Carlos Alberto Gomes Bezerra mantinha uma vigilância constante da ex-namorada Thays Machado. O monitoramento, segundo a Polícia Judiciária Civil, iniciou quando os dois ainda mantinham um relacionamento amoroso. A mulher e o novo namorado, Willian César Moreno, foram assassinados por Carlinhos, como é popularmente conhecido.
Conforme o delegado Marcel Oliveira, que foi o responsável pelas investigações, Carlos Alberto colocou um GPS veicular no carro da vítima e escutas ambientais para monitorar os passos de Thays. Os locais onde as escutas foram descobertas não foram revelados pela polícia, e todos os materiais foram apreendidos após autorização judicial.
Dentre os objetos apreendidos, está um caderno onde Carlinhos, filho do deputado federal Carlos Bezerra, teria anotado detalhes sobre os aparelhos, como quando foi feita a instalação do equipamento no carro e por quanto tempo duraria a bateria. Além disso, foram encontrados 71 prints (fotos) de localizações de onde a vítima passava.
“O aparelho enviava a mensagem para ele (Carlos Alberto) que imprimia essa geolocalização da vítima. Inclusive, ele fazia links, ligando para a vítima e perguntava: ‘você está onde?’. Ela respondia e aí ele anotava nos prints para ver se eram compatíveis as informações. Então, os passos dela, eram vigiados”, destacou o delegado, em coletiva de imprensa hoje (30).
Oliveira destaca ainda que esse monitoramento começou em 2021 e há prints até de um período de 2022. Dessa forma, Carlos Alberto sabia e controlava toda a rotina de Thays.
Outra atitude que chamou a atenção da Polícia, foi o controle quanto às redes sociais. Carlinhos vigiava o perfil de Thays e mantinha uma planilha onde anotava quem havia “curtido” uma foto. Depois, Carlos Alberto questionava os homens sobre essa reação à imagem publicada pela mulher.
Ciumento e obsessivo
Esse comportamento obsessivo e controlador, inclusive, foi descrito por diversas testemunhas ouvidas pela polícia, pontuou o delegado.
Em um dos depoimentos, uma das pessoas contou que no segundo semestre do ano passado, Thays e Carlinhos estavam com o relacionamento rompido. A mulher saiu com alguns amigos para um bar da cidade. Na saída do local, foi surpreendida pelo então, ex-companheiro, que ainda tentou atropelá-la. Esse fato não foi registrado oficialmente.
“Os amigos relataram esse histórico violento. Tanto que ele foi proibido de entrar no Fórum de Várzea Grande, por conta dessa questão de violência. Em uma das vezes ele questionou um servidor sobre uma conversa que ele teve com Thays”, disse o delegado. Thays tinha parabenizado o colega pelo aniversário, que agradeceu a mensagem. À época, o homem registrou um boletim de ocorrências contra Carlos Alberto.
Inclusive, parte das pessoas ouvidas durante as investigações, relataram aos policiais que Thays estava muito feliz. Assim que voltou a trabalhar, disse que tinha terminado um “relacionamento tóxico”.
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Premeditado
Esse comportamento de Carlos Alberto, avaliou o delegado, reforçou o apontamento de que o crime foi premeditado. Inclusive, essa avaliação já tinha sido feita preliminarmente pela polícia.
No dia do crime, Carlos Alberto esperou a oportunidade para matar Thays e Willian. Aliás, o delegado informou que o relacionamento das vítimas, pelo que foi levantado nas investigações, iniciou por volta de 1º de janeiro, por conta de compra e venda de cachorros. Em 18 de janeiro, foi o primeiro encontro pessoalmente de Thays e Willian, já que o rapaz morava em São Paulo.
Ao ser preso, Carlinhos confessou a prática do duplo assassinato e alegou que estava sob uma neuropatia e “descompensa emocional”, causadas pela diabetes. Oliveira questionou a perícia técnica sobre essa influência desse quadro diabético nas emoções e na imputabilidade, ou seja, responsabilização pelo crime cometido.
De acordo com o delegado, a análise pericial informou que não tem relação entre a neuropatia que pode ser causada pela diabetes que possa resultar em imputabilidade, semimputabilidade ou violenta emoção.
“A pessoa que sai de casa com uma arma de fogo, ronda a casa da mãe da vítima, sendo que já realizou abordagens na madrugada anterior, mantinha o monitoramento da vítima, fica de tocaia esperando o melhor momento para atingir as vítimas não há que se falar em qualquer tipo de eventualidade. Foi premeditado, foi buscado esse resultado e ele (Carlos Alberto) o atingiu”, afirmou o delegado.
Indiciamento e denúncia
Diante desse resultado das investigações, a polícia indiciou Carlinhos por homicídios qualificados. As qualificadoras foram: motivo torpe, uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas (abordagem surpresa, veículo com película muito escura nos vidros, impossibilitando a visibilidade). No caso de Thays ainda foi acrescentado o feminicídio (crime cometido contra a mulher em condição do gênero feminino).
O inquérito foi remetido à Justiça na sexta-feira (27). No mesmo dia, o Ministério Públicou ofereceu a denúncia contra Carlos Alberto. O promotor Jaime Romaquelli ainda pediu que o denunciado seja mantido preso.