Comportamento

Como se isolar de quem mora na mesma casa? Pacientes da covid contam experiências

Se manter longe dos demais é quase impossível. Mas o que é tortura para uns, soa como conforto para outros

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Como se isolar de quem mora na mesma casa? Pacientes da covid contam experiências
(Foto: Reprodução/Site Expresso)

A estudante Tatiane Branco, 33 anos e grávida de seis meses, recebeu o resultado positivo para a covid-19 numa quarta-feira, dois dias depois de seu marido também testar positivo para a doença.  

A família da jovem é um retrato claro da realidade vivida por uma boa parte dos pacientes da pandemia. Afinal, como se isolar das pessoas que dividem a casa com você? 

O casal tem um filho de três anos que, conta a mãe, teve febre e coriza por dois dias. Ele não passou por teste, mas os pais entenderam que, dada a convivência, é natural que a criança também tenha contraído o vírus.

Os três ficaram trancados em casa por 20 dias sem contato físico com o mundo de fora.

“Foram dias difíceis. No quinto dia precisei ir ao médico para saber como estava a minha gravidez. Eu estava no sexto mês e consultava meu obstetra o tempo todo”, conta. 

A secretária Selma Soares, 30, teve reações bem fortes e pela “vontade de Deus” seu marido não foi infectado. Ele foi responsável por cuidar dela ao longo dos 28 dias em que ficou doente. 

“Os 14 primeiros foram os mais difíceis, eu não conseguia levantar da cama, minhas pernas estavam muito pesadas. Não comia e aumentava a fraqueza. Precisava do meu marido para tudo, desde trazer um copo d’água a dar banho”, ela lembra. 

Selma desenvolveu pneumonia em decorrência da infecção pelo novo coronavírus. Ela e o marido moram sozinhos e ficaram todo período sem abrir a porta nem para familiares. 

“Minha sogra vinha deixar almoço e frutas na porta. A gente só abria a porta depois que ela se afastava. Meu marido não pegou a doença porque Deus não quis”, disse.

Da porta para dentro, manter distância de quem não está doente é quase impossível, relatam vítimas (Foto: Arquivo O Livre)

A tensão do convívio 

Apesar das dificuldades, a agente comunitária Dinorá Arcanjo diz que o isolamento domiciliar das pessoas doentes tem dado resultado positivo, mesmo nos casos de famílias grandes morando em casas pequenas. 

Dinorá trabalha no polo do Bairro Osmar Cabral, em Cuiabá. Uma região que, segundo ela,  teve um número alto de contágios e mortes nas últimas semanas. 

Mesmo assim, o comprometimento das pessoas doentes em cumprir as regras de isolamento contribuiu para que o quadro não fosse pior.  

“As pessoas estão conscientes. Estão com medo, porque é uma doença que mata, então, estão fazendo tudo direitinho”, afirma. 

As regras de convivência domiciliar são as mesmas para todos: separar utensílios só para os doentes, manter um quarto onde a pessoa infectada possa passar a maior tempo e sempre manter o uso da máscara. 

“Esse procedimento tem durado uma semana mais ou menos. Depois desse tempo, o risco de contágio acaba e a pessoa pode voltar a circular pela casa com menos restrição. O tempo de contágio é igual ao do sarampo, da catapora”, ela explica. 

O psicológico no isolamento 

Conforme os boletins informativos da Secretaria de Estado de Saúde (SES), a maior parte dos casos confirmados da covid-19 está sendo tratado em casa, em isolamento domiciliar com acompanhamento médico.  

Na quinta-feira (16), por exemplo, o registro oficial da pandemia indicava 31.717 diagnósticos desde o início da pandemia. Desses, cerca de 15,4 mil pessoas ainda estavam doentes, mas menos de mil delas estavam internadas. 

Entre aqueles que ficam em casa, os efeitos psicológicos são diversos, tanto pelo quadro da doença quanto pela consciência de estar em um ambiente familiar. 

Eu fiquei 14 dias dentro do quarto, só saía para ir ao banheiro ou tomar sol pela manhã no quintal. Até o banheiro que usava foi isolado somente para mim. Achei que ia ficar louco”, conta o funcionário público Thúlio Ayres Coelho, 29.

Ele se trancou no quarto por duas semanas para evitar que sua mãe, uma idosa 58 anos, também adoecesse. Ela está no grupo de risco com anemia e hipertensão.

Já para Selma Soares, saber que estava dentro de casa e acompanhada pelo marido foi fator que contribuiu para suportar a doença. Ela teve a experiência de perder uma colega de trabalho para o coronavírus, cujo quadro piorou após a internação. 

Só de me falarem que precisaria internar já me causava desespero, começava a chorar e entrava em pânico. Os médicos que me atenderam pelo WhatsApp disseram que o fator psicológico contribui muito para a doença e, quando se entra no hospital, a pessoa fica isolada”, disse. 

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