / Pexels)

“O Brasil não precisa de mais médicos”, essa é a análise feita pelo professor Bruno Campello de Souza, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). O problema, ele pontua, é a distribuição desses médicos pelo país em termos geográficos, e a falta de especialidade, além de potenciais déficits em qualidade.

Para chegar a esse resultado, Bruno avalia os dados oficiais de diversos países sobre os números de médicos existentes por grupo de mil habitantes e a expectativa de vida da população.

O pesquisador observa que, a partir de 1,5 médico por mil habitantes, não há mais alterações substanciais com relação à expectativa de vida. Segundo ele, é isso que apontam certas análises, feitas a partir de registros do Banco Mundial, e também de acordo com o que é disponibilizado diretamente em sites como o Gapminder.com.

De acordo com a Demografia Médica no Brasil 2020, estudo feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Universidade de São Paulo (USP), em 2020, o Brasil contava com 502.475 médicos.

O Brasil tem aproximadamente 2,3 médicos por mil habitantes, segundo os dados do Banco Mundial. Mas é preciso destacar que não existe uma definição oficial para o mínimo necessário de profissionais”, destaca.

Bruno avalia que o índice da expectativa de vida é o melhor indicador geral de saúde de um país. É ele que indica a média de idade com a qual as pessoas morrem. Atualmente, no Brasil, essa média é de 77 anos, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística).

“Esse número tem relação também com a qualidade de vida, se as pessoas sofrem com doenças e outros problemas que influenciam nesse dado”, completa.

Programa Mais Médicos

O comentário foi feito por Bruno após o governo federal reforçar o interesse em resgatar o programa Mais Médicos. Conforme a nova proposta, a prioridade será para os profissionais com registro no Brasil.

Depois, os brasileiros formados no exterior poderão se candidatar às vagas que não forem preenchidas. Se ainda assim sobrarem vagas, médicos estrangeiros poderão tentar o trabalho.

Mas a distribuição é que parece ser o problema, segundo Bruno. Afinal, enquanto há lugares do Brasil com muitos profissionais no mercado, como São Paulo e Minas Gerais, há outros onde faltam interessados para trabalhar, como Acre e Tocantins.

médico
(Foto: Karolina Grabowska / Pexels)

“O que precisamos é de uma melhor distribuição dos profissionais, de incentivo para ir para outros locais onde são necessários”, diz o professor.

Outro problema, segundo ele, seria o número de especialistas em cada área disponíveis para atender a população. “Essa quantidade está dentro do quanto é necessário na proporção que o país precisa? Provavelmente não”, acredita.

Responsabilidade

Para o professor, esses apontamentos precisam ser considerados para o desenvolvimento de uma política pública responsável. Não basta dizer que tem a necessidade, é preciso demonstrar isso objetivamente.

“Não se vê nenhum órgão ou autoridade, que esteja propondo essa política, apresentar qualquer dado em relação a quantos médicos seriam necessários, como seria essa distribuição, como está a qualidade dos médicos formados no país, como está a distribuição das especialidades”, critica.

“Se não sabemos as respostas para essas perguntas, é impossível propor uma política pública responsável para essa área”, argumenta.

A questão de uma melhor distribuição dos profissionais também foi apontada por Mauro Ribeiro, presidente do CFM, à época da publicação do estudo. A proporção de médicos por habitantes no Brasil se aproxima dos índices dos Estados Unidos (2,6), Canadá (2,7) e Reino Unido (2,8), de acordo com o Conselho.

Essas respostas, acredita Bruno, são necessárias porque permitiriam o investimento dos recursos para a solução dos reais problemas existentes.

“No caso da Saúde Pública, um dinheiro que eu gastei em ‘A’ é um dinheiro que eu não tenho para gastar em ‘B’. Então, se eu escolher “A” errado, tive o prejuízo de ‘A’ e não tenho mais como investir tanto em ‘B’. Essas considerações dos recursos públicos são extremamente importantes”.

O que diz o Ministério da Saúde?

O LIVRE entrou em contato com o Ministério da Saúde para saber como será a política de incentivo para a ida dos médicos para as regiões com menos profissionais.

Outro questionamento foi com relação a quantas vagas serão disponibilizadas no novo programa Mais Médicos e quais países poderiam participar.

Porém, não houve resposta até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para manifestação.

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