A busca por alimentos pode atingir um ponto crítico em 25 anos. Haverá mais pessoas no mundo e menos países com capacidade de produção em grande escala. A alta demanda convergirá com a exigência dos consumidores por sustentabilidade, e os produtores deverão de ter condições de atender as cobranças.
“Nós próximos 25 anos a população terá um acréscimo de 2 bilhões de pessoas no planeta, vai passar de 8 bilhões para 10 bilhões, e esses 2 bilhões a mais vêm de 9 de 193 países no mundo, são países em desenvolvimento. Quando os emergentes crescem, aumenta a demanda por alimentos, então é uma conclusão razoável que teremos uma demanda maior por alimentos”, diz o economista político e ex-presidente do Brics Marcos Troyjo.
A resposta para a situação, diz Troyjo, é a óbvia: será necessário produzir mais. O novo arrojo exigirá o aumento do campo de produção e também de tecnologia embutida nos meios de operação, tanto nos recursos naturais quanto nas máquinas.
“Terá que se usar de forma mais inteligentes recursos como a água, terá que se aumentar a armazenagem. Alguns países terão que tomar decisões muito difíceis, como aumentar a produção dos alimentos e, em alguns casos, vai representar mais tecnologia e menos mão de obra preparada”, comenta.
Cartas do Brasil no jogo
Troyjo avalia que o cenário econômico-político mundial passará por redistribuição das cartas de negociação, e o Brasil tem uma mão boa na rodada. Porém, existem desafios.
Mato Grosso é apontado como um exemplo de produtor de alimentos em condições de ir longe no jogo. O estado tem hoje a terceira maior produção mundial de grãos e carnes com a preservação de 60% do meio ambiente.
Esses dois índices que hoje brigam deverão estar casados para atender o mercado daqui um quarto de século. O uso mais adequado dos recursos naturais será necessário para aumentar a produção de alimentos e mostrar aos consumidores que o meio ambiente está sendo cuidado.
“Da mesma maneira que na tecnologia da informação nós temos o Vale do Silício como referência, na produção de alimentos nós temos Mato Grosso. E existe uma mudança estrutural na demanda por alimentos, é natural que nesse quadro um estado como Mato Grosso se destaque”, afirma Troyjo.
O economista diz que Mato Grosso precisa ficar atento às condições de infraestrutura necessária para a saída de alimentos para o mundo. Os pontos fracos estão identificados: acesso mais viável aos portos ao mar pelas ferrovias e outros meios de transportes mais adequados.
Blefe dos competidores
Porém, é exigida a atenção para a jogada dos competidores no mercado mundial. Troyjo avalia que as cobranças da sustentabilidade têm seus motivos, mas há quem use a situação para evitar a concorrência.
“É preciso tomar cuidado porque, às vezes, o discurso de proteção ambiental, de sustentabilidade, é usado para mascarar interesses protecionistas, interesses de competidores que querem continuar recebendo tratamento diferenciado nos seus países de origem. Agora, essa questão ambiental está vindo para ficar, não é só regulamentação, é uma questão de preferência dos consumidores. Há um discernimento a fazer”, pontua.
As alegações de blefe no mercado das commodities ficou mais notável, no caso de Mato Grosso, de 2019, quando países com a França e Alemanha passaram a fazer exigências que o governo de Mato Grosso considera mais mercadológica.
O episódio mais recente, uma semana atrás, é a moratória à soja e à carne produzida na região da floresta amazônica. Um grupo de trading vetou a negociação com produtores cuja área tenha sido desmatada até 2008. A legislação ambiental brasileira diz que não existe ilegalidade nesses casos.