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Do prejuízo ao lucro: o que aconteceu nos Correios e a privatização ainda faz sentido?

A reportagem do LIVRE conversou com o homem que comandou o conselho administrativo da estatal nos últimos cerca de dois anos

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Do prejuízo ao lucro: o que aconteceu nos Correios e a privatização ainda faz sentido?
(Foto: Divulgação)

De um “rombo” acumulado de R$ 4 bilhões para a estimativa de lucro de R$ 2,5 bilhões ao final de 2021. Essa é a jornada que os Correios percorram nos últimos cerca de dois anos, segundo o coronel da Aeronáutica e secretário do Ministério da Ciênci e Tecnologia, Marcelo Meireles.

Diante do quadro de recuperação, a reportagem do LIVRE quis saber: ainda faz sentido privatizar a estatal? Para Meireles, a resposta é sim e não apenas por um motivo, mas vários.

Prejuízo real, mas não contábil

Marcelo Meireles esteve à frente dos Correios durante o período em que comandou o conselho de administração da estatal, de julho de 2019 a novembro deste ano. No meio do caminho – em outubro de 2020 -, pediu para continuar no cargo, apesar do desmembramento do Ministério das Comunicações.

Enquanto sua secretaria continuou vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a estatal passou a ser responsabilidade do Ministério das Comunicações, mas o plano de recuperação ainda não havia sido concluído.

Ao LIVRE, Meireles contou como as antigas administrações dos Correios burlavam os balanços para o rombo financeiro não aparecer. Também o que foi preciso fazer para reverter a situação.

Segundo ele, antes do governo Bolsonaro, uma série de medidas necessárias não eram adotadas numa tentativa de “maquiar” a situação financeira dos Correios.

“Por exemplo: havia cerca de 100 mil ações judiciais que precisavam de previsão de receita para serem pagas, mas essa previsão não estava nos balanços. Também não eram feitas as depreciações dos imóveis, para avaliar o quanto haviam desvalorizado com o tempo. Isso e outras coisas fazia com que, embora houvesse um prejuízo real, não houvesse um prejuízo contábil”, ele explicou.

A “manobra” não era suficiente, todavia, para enganar auditorias externas. Meireles afirma que uma delas chegou a apontar para o risco de descontinuidade do serviço prestado pelos Correios.

(Foto: Agência Brasil)

Ações que levaram a mudança

Meireles conta que o primeiro passo foi administrativo: da troca das equipes – de indicações meramente políticas para pessoas com bagagem técnica para ocupar os cargos, conforme ele -, ao enxugamento de despesas desnecessárias.

“Nós recolhemos cerca de 400 veículos que ficavam à disposição de diretores e outros funcionários. Cancelamos mais de 1,5 mil planos de telefonia que incluíam aparelhos celulares, desses de última geração”, exemplifica.

Além disso, estruturas que nunca funcionaram para o propósito ao qual foram criadas também foram desfeitas. Exemplo disso, segundo Meireles, foi a Correios PAR, uma subsidiária cujo objetivo era cuidar da participação dos Correios em outras empresas, mas que, embora tivesse estrutura montada para isso, simplesmente nunca funcionou, disse o secretário.

Exugando a folha de pagamento

Outro passo importante, conforme Meireles, para a recuperação econômica dos Correios foram mudanças no departamento de recursos humanos. “Nossos acordos coletivos eram um problema, porque quem representava a empresa nessas negociações também eram funcionários. Isso fez com que os Correios chegassem a oferecer 78 benefícios não previstos na CLT”, conta o secretário.

Entre as “regalias” que os funcionários dos Correios tinham estavam 75% do salário como adicional de férias – no lugar do 1/3 que empresas privadas pagam -, uma gratificação natalina de 25%, segundo Meireles, chamada de “vale peru” e um plano de saúde com cobertura absoluta.

“O funcionário tinha direito a colocar quantos dependentes quisesse. Filhos, cônjuges, pais, avós. Nós trouxemo isso para algo mais real, mais perto do que empresas privadas forncem para seus funcionários”.

E os problemas não eram só para a empresa. Conforme Meireles, os benefícios além da média passaram a prejudicar os próprios funcionários. Foi o caso do plano de previdência, cujo prejuízo acumulado de 2011 a 2017 precisou ser dividido entre a estatal e os empregados.

(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Então, por que privatizar agora?

As mudanças promovidas pela equipe de Marcelo Meireles nos Correios, segundo ele, fizeram a empresa passar de um prejuízo anual de R$ 1 bilhão em 2019, para a estimativa de lucro de R$ 2,5 bilhões ao final de 2021.

“Em 2020 já tivemos um lucro de R$ 1,5 bilhão e o primeiro semestre de 2021 rendeu R$ 1,8 bilhão”, ele disse.

Mesmo assim, Meireles acredita que privatizar é importante. Uma das razões para isso está, justamente, no valor de mercado da estatal que, conforme ele, passou de R$ 2 bilhões para R$ 20 bilhões. “Um dinheiro que poderia ser investido em outras coisas, investimentos que só o Estado pode fazer”.

Além disso, o secretário cita que, sendo uma estatal, os Correios não pagam impostos. A privatização, portanto, renderia duas vezes. Além do valor da venda, a receita que entraria nos cofres públicos com a arrecadação dos tributos que empresas privadas pagam.

Outra preocupação de Meireles é o fato, segundo ele, de todos os problemas corrigidos terem sido causados, exatamente, por se tratar de uma estatal. Ele sustenta ainda que não há mais justificativas para isso.

“A estatal existe para suprir falhas do mercado, o que não é mais o caso. Temos concorrentes e eles prestam um bom serviço. Fazem isso porque é mais fácil fazer investimentos e ter liberdade de atuação quando se trata de empresa privada. No caso dos Correios, os investimentos teriam que sair de uma fonte de dinheiro público que poderia servir para outros propósitos”.

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