A utilização do Facebook, WhatsApp e YouTube como canais de informação sobre política quase dobrou as chances de voto em Jair Bolsonaro dos eleitores nas eleições de 2018. A informação é resultado de estudo publicado na Revista Dados nesta sexta-feira (16), por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Universidade Federal do Pará (UFPA).
Os pesquisadores fizeram uma análise estatística dos dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB), realizado logo após o segundo turno das eleições presidenciais de 2018. O trabalho mostrou que a utilização das redes sociais foi tão impactante como outras variáveis que influenciam na hora do voto em Jair Bolsonaro na última eleição: discurso anti-pluralista, valores religiosos e ideologia de direita.
Ao todo, foram entrevistados 2.506 eleitores brasileiros, com 16 anos ou mais. A margem de erro foi de 2,2% (para mais ou menos).
As chances de voto em Bolsonaro aumentaram em 97% entre os usuários que se informaram sobre política por meio do WhatsApp e 62% a mais entre os que se informaram pelo Facebook. O estudo mostra também que as chances de voto em Jair Bolsonaro foram maiores entre os evangélicos (83% eleita mais), e houve 23% menos chances de voto entre as mulheres e 45% menos chances entre os mais escolarizados.
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De acordo com Pedro Santos Mundim, um dos autores do artigo e professor da UFG, o foco da análise foi entender o peso do consumo midiático na eleição.
“Quando a mídia muda, a política também muda. Até hoje, nenhum estudo que foi feito sobre eleições de 2018 focou especificamente nessa relação entre voto e mídia, com o cruzamento de dados. É importante entender como esse novo ecossistema midiático acabou sendo benéfico para o Bolsonaro, justamente porque ele era um candidato que não tinha disponibilidade na mídia tradicional. No caso das redes sociais, há a comunicação direta do candidato com o eleitor”, afirma.
Redes sociais, democracia e eleições
Os pesquisadores acreditam que as redes sociais não podem mais ser ignoradas como uma variável de impacto na eleição de um candidato. Os resultados do estudo sugerem também que a comunicação pelas redes sociais foi, em 2018, um fator de influência aos públicos desinteressados politicamente devido à presença mais sutil dos conteúdos em favor de Bolsonaro.
Traçando um paralelo com as eleições atuais no ano de 2022, Mundim acredita que duas diferenças se destacam: outras candidaturas presidenciáveis perceberam o impacto das redes sociais no resultado de 2018 e utilizam-nas de forma mais estratégica e o contexto das mensagens dessas ferramentas não encontra um terreno tão fácil e propício como foi em 2018.
Por fim, os autores do estudo sugerem que as pesquisas realizadas após as eleições precisam atualizar as perguntas para abranger a exposição e recepção de conteúdo da mídia tradicional e também aprofundar o entendimento do consumo de novas mídias e a escolha política dos eleitores.
(Da Agência Bori)