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Glifosato no Brasil: cientista afirma que não há correlação entre o produto e doenças

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Glifosato no Brasil: cientista afirma que não há correlação entre o produto e doenças
Foto: GCOM

Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Farmacologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP), não encontrou traços significativos do herbicida glifosato em amostras de trabalhadores rurais de Mato Grosso. O resultado foi apresentado na sexta-feira (24) na Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) com o objetivo de desmistificar o uso do produto.

De acordo com os dados apresentados pelos professores doutores Angelo Zanaga Trapé, médico toxicologista, e Paulo César Pires Rosa, químico e farmacêutico, ambos, colaboradores do Laboratório de Análise Toxicológica da Unicamp, não existe evidências de que o contato com o glifosato cause doenças crônicas aos produtores.

Com 66 anos de idade, sendo 41 deles dedicados às pesquisas, o médico toxicologista ressaltou que o uso o herbicida é seguro. Afirmou que o glifosato é o insumo agrícola mais utilizado no mundo, aprovado pelo ministério de saúde de vários países, dentre eles, Estados Unidos e Japão.

“Do ponto de vista de saúde é seguro, não há indícios de doenças crônicas, problemas neurológicos, ou cânceres causados por esse produto. Com exceção às tentativas de suicídio não há registros de graves quadros de saúde em casos ocupacionais do glifosato”, garantiu o cientista ao falar que já realizou pesquisas nas cinco regiões do Brasil.

[featured_paragraph]Trapé, garantiu que o produto não causa danos à saúde. Ao falar da guerra ideológica dos ditos naturalistas que afirmam que a agronegócio mata, ele ainda ressaltou que se parar de usar esse produto o país quebra. “Questiono, vai quebrar o que tem sustentado o país?”. Mas sem querer entrar em discussões sobre o tema ele ainda afirmou, “Não sou militante, sou cientista. Trago estudos e pesquisas sobre produções agrícolas”, advertiu o cientista. [/featured_paragraph]

Segundo ele, os únicos casos negativos registrados se deram por conta de intoxicação. Contudo, só aconteceram por uma série de erros, o principal foi com relação ao tipo de exposição ao produto. Trapé avaliou que o tempo de exposição ao produto e o uso dos equipamentos de segurança é que define se há ou não risco de contaminação. “Se os EPI’s [Equipamentos de Proteção Individual] forem usados de forma correta, não há risco”, avaliou o pesquisador.

Ele também admitiu que de fato existe risco em se expor a esse tipo de produto. “Estamos em risco sempre. Ao acordar até a hora de dormir existe risco”. Explicou que tudo em grande quantidade ainda que seja inofensivo pode ocasionar doenças e até morte. “Até água mata, é só uma questão de dose”, afirma Trapé ao defender sua tese.

Paulo César Pires Rosa, químico e farmacêutico – Foto: Assessoria/Aprosoja

Pesquisa com Glifosato em Nova Mutum

O estudo desenvolvido pelo Laboratório de Análise Toxicológica da Unicamp foi realizado com amostras colhidas de produtores de Nova Mutum (MT), município que tem na produção de soja, milho e algodão a principal fonte econômica, sendo a segunda região de maior produção de grãos do estado.

De acordo com o químico e farmacêutico, Paulo César Pires Rosa, o método aplicado na pesquisa foi utilizado para dar mais segurança nos resultados e que houve certificação do aparelho utilizado para verificar as amostras.

Em 90 amostras de urinas de homens e mulheres que tiveram exposição ao herbicida por período maior que um ano, em apenas 11 (ou 12%) foram encontrados níveis quantificáveis de glifosato. Nestas amostras, o maior valor encontrado foi de 0,007mg/kg. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Ingestão Diária Aceitável (IDA) é 0,042mg/kg.

O laudo afirma que em nenhuma das amostras, a concentração de glifosato ultrapassa os valores permitidos, estabelecidos a níveis nacionais e internacionais. “De acordo com órgãos reguladores nos Estados Unidos, consideram como Ingestão Diária Aceitável (IDA) de glifosato 1,75mg/kg/dia. Na União Europeia esse limite é de 0,3mg/kg/dia”, conclui o laudo.

Angelo Zanaga Trapé, médico toxicologista – Foto: Assessoria/Aprosoja

Não há correlação entre o herbicida e doenças

Paulo Rosa alegou que pela pesquisa foi constatado que não há diferenças no quadro de saúde da população comum, que não tem contato com o produto, para os produtores que diariamente fazem o uso do glifosato. “Eles possuem os mesmos problemas de saúde que os demais brasileiros da mesma faixa etária”, garantiu o doutor. Segundo ele além da urina, foram feitos exames de sangue, checagem na pressão arterial e exames para avaliar o nível de intoxicação. Esses procedimentos foram feitos antes, durante e depois dos produtores fazerem o uso do insumo.

Ele ressaltou que não há correlação entre o herbicida e doenças. “O Japão é o país que mais usa esse produto e, é também o país com maior longevidade de vida”, avaliou. Ele ainda advertiu que se houvesse correlação do insumo com o câncer, as cidades produtoras do interior do estado deveriam ter um maior número de diagnósticos de cânceres do que em Cuiabá, uma vez que esse produto é utilizado por mais de dez anos nesses municípios.

[featured_paragraph]O doutor ainda adiantou que a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, ligada a Organização Mundial da Saúde, coloca o uso do glifosato em uma categoria “bizarra” de possíveis causadores de câncer. “Esse insumo está no mesmo grupo que fritura em alta temperatura, mudança de turno de trabalho, consumo de carne vermelha, dormir em cama de madeira, altas doses de bebidas alcoólicas, carne processada, radiação solar, terapia hormonal e poeira de madeira”, informou o pesquisador. [/featured_paragraph]

Suspensão pela Anvisa

Desconhecido até o início do mês, o glifosato saltou nos noticiários do Brasil após a juíza federal substituta Luciana Raquel Tolentino de Moura, da 7ª Vara do DF, determinar que a União suspendesse o registro de todos os produtos que utilizam o herbicida. Com essa decisão, a substância está suspensa por 30 dias ou até que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) conclua os procedimentos de reavaliação toxicológica.

Por ser um herbicida que atinge uma grande variedade de plantas, o glifosato vem sendo utilizado desde os anos 70. Desde 2008 está em primeiro lugar entre os herbicidas mais usados. Durante a reunião sobre o Agro+ o Ministro da Agricultura, Blairo Maggi, chegou a afirmar que “o uso do glifosato é que confere viabilidade a muitas culturas”. Caso essa situação não seja revertida, a safra 2018/19 pode ser comprometida.

VEJA MAIS: Maggi “adianta” decisão sobre glifosato, tribunal desmente e ministro tem que pedir desculpas

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