Crônicas Policiais

Fraude funerária: três são alvos de operação por direcionar mortos em hospitais públicos

Principal alvo é vigilante de um hospital público e cobrava um percentual de cada uma das funerárias com quem tinha "acordo"

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Fraude funerária: três são alvos de operação por direcionar mortos em hospitais públicos
(Foto: PJC MT)

A Polícia Civil de Mato Grosso desencadeou hoje (1º) a Operação Rip Money, para cumprimento de mandados de busca e apreensão e decretação de medidas cautelares contra três investigados por se associar criminalmente para direcionar pessoas falecidas a prestadoras de serviços funerários, em três cidades do norte do estado. Os mandados estão sendo cumpridos em Sorriso, Sinop e Lucas do Rio Verde.

A Delegacia da Polícia Civil em Sorriso instaurou um inquérito, no ano passado, para apurar os delitos de associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e usurpação de função pública cometido pelos investigados, entre eles, um homem que trabalha como vigilante de um hospital público no município.

A operação cumpre buscas domiciliares em três endereços dos investigados e também medidas cautelares que determinaram o afastamento da função de vigilante e também de se aproximar dos hospitais e dos demais investigados.

Direcionamento de serviços

Conforme a investigação, o vigilante se oferecia para encaminhar corpos de pessoas que faleceram nos hospitais 13 de Maio e Regional de Sorriso e nos hospitais Santo Antônio e Regional de Sinop a funerárias das cidades mencionadas. Além disso, ele cobrava um percentual de cada uma das empresas com quem tinha um “acordo”.

À empresa com quem desejava negociar (que denunciou o esquema), o vigilante relatou em detalhes o funcionamento do esquema da associação criminosa e como negociava com as demais funerárias.

Depoimentos coletados durante a investigação apontaram que W.B.S. apresentou uma “negociação” com uma funerária, de um percentual de 15% do valor total que a empresa cobraria para fazer um translado fora do município. Caso a pessoa que falecesse fosse sepultada no município de Sorriso, o valor fixo cobrado seria de R$ 500,00.

A Polícia Civil apurou ainda que o investigado já tinha uma “parceria” com uma funerária de Sorriso e com outras duas de Lucas do Rio Verde e de Sinop, porém, com essas o valor cobrado era fixado em 10%, em acordo direto com os proprietários.

A investigação apontou ainda que, durante a tentativa de abrir mais uma negociação escusa com uma funerária, o investigado disse que tinha informações de quando havia óbitos nos hospitais e do estado de saúde de pacientes que estavam na UTI em estágio terminal.

Ele contou ainda que estava “passando os óbitos” dos hospitais Santo Antônio e Regional de Sinop a uma funerária já acordada, mas que tinha a intenção de passar os óbitos do Hospital Treze de Maio à funerária que denunciou o esquema.

Abordagem a familiares

A investigação da Delegacia de Sorriso reuniu informações que demonstram que o vigilante fez negociação de direcionamento de serviços funerários de dois pacientes ainda vivos, sob o argumento de que “a família tem dinheiro” e de que as pessoas estavam “desenganadas pelos médicos”.

Depois, ele explicou como deveria ser feita a aproximação das famílias em luto. Para isso, procurava se aproximar em momentos de mais sensibilidade dos familiares se passando por funcionários da Perícia Técnica Oficial (Politec-MT), a fim de ter acesso a dados pessoais e contatos telefônicos.

O investigado também disse em certa ocasião, demonstrando alegria: “pelo desespero da família aqui, acho que veio a óbito. Já vou descer lá”, ao falar como deveria ser a abordagem aos familiares de pacientes.

A Polícia Civil apurou também que dois proprietários de funerárias fizeram propostas ao vigilante para que os corpos dos hospitais públicos de Sinop fossem direcionados a suas empresas, o que caracterizou o crime de corrupção ativa.

Já o vigilante é investigado por associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e usurpação de função pública, este último por se fazer passar por servidor da Politec.

A operação tem como objetivo apreender materiais que possam reforçar a investigação e permitir à Polícia Civil identificar os agentes estatais que integram a associação criminosa.

Nome da operação

Rip é a sigla em latim para a expressão “requiescat in pace”, epitáfio que significa descanse em paz.

(Da Assessoria)

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