As provas do Enem terminaram, mas a angústia de quem fez o exame este ano pensando em entrar na faculdade está longe do fim. Depois da entrega das notas, é a hora de, efetivamente, escolher uma profissão e boa parte dos jovens ainda tem chegado a essa etapa sem rumo.
Seria esse o motivo de algumas carreiras – parte delas já saturadas – terem tanta procura enquanto, em outras, sobram vagas?
Filósofo clínico, o professor Douglas Remonatto – que atua no Colégio Maxi, em Cuiabá – diz ter notado uma espécie de fenômeno entre os jovens: eles não sabem exatamente o que querem, mas têm muita convicção do que não querem para suas carreiras.
Um comportamento que, para ele, pode explicar um dado preocupante para o setor produtivo do país: no Brasil, apenas 9% dos jovens saem do ensino médio com um diploma técnico ou profissionalizante.
Dos 37 países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil tem o segundo pior resultado. Em primeiro, aparece o Canadá.
Enquanto isso, outros dados apontam que até 2025, só Mato Grosso precisará qualificar 178 mil pessoas em ocupações industriais, sendo 39 mil em formação inicial – para repor inativos e preencher novas vagas.
Em todo o país, a demanda da indústria é de 9,6 milhões de trabalhadores qualificados, conforme dados do Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025.
O mundo inteiro como referência
Para o professor, esse comportamento dos jovens tem vários motivos, “mas acredito que o principal é que essa geração é constantemente bombardeada por modelos de vida que não são locais”, diz ele, numa referência clara às redes sociais.
Além disso, ele avalia que as condições de trabalho e a expectativa sobre a remuneração também podem ser fatores que afastam os jovens da trilha do ensino profissionalizante.
“Hoje, existe uma crença de que o trabalho precisa ser relacionado com algum tipo de propósito que você tenha para sua vida, algo que te satisfaça. Só que, muitas vezes, não é isso que o mercado oferece”, ele pontua.
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A maior parte dos jovens, segundo o professor, quer ocupar funções consideradas criativas ou com alguma relevância. O resultado disso, é olhar para as carreiras disponíveis no mercado de trabalho e conseguir fazer uma lista imensa das que não quer exercer, mas não encontrar uma que pareça atender a esses sonhos.
“Quando o mundo inteiro se torna uma referência para nós, acabamos perdendo essa identidade e referência daquilo que realmente somos. E temos que ter em mente que vivemos em um mundo bem confuso hoje”.
O que fazer?
O professor Remonatto, no entanto, diz que há solução e dá quatro dicas para serem seguidas por quem está nessa situação.
1 – O que é seu e o que você “pegou emprestado”?
“O jovem precisa tentar reconhecer que características são realmente da personalidade dele e quais ele apenas reproduz para, quem sabe, tentar se adaptar ao mundo. Como se descobre isso? A gente sempre tem mais fôlego para fazer o que realmente gosta”.
A dica do professor, então, é: faça coisas que você acredita serem interessantes. As que perderem a graça mais rápido, não são as coisas certas.
2 – Se dedique também a “inutilidade”
“Os jovens, hoje em dia, têm muitos compromisso. Eles fazem muitas coisas porque precisam. Sempre oriento eles a encontrarem um tempo para fazer algo de forma descompromissada”.
Remonatto ressalta: não se trata de fica no sofá assistindo televisão ou usando as redes sociais. A ideia é encontrar atividades que não tenham uma utilidade imediata para o seu dia, mas que apenas te façam se sentir bem.
3 – Ligue o “modo aleatório”
“Essa eu indico para casos mais graves, de jovens que realmente não sabem por onde começar. É só fazer uma coisa completamente diferente de tudo que você faz”.
Simples: se você nunca fez uma aula de dança de salão, vá! Não gostou? Escolha outra atividade. A proposta é se permitir ter experiências diferentes e tentar identificar de quais você mais gosta.
4 – Ajuda profissional, nunca é demais
“Simplesmente fazer testes vocacionais não resolve nada. É preciso orientação”.
O professor afirma que, além de psicólogos e psicanalistas, filósofos clínicos podem ser procurados para esse trabalho. Após alguns atendimentos é possível encontrar um caminho.