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Incêndio no RJ: museus de MT também sofrem pelo descaso e falta de investimento

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Incêndio no RJ: museus de MT também sofrem pelo descaso e falta de investimento
Obra de Adir Sodré menciona situação dos museus: "Os olhos choram pelo que não vêem" (2017)

O Museu de Arte de Mato Grosso já está fechado há um ano e sete meses. E assim como o MAMT, outros aparelhos culturais amargam a falta de manutenção e e investimento do Governo. “Só ficaram promessas e muito cansaço”, garante o arquiteto e expógrafo Jeff Keese. Enquanto isso, museus estão fechados – e assim, artistas perdem espaço -, por lá não circulam estudantes e nem pesquisadores.

Preparado para coordenar as atividades do MAMT e da Galeria Lava Pés, caso o contrato de gestão assinado pelo governo seja enfim concretizado, Jeff alerta que é preciso atentar para as condições estruturais e de conservação dos acervos, visto que estes se encontram inacessíveis. “No nosso caso, não se sabe onde estão e nem como estão”, afirma.

Segundo ele, o mesmo descaso que causou avarias ao Museu Nacional se estende aos museus de Mato Grosso. “Há riscos enormes de ordem estrutural e um desconhecimento total da atual situação dos acervos. São coisas que a gente não vê. E há quem diga que se os museus fossem pagos hoje, voltariam a funcionar dentro de um mês ou dois. Antes de abrir, há muito a ser feito para garantir o pleno funcionamento”.

“Não é só chegar e acender uma luz. O problema pode estar naquilo que a gente não vê, como a infraestrutura elétrica. No caso do MAMT [que ocupa hoje o piso superior do Palácio da Instrução], sabemos que o novo espaço reservado ao museu passou por reformas e adaptações para receber as bienais, por exemplo. Mas não sabemos quais”, alerta.

“Precisamos receber o que foi acordado e, depois, rever as estruturas. Precisamos fazer planos de risco, das plantas dos prédios atualizadas, um laudo de vistoria do Corpo de Bombeiros. Não temos uma cadeira sequer, não temos um computador. Os museus de Mato Grosso não têm condições de começar a operar neste momento. Estão abandonados”.

Obra de Tarsila Amaral doada à Secretaria de Estado de Cultura pelo Banco do Brasil, em 1995 compõe acervo do MAMT

Museus fechados perdem oportunidades

Vinculada a outra associação que foi selecionada para gerir o Museu de Arte Sacra de Mato Grosso, Viviene Lozi, que há muitos anos atua na coordenação de ações de museus locais [o MAMT antes era gerido por ela], também se mostra preocupada com a falta de iniciativa do Governo em reabrir estes espaços.

“O Museu Nacional do Rio pegou fogo e queimou completamente. Fica a lição de como cuidamos de nossos história, memória e identidade enquanto nação. Desde 2013 a UFRJ não recebia do Governo Federal a verba para repassar ao museu. Nem era muito. Mas como cultura é frescura, os museus estão às traças e aqui em Mato Grosso o cenário não é diferente: não anda nem desanda”.

Segundo Viviene, a situação é grave. “Além de não passarem por manutenção, estão sem limpeza básica, como aquela que você faz em sua casa, não tem sido feita. Estive no Museu de Arte Sacra no dia 13 de julho e vi com os meus próprios olhos a situação, além disso estão sem extintores ou com a carga vencida. Dois dias depois fiz protocolo da vistoria técnica que eu fiz lá e relatei as condições em que o museu se encontra”.

Segundo ela, as associações que passaram nos editais têm condições de gerir quatro espaços (Museu de arte Sacra, Museu de Arte, Galeria Lava Pés e Museu da Pré-História e Memorial Rondon) e desenvolver a gestão e planejamentos de risco.

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“Ontem dois amigos engenheiros com especializações em combate a incêndio me ofereceram ajuda para o Arte Sacra. Querem ser voluntários. Estamos deixando de receber ajudas, voluntariados e buscar recursos via editais, Lei Rouanet e iniciativa privada por ingerência do executivo de nosso Estado que não assina os contratos com as OSCs e nem sequer garantiu os empenhos e financeiro para o exercício de 2018. Corremos sérios riscos e principalmente, o Museu de Arte Sacra que tem em sua composição predial e acervo, ao menos 60% em madeira, altamente inflamável. Mas lá se vão um ano e sete meses e nada”.

Acervo do Museu de Arte Sacra possui também oratórios. Alguns, pertenciam à antiga Catedral do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, demolida em 1968. Outras peças vieram da Igreja do Rosário e Capela de São Benedito, além de algumas doações

Em resposta, o secretário de Estado de Cultura, Gilberto Nasser, enviou nota à imprensa afirmando que os acervos têm recebido cuidados. Segundo Nasser, semanalmente uma equipe especializada composta por arquitetos, engenheiros civil e eletricista, historiadores, além de um profissional conservador restaurador – seguindo padrões internacionais de acervos museológicos (Instituto Canadense de Conservação e o Icom e Icrom) -, tem garantido a integridade dos acervos de cada museu.

Corte no orçamento dos museus

Depois de tantas conversas, promessas e arranjos, Jeff avalia que as pessoas estão ficando cansadas. “Não acreditam mais em nada. Essa desconsideração contínua desmobilizou a classe artística”.

Ele conta que logo que divulgadas as OSCs que iam gerir os espaços, começou uma verdadeira cruzada. “Tentamos de tudo. Cada hora era uma determinação. Cortaram recursos na ordem de 20%, tivemos que refazer planos de trabalho, reduzir número de atividades, refazer planilhas, orçamentos, reemitir certidões, pagar por elas novamente. Correr contra o tempo para nos ajustar aos prazos urgentes da Secretaria de Cultura. Nos disseram que os valores haviam sido empenhados, acontece, que no Fiplan, esses empenhos nunca apareceram”, revela.

Segundo ele, a útlima alteração que registraram no Sistema de Gestão de Convênios de Mato Grosso, o Sigcon, teve que ser feita em caráter de urgência para que o pagamento fosse feito antes do período de campanha eleitoral. “Isso nunca aconteceu. Não há qualquer sinal de que os valores tenham sido empenhados. Fomos enganados”.

“Jogo do empurra”

“Só ficam no jogo do empurra-empurra: uma hora é com o secretário, na outra a gente tenta com o governador – não consegue, claro – daí por fim, temos tentado uma conversa com o secretário de Fazenda, Rogério Gallo, que seria o responsável pelo pagamento. E… nada. Estamos sem respostas, não há qualquer diálogo”.

Dentre os museus que são equipamentos culturais do Estado, o Museu de Pré-História Casa Dom Aquino é o único que tem resistido bravamente apenas com parcos recursos federais, ainda que a Organização da Sociedade Civil (OSC) responsável pela gestão do espaço, também tenha sido contemplada em edital lançado no ano passado pela Secretaria de Estado de Cultura.

Mas a Galeria Lava-Pés (incluída no mesmo edital do MAMT), o Museu de Arte Sacra e o Museu Histórico não tiveram a mesma sorte e seguem de portas fechadas. O Memorial Rondon, localizado em Mimoso, e que está sob a tutela da Secretaria de Desenvolvimento Econômico também está sem atividade.

O outro lado

A Secretaria de Estado de Cultura se pronunciou:

Desde abril de 2018, a SEC está empenhada na reabertura dos museus. O secretário de Estado de cultura, Gilberto Nasser, está tomando todas as providências possíveis para reabrir os museus ainda em 2018. Para a Residência dos Governadores e Museu Histórico, a reabertura está programada para outubro. O secretário reitera que está e sempre esteve à disposição de toda a sociedade para prestar qualquer tipo de esclarecimento.

Nasser informa ainda que semanalmente, uma equipe especializada da SEC formada por arquitetos, engenheiros civil e eletricista, historiadores, além de um profissional conservador restaurador, seguindo padrões internacionais de acervos museológicos (Instituto Canadense de Conservação e o Icom e Icrom), garantem a integridade dos acervos de cada museu.

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