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Em eleições, mais vale ser rabo de jacaré do que cabeça de lagartixa

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Em eleições, mais vale ser rabo de jacaré do que cabeça de lagartixa
(Foto: Divulgação/Justiça Eleitoral)

Algumas informações dos resultados das urnas de domingo passado, divulgados pelo TRE-MT estratificadas, permitem várias leituras políticas.

Foi a primeira eleição estadual sobre égide da lei eleitoral reformulada que definiu novas metodologias para as formações de chapas, pôs fim às coligações e definiu linhas de cortes mínimas para se eleger individualmente e por média de votos nas disputas proporcionais.

Faremos uma comparação entre os resultados das eleições 2018 com os de 2022 para observarmos o que mudou nas eleições para deputados estaduais em Mato Grosso.

Para começar, em 2018, 16 siglas elegeram representantes na AL-MT, esse número caiu para nove partidos nas últimas eleições: UB, MDB, PSB, PSD,PT, PSDB, CDD, PTB e PP.

Em 2018, a maior bancada eleita em Mato Groso era do MDB, que conseguiu três vagas na AL-MT. Na disputa atual, três partidos conquistaram, cada um, quatro cadeiras no legislativo, ou seja, metade das 24 vagas em disputa, UB, PSB e MDB.

Teve diminuição também no número de vagas conquistados pelos partidos através do cálculo da média eleitoral, chamado popularmente de sobras ou sobrinhas eleitorais.

De 12 eleitos pela média ou sobra no pleito passado, o número caiu pela metade, elegendo apenas seis deputados esse ano: Wilson Santos PSD, Avalone PSDB, Cláudio Paisagista PTB, Juca do Guaraná MDB, Júlio Campos UB e Dr. Eugênio PSB.

Uma curiosidade é que dois deputados reeleitos praticamente fizeram sozinhos os seus quocientes eleitorais batendo a casa de 70 e poucos mil votos: Janaína Riva, a campeã de votos, e Max Russi, o vice-líder.

A grande supresa eleitoral ficou por conta do PTB, que alcançou a média eleitoral para eleger um deputado. A sigla estava entre os cinco pequenos partidos da disputa que nas contas e nas pesquisas eleitorais não elegeria nenhum deputado.

Esse fenômeno se deve à perfomance extraordinária do candidato estreante eleito Cláudio Paisagista, que sustentou praticamente sozinho a média necessária para se eleger, obtendo mais de 26 mil votos.

Mesma sorte não teve o PODEMOS, que alcançou quase o mesmo quociente eleitoral, de mais de 70 mil votos, na sua chapa bem formada, mas não conseguiu garantir nenhuma vaga na AL-MT, porque nenhum candidato, individualmente, alcançou os 20% obrigatórios mínimos do quociente eleitoral para se eleger, algo em torno de 14 mil votos.

O mais votado dessa sigla, Inspetor Adriano, conseguiu 11.496 votos, tendo faltado em torno de 3 mil votos para conquistar uma cadeira na Assembleia. Por mais seguras que sejam as contas na montagem de chapas, a realidade das urnas sempre podem frustar ou surpreender as expectativas.

Outra curiosidade foi a quantidade individual de votos dos eleitos, pois nenhum dos 24 deputados se elegeram com menos de 20 mil votos.

Temos como exemplo o deputado João Batista, do SINDSPEN, que conseguiu eleger-se na média com apenas 11.374 votos em 2018, enquanto outros 19 candidatos concorrentes tiveram votação maior nominalmente que ele.

Nessa mesma disputa, cinco deputados se elegeram com menos de 14 mil votos. Com a definição de um piso mínimo em 2022 que representa os 20% para se eleger, nenhum candidato conseguiu entrar no parlamento com essa média eleitoral.

O próprio João Batista concorreu a reeleição desse ano, repetiu a mesma votação anterior e ficou na quarta suplência do PP.

O sarrafo eleitoral esse ano ficou bem mais alto que nas outras eleições e teve, por isso, pouco espaço para aventureiros e novatos. A política se profissionalizou muito nessas últimas eleições.

A distância no desempenho eleitoral entre os eleitos e não eleitos nessa última disputa diminuiu significativamente e apenas quatro candidatos não eleitos tiveram votações superiores à de Juca do Guaraná Filho, que teve 20.723 votos e assumiu a última vaga pela média de votos.

Pelo menos três deles, Gilberto Figueredo (UB), Damiani da TV (PSDB) e Delegado Claudiney (PL) estariam eleitos se tivessem escolhido outras siglas mais viáveis eleitoralmente.

Por isso a importância de saber fazer as conta certas sobre seu tamanho eleitoral e dos demais membros da chapa.

As novas regras, entre outros motivos, também favoreceram os candidatos á reeleição de uma maneira geral, prova disso foi a baixíssima renovação na AL-MT em Mato Grosso, que despencou dos 75% de renovação nas eleições passadas para apenas seis na nova legislatura: Jucá do Guaraná, Diego Guimarães, Cláudio Paisagista, Beto 2×1, Julio Campos e Fábio Tardin.

Se considerarmos que Alan Kardec e Ulisses não foram à reeleição estadual, a taxa de renovação é mais baixa ainda.

Para encerrar, fizemos algumas incursões sobre os resultados globais dos partidos e suas chapas. Foram 320 nomes registrados no TRE-MT e 1.728,267 votos validos.

Desses totais, 11% de todas as nominatas de todos partidos, ou 36 candidatos mais votados de 80 a 15 mil votos, obtiveram 63,50% dos votos válidos das eleições ou exatos 1.097.267.

Na ordem descrescente, outros 30 nomes de votações menores, entre 15 a 5 mil votos, obtiveram 16,41% dos votos ou 283.620.

Entre os demais 224 candidatos concorrentes menos votados, abaixo de mil votos, 70% das nominatas, tiveram 20,09% dos votos, ou 347.185.

As chapas que elegeram candidatos tiveram muitas cabeças, puxadores de votos, mas o corpo e o rabo ficaram atrofiados. Faltou o trabalho político de montar as chapas de maneira mais robusta e equilibrada. Prevaleceu o improviso dos partidos e a falta de trabalho partidário.

E fica o ensinamento, quem apostou em ficar concorrendo em chapas pequenas e médias de partidos, não soube avaliar seu próprio tamanho eleitoral, ou não soube escolher suas siglas, virou cabeça de lagartixa das chapas, sem nenhuma viabilidade eleitoral diante das novas regras e quem soube escolher o lugar certo nas chapas mais fortes, tiveram maiores chances e até maiores recursos de campanha, virou rabo de jacaré, um bicho muito mais difícil de ser predado.

Suelme Fernandes é historiador.

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