Brasil

Ditadura ou desemprego: venezuelanos penam para encontrar trabalho no Brasil

4 minutos de leitura
Ditadura ou desemprego: venezuelanos penam para encontrar trabalho no Brasil
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Em todo o Brasil, já são quase 40 mil venezuelanos fugidos do regime ditatorial socialista imposto no país vizinho e que, apesar de estarem amparados pelas diretrizes traçadas no Estatuto do Refugiado (Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997), cruzam as fronteiras e encaram um segundo desafio: como ganhar a vida no país que também enfrenta uma crise, ainda que de menores proporções que aquela vivida noa Venezuela?

O governo brasileiro, em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), enviou parte dos refugiados para cidades no interior. Cuiabá foi um desses destinos e recebeu, até o momento, pouco mais de uma centena de venezuelanos.

Sandra Velasquez, de 35 anos, está entre eles. Formada em Química na Venezuela, ela está no Brasil há quatro meses e enfrenta dificuldades para conseguir emprego.

“É muito difícil ser empregada, não temos habilidade com o português, brasileiros não querem contratar a gente”, conta. Sandra também revelou que, apesar de ter vindo para o Brasil com o marido e três filhas, ainda sonha em voltar para o seu país em um momento que a crise arrefeça por lá.

“Quando o governo melhorar, eu quero voltar, é minha casa. Eu quero voltar pra Venezuela”, diz, numa mescla de emoções que mistura tristeza e esperança.

Ela conversou com a reportagem do Livre na tarde de terça-feira (13), dia em que normalmente estaria trabalhando. Mas essa oportunidade, por aqui, ainda não chegou.

Em situação semelhante, o ex-policial Ondiz Samil, de 31 anos, conta uma história ainda mais dramática. Durante uma ronda, caiu da moto e se viu desamparado pelo governo. Seu rosto ficou parcialmente desfigurado e o tratamento foi negligenciado.

Ele é casado e pai de dois filhos. Sua família, porém, não o acompanhou ao Brasil. Seu compromisso é enviar dinheiro para que os familiares não passem fome na terra natal.

“Minha esposa me manda fotos das geladeiras vazias, dos armários vazios, eu não sei o que fazer, estou desesperado”, conta.

Ele está há dois meses em Cuiabá e ainda não conseguiu trabalho. Ele conta ter sofrido perseguição política no seu país. Nas últimas eleições, ele relata ter sido obrigado pela ditadura venezuelana a votar em Nicolás Maduro, atual presidente, para não perder o emprego e pleitear uma cirurgia de reconstrução facial.

“É uma ditadura. Eu não tinha liberdade, tive que sair”.

Pastoral

Em comum, além do desemprego e das dificuldades para se incluir na sociedade, Sandra e Ondiz estão refugiados na Pastoral do Migrante de Cuiabá, uma organização da Igreja Católica que busca auxiliar refugiados.

Eliana Vitaliano na Paróquia dos Imigrantes (Foto: Lucas Bellinello/ O Livre)

Eliana Vitaliano, responsável pela entidade, conta que foi a pedido da Organização das Nações Unidas (ONU) que o serviço de acolhida voltou a abrir as portas para os venezuelanos.

“Fazia tempo que Cuiabá não recebia imigrantes até a situação da Venezuela piorar. Hoje já recebemos mais de 100, mais do que podemos”, conta Eliana.

Advogado Ítalo Cunha (Foto: Divulgação)

O advogado Ítalo Cunha defende a política de fronteiras abertas para os imigrantes venezuelanos como uma medida reparativa ao apoio que o governo brasileiro deu à ditadura venezuelana.

“Nós permanecemos calados e aliados a um regime que cassou os direitos individuais. Agora temos responsabilidade pela omissão. Isso passa por integrar e ajudar as pessoas que sofreram com nosso silêncio”, avalia.

Em São Paulo, ele elabora uma cartilha com informações e serviços que buscam incluir os venezuelanos na sociedade brasileira. Por ora, porém, ainda não obteve muito sucesso.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes