Principal

Morro da Luz: as vidas por trás do vício em crack

5 minutos de leitura
Morro da Luz: as vidas por trás do vício em crack

Pop Show

Usuários Morro da Luz

Na foto uma usuária, grávida de seis meses, que mora no Morro da Luz

O Morro da Luz é uma área verde preservada no Centro da Capital mato-grossense. Porém, há alguns anos o local se tornou a casa de dezenas de viciados em crack.

A situação se agravou após a demolição da Ilha da Banana, quando os usuários de drogas que viviam nas casas migraram para o Morro da Luz.

No dia 19 deste mês, a Prefeitura de Cuiabá iniciou uma ação de limpeza na área, em que já foram retiradas 10 toneladas de lixo. A ação segue em andamento e não há previsão de finalização.

O lixo está sendo retirado, porém os usuários de drogas ainda estão sendo deixados no morro. Inclusive alguns deles abriram suas vidas e contaram suas histórias à reportagem do Pop Show, da TV Cidade Verde/Band.

Um deles, um sargento aposentado da Polícia Militar de Mato Grosso, contou que os filhos tentam retirá-lo do morro, mas diante de tudo o que aconteceu, já não conseguem.

Com cabelos grisalhos e voz envelhecida, ele lembrou que serviu à PMMT entre os anos de 1972 e 2004. E explicou que não escolheu a vida das drogas: simplesmente entrou e não conseguiu mais sair.

“A gente de repente cai naquela emboscada e aí, quando você vai ver, já está tudo consumado”, disse.

O aposentado afirmou que os filhos sempre sobem o morro para vê-lo e que sente uma grande emoção quando isso acontece. Ele contou que durante as noites que passa nas ruas fica imaginando tudo de bom que já lhe aconteceu e que se arrepende do “fim” que deu à sua vida.

A reportagem também conversou com uma mulher, de aproximadamente 30 anos, que está grávida de seis meses e até o momento não foi a nenhum médico fazer o pré-natal.

Ela contou que ninguém da prefeitura, ou da assistência social, tentou levá-la a um hospital. Com a barriga já desenvolvida, somente algumas pessoas de uma igreja tentaram ajudá-la, mas ainda assim foram somente promessas não cumpridas.

“Esses dali da igreja, vem um médico, pergunta o nome, marca consulta, fala que vai vim buscar a gente e nunca vem”, relatou.

A gestante afirmou que só espera que seu filho não tenha o mesmo futuro que ela teve. Com os olhos cheios de lágrimas, ela disse que é como qualquer ser humano, mas que sofre com a doença que é o vício em drogas.

“Não nos julgue por causa da doença, que nem todos são iguais. Tem gente de terno que é pior do que nós que andamos aqui nessa vida”, disse ela, em meio a muitas lágrimas.

Ela afirmou que também tem uma filha de 15 anos e que não quer que a adolescente viva o que ela vive, assim como não deseja para nenhum jovem.

“Jovens, não façam isso, é prazer momentâneo. A gente paga para morrer, para sofrer, para ficar triste, para perder a família, a liberdade, para ter medo. Coloquem isso nas suas cabeças, meninas, não é bom”, afirmou ela, ainda muito emocionada.

Durante as andanças da reportagem do Pop Show no Morro da Luz, eles encontraram diversas pessoas jogadas no chão, deitadas em cima de pedras e lixo.

Alguns usuários reclamaram à reportagem que a prefeitura teria levado seus pertences junto à limpeza.

“Eu comprei perfume, eu comprei um celular para minha filha, duas calças de marca e eles levaram, colocaram dentro do caminhão e não deixaram eu pegar de volta”, reclamou.

Ela afirmou que tinha feito uma faxina e comprado os presentes para a filha, porém, todas essas compras foram levadas pela prefeitura.

Pop Show

Usuários Morro da Luz

A mulher, na foto, disse à reportagem que não pretende sair do Morro da Luz

Outra usuária, uma senhora deficiente, disse que sua barraca, com cama e seus pertences, também foram levados.

“Fiquei sem nada, eles levaram minha cama, meus remédios, eu não tenho uma peça de roupa para vestir, tenho isso aqui [mostrando a roupa que estava vestida], que eu pedi na rua”, disse.

Ela afirmou que nem ela, nem os demais moradores, sairão do local se a prefeitura não oferecer uma casa para eles.

“Eu vou defender meu povo aqui de cima. Eu não vou sair daqui, só saio daqui se derem uma casa para mim e meu povo. Se eles derem uma casa eu vou sair com eles junto”, disse.

A moradora de rua acusou a prefeitura de estar fazendo a limpeza para obrigar os usuários a saírem do local, mas que a assistência social não os auxilia.

“Eu espero assistência, porque nós somos gente, somos de carne e osso. Eles tratam os outros iguais animais. Nós somos viciados, mas nós somos gente”, disse ela emocionada.

YouTube video

(Com Pop Show)

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes