Crônicas Policiais

“Extremamente covarde“: Tudo o que se sabe sobre o assassinato da advogada Cristiane Castrillon

Ex-PM que estuprou e matou advogada recebeu outra mulher em casa 30 minutos após abandonar o corpo de Cristiane

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“Extremamente covarde“: Tudo o que se sabe sobre o assassinato da advogada Cristiane Castrillon
(Foto: Reprodução / Facebook)

A Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) finalizou o inquérito do crime que vitimou a advogada Cristiane Castrillon da Fonseca Tirloni, 48 anos.

O ex-policial militar Almir Monteiro dos Reis, 49 anos, foi indiciado por 3 crimes: estupro, homicídio quadruplamente qualificado – motivo fútil, recurso que impossibilitou a defesa da vítima (asfixia), meio cruel (grave espancamento) e feminicídio – e fraude processual, ao tentar limpar a casa para garantir sua impunidade.

Segundo o delegado titular da DHPP, Marcelo Gomes de Oliveira, a violência sexual foi comprovada através de provas técnicas materiais. E, após o estupro e o homicídio, a perícia apontou que Almir lavou a casa com produtos químicos, entre eles a creolina, para tentar apagar as provas, o que caracterizou o crime de fraude processual.

“Extremamente covarde, animal. Um grau extremo de violência, que é algo conjugado tanto pela violência sexual, quanto pela violência física. E a dissimulação, a capacidade de colocar o outro dentro de um carro e simular que é um passageiro, colocar-lhe óculos escuros, para que transpareça para a sociedade que ela está viva no banco de trás do carro. Total desprezo com a vítima. E 30 minutos depois estar agarrado, aos beijos, com outra pessoa na porta da casa dele. Nem vou falar animal irracional, porque os animais têm questão de afeto. Ele é um completo covarde. Uma pessoa desprezível. Uma escória para a sociedade. Basta ver a ficha criminal dele”, disse o delegado.

O caso de Cristiane foi o 4º feminicídio registrado este ano na região Metropolitana de Cuiabá e todos os assassinos foram presos.

Caso Cristiane
Da esquerda para a direita: delegados Ricardo Franco, Marcelo Gomes de Oliveira e Edison Pick (Foto: Karina Cabral / O Livre)

Investigações

O inquérito presidido pelo delegado Edison Pick foi finalizado ontem (23). A DHPP analisou celulares e imagens, que apontaram todo o trajeto feito por Cristiane e Almir desde o momento em que se conheceram, no Bar Edgare, em Cuiabá, até a prisão de Almir em sua casa, após já ter abandonado o corpo de Cristiane no Parque das Águas. Testemunhas também foram ouvidas.

A investigação apontou que a advogada foi morta por “asfixia por compressão e tamponamento”, entre 0h e 2h do domingo (13).

“Possivelmente ele pressionou com a perna, com o joelho, a barriga dela. E com algum instrumento mole, que acreditamos que seja justamente um travesseiro, asfixiou as vias aéreas dela. Então, a causa da morte foi asfixia”, disse o delegado Marcelo Gomes de Oliveira.

Antes de matar a vítima, no entanto, Almir a estuprou. A Polícia Civil acredita, inclusive, que essa tenha sido a motivação do assassinato: esconder o estupro.

O primo de Cristiane, que estava com ela no bar em que a advogada conheceu Almir, foi ouvido. Uma vizinha do ex-policial, que ouviu um grito de madrugada também. Mas a testemunha principal foi uma mulher que havia acabado de passar por algo similar com Almir. Ela estava na casa no momento da prisão do indiciado.

Advogada - Cristiane - feminicídio
(Foto: reprodução / Facebook)

Sequência do crime

O delegado Marcelo Gomes contou hoje (24), em coletiva na DHPP, que, após matar Cristiane de madrugada, Almir limpou toda a casa com o corpo da advogada ainda no local.

A perícia apontou que o feminicídio aconteceu no quarto – em cima da cama -, que é o último cômodo da casa. Almir carregou o corpo da advogada até a sala – o que foi apontado pela perícia, que encontrou gotejamento de sangue no caminho -, onde o corpo de Cristiane ficou por mais tempo, pois foi o local com maior quantidade de sangue encontrado.

Os peritos ainda encontraram grande quantidade de sangue em torneiras e ralos, devido a Almir ter tentado lavar o travesseiro e o edredom que estavam na cama.

O ex-policial ficou com o corpo na casa até as 8h30, momento em que saiu da casa com o carro da advogada. Ele a colocou no banco de trás do veículo, com um óculos escuro, para simular que era uma passageira normal, apenas sentada.

Almir levou Cristiane até o Parque das Águas e abandonou o corpo e o carro dela no local, entre 8h30 e 9 horas, pegou um veículo por aplicativo e retornou para casa. 30 minutos depois, ele recebeu outra mulher na casa.

“Eu seria a próxima vítima”

Essa outra mulher foi uma testemunha chave na investigação. Ela havia conhecido Almir por um aplicativo de relacionamento e estava em seu 3º encontro com o ex-policial.

Imagens de câmeras de segurança gravaram Almir a recebendo com um beijo na boca 30 minutos após ter abandonado o corpo de Cristiane. A mulher passou o dia todo na casa do ex-policial e ainda estava no local quando a Polícia Civil chegou.

À polícia, ela contou que, no mesmo dia do feminicídio da advogada, Almir também havia prendido os braços dela para trás para tentar forçar uma ação sexual que ela não queria. Mas ela resistiu e conseguiu evitar. A perícia apontou que Cristiane tinha marcas de pressão no pulso.

Ele prendeu os braços dela [testemunha] para trás para tentar forçar um sexo anal e ela não permitiu. O que acreditamos que na noite anterior aconteceu com a Cristiane. E, justamente por a Cristiane não permitir essa prática desse ato, que ele prendia os braços para trás e segurava, por essa resistência, ela foi brutalmente agredida, espancada”, disse o delegado Marcel.

“Acreditamos que [o crime ocorreu] justamente pela resistência a uma prática sexual forçada. Então, após ele espancar a vítima, após ele violentar a vítima, ele, para praticar a impunidade, para querer ficar impune, ele mata a vítima, simula que a vítima adentra no veículo, coloca o óculos escuro na vítima, para fazer de conta que ela é uma passageira dentro do carro, em uma situação normal, e deixa esse corpo ali no Parque das Águas”, completou o delegado.

Ao ser informada sobre o que havia acontecido na casa naquele dia, a mulher que estava com Almir agradeceu à polícia e falou que “de repente, ela seria justamente a próxima vítima”.

Valmir na porta de casa (Caso Cristiane)
Câmera de segurança flagrou Valmir com uma nova mulher 30 minutos após abandonar o corpo de Cristiane (Foto: Luis Vinicius / RD News)

Mentalmente incapaz?

Almir optou por permanecer em silêncio durante o interrogatório. Porém, durante o período da lavratura do auto de prisão em flagrante, disse várias vezes: “Eu fiz merda mesmo, eu sou burro. Eu só não esperava que a polícia me prendesse tão rápido”, contou o delegado Marcel Gomes de Oliveira.

O feminicídio aconteceu entre 0h e 2 horas. O corpo foi abandonado no Parque das Águas entre 8h30 e 9 horas. O irmão de Cristiane a encontrou entre 14h30 e 15 horas. A DHPP foi acionada às 21h10. E às 23 horas Almir estava preso.

No momento da prisão, ele se contradisse várias vezes, o que, para o delegado que realizou a prisão em flagrante, Ricardo Franco, apenas apontava ainda mais a culpa do ex-policial.

Quando a polícia chegou e falou que ele sabia pelo que a equipe estava na casa, Almir logo falou: “Eu transei com a mulher a noite toda”. Questionado sobre que mulher estava falando, o ex-policial disse: “A do carro verde”, confirmando que a equipe estava na casa certa, visto que o Jeep de Cristiane era verde.

Depois, ele disse que iria falar a verdade, que ela havia caído na sala e batido a cabeça. E, aos poucos, conforme era questionado, começou a mostrar lugares que teriam um pouco de sangue e aumentar ou mudar a história.

A defesa do ex-policial tentou alegar que ele é diagnosticado com esquizofrenia. Porém, o delegado Marcel Gomes de Oliveira frisou um fato que pode derrubar a tese de que Almir seria mentalmente incapaz.

“O Almir, recentemente, inclusive foi objeto de análise das equipes de investigação, tirou a carteira de motorista. E, para tanto, ele anexou um laudo, no dia 23 de junho de 2023 – ou seja, um laudo que tem dois meses -, justamente dizendo que ele estava apto, tanto suas capacidades físicas, quanto suas capacidades mentais. E, consequentemente, ele tirou a carteira dele para ser motorista e trabalhar como motorista de táxi ou aplicativo”, contou o delegado.

“É padrão de criminoso, que pratica crime de feminicídio, alegar problemas de diabetes, problemas psiquiátricos, problemas de infância, de tudo, para poder fugir da aplicação da lei penal. Mas muito pelo contrário, na hora que a gente prendeu ele, se mostrou uma pessoa com muita capacidade mental para analisar, conversar e dizer tudo que estava acontecendo ali. Então, se me perguntarem isso, eu, no ponto de vista policial, eu vejo como uma pessoa capaz e muito tranquila até”, completou o delegado.

Ex-PM preso - Valmir - Caso Cristiane
(Foto: reprodução)

Possíveis novas vítimas

Até o momento, a polícia não recebeu novas denúncias contra Almir. Porém, os delegados da DHPP frisaram que todas as delegacias da Capital estão abertas para receber denúncias e acolher outras possíveis vítimas.

“A imagem dele foi amplamente divulgada após a prisão. Se qualquer pessoa o reconhecer, em qualquer situação relacionada a violência sexual, pode primeiramente procurar e confiar na polícia. A Delegacia da Mulher atua diretamente na repressão a esses crimes, mas qualquer unidade da Polícia Civil que receber esse tipo de demanda vai fazer os encaminhamentos devidos”, disse o delegado Marcel.

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