As memórias começam a falhar nas coisas corriqueiras, mas tudo parece normal. Até que um dia, algo realmente marcante acontece e mostra que o cérebro está precisando de atenção. Assim foi com a educadora Marina Marques de Arruda, 62.
Ela olhou para o rosto do filho e perguntou: “qual é seu nome mesmo?” As letras se embaralharam na cabeça dela e a palavra não saia. Um susto para quem estava próximo e um sentimento de impotência para ela.
Aquele momento foi um divisor de águas na vida da professora, que carrega consigo uma tatuagem de girassol no braço para lembrá-la que está sempre de frente para luz e de costas para escuridão.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem cerca de 29 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Desse total, 2 milhões sofrem de algum tipo de demência, sendo que de 40% a 60% são vítimas de Alzheimer em algum estágio.
Diante da estatística, Marina resolveu buscar a luz e ir atrás do tratamento, que inclui um trabalho multidisciplinar e ginástica cerebral.
A novidade
“Minha sobrinha ficou sabendo da existência de ginástica cerebral. Eu achei que eram só jogos e não estava muito firme. Mas, como sempre enfrento as situações, vim e me surpreendi”, afirma a educadora.
Sem pesos e acompanhada de cadernos e jogos, Marina seguiu para as aulas, que faz uma vez por semana, e diz que já teve resultados. Eles foram percebidos pela psicóloga dela, que de cara notou aumento da confiança e da autoestima.
“Logo que percebi que não estava bem, fiquei com um sentimento ruim. Tinha receio de ficar encostada e também me culpava por não ter percebido antes”, relembra a educadora.
Com o passar do tempo, Marina disse que percebeu uma melhora no raciocínio e também está recuperando aos poucos a agilidade nas respostas.
Entre os exercícios habituais, estão os indicados para desenvolver criatividade, autoestima, habilidades cognitivas, raciocínio lógico e memória. O proferido dela é o ábaco, uma espécie de aparelho de cálculos matemáticos.
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Sonhos
Marina já tem os próximos passos traçados. Agora é retomar o projeto de doutorado, viajar com a família e aproveitar a vida ao máximo.
Esse tipo de reação é comum a grande parte dos idosos que buscam a ginástica cerebral. diretora da unidade do Supera – Ginástica Cerebral localizada no bairro Jardim das Américas, em Cuiabá, Cristiane Gomes explica que algumas turmas chegam a montar grupos para atividades fora da escola.
Antes da pandemia, eles frequentemente se reuniam em festas e viagens. Também é perceptível o aumento da confiança e que eles deixam de ser cuidados para retomarem os cuidados com a família.
Ganham autonomia e reassumem seus lugares e atividades diante dos parentes e amigos.
“A maior parte chega indicado e, muitas vezes, com quadros de demência, tristeza e até mesmo depressão. Toda situação vem acompanhada do medo de ficarem dependentes”, relata Cristiane.
Indicações
Segundo Cristiane Gomes, a ginástica cerebral é indicada por muitos geriatras para a reabilitação cognitiva do paciente e acaba atingindo outros níveis da vida das pessoas, como as relações emocionais.
Além das atividades propostas, a escola se preocupa em oferecer, antes de tudo, acolhimento, motivação e orientação constante para que o idoso seja encaixado no grupo certo e tenha um acompanhamento de seus avanços.