Custo alto, preços baixos, comercialização lenta, e incertezas climáticas formam um cenário pessimista para os produtores de algodão na safra 2019/20. Durante Encontro Técnico do Algodão – promovido pela Fundação Mato Grosso nesta semana em Cuiabá (MT) – é consenso entre analistas e agricultores que o próximo ciclo demandará mais esforços do cotonicultor para que a conta feche.
Em Mato Grosso, a área plantada pode ter uma redução de pelo menos 10%, passando de 1,072 mi de hectares para cerca de 900 mil, caso o mercado não reaja até janeiro, avalia o consultor e ex-presidente da Abrapa, Sérgio de Marco.
“Se o mercado reagir daqui até janeiro, o produtor vende algodão e planta algodão. Agora se não reagir, o produtor pode sair do algodão e ir para o milho. O preço do cereal não vai baixar dos R$ 22, há muita demanda em razão do etanol”.
Ele explica que é preciso aguardar o plantio da soja para que seja definida a janela do algodão e então checar a viabilidade das culturas. Até o momento apenas 40% da safra 19/20 foi comercializada, enquanto na anterior, neste período, cerca de 70% da produção já havia sido negociada, com bons preços.
O consultor avalia que o produtor terá que reaprender a fazer o “feijão com arroz na cultura do algodão” para se ajustar e reduzir o custo de produção. “Só assim para o produtor voltar a ter margem. Talvez tenha que tirar um manejo diferente da cartola, um algodão mais curto com 150 dias. Assim, escapa do alongamento, faz menos aplicações. Basta escolher a variedade correta, avaliar o solo, e fazer coisas que a gente estava relaxando”, disse.
Tomada de decisão
O superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca, explica que o custo operacional se manteve em um patamar muito elevado, contudo, o preço da arroba do algodão disponível está 32% menor, quando comparado a 12 meses atrás.
Latorraca destaca que o produtor tem pouco tempo para a tomada de decisão. “O desafio agora é a tomada de decisão do produtor diante da piora do algodão, em relação ao ano passado. Neste mesmo período houve melhora no milho. Agora essa é uma decisão que o produtor vai ter que tomar para a segunda safra dessa temporada 19/20”, disse o superintendente.
Para ele, diante desse cenário, é difícil o cotonicultor ficar otimista e que a situação dos que não venderam suas plumas é ainda mais complicada. “O preço caiu muito. Estamos falando de um valor que é basicamente o custo de produção operacional em Mato Grosso. Não há uma perspectiva de melhora de preço, uma vez que os estoques de pluma também estão altos”, observa.
Segundo ele, a solução para esse problema pode ser a guerra comercial entre os Estados Unidos e China, já que o continente asiático pode aumentar a demanda de algodão vindo do Brasil. Mas ele lembra que não é isso que tem visto na reação de prêmios no porto, como é comum na comercialização da soja.
Desafios e soluções
Para o diretor técnico da Fundação MT, Leandro Zancanaro, os cotonicultores terão o desafio de reduzir custo e manter a produtividade. “É um grande desafio, mas é possível”, afirma.
Cumprindo esses dois objetivos, ele acredita que será possível mexer nos preços na próxima safra. “Esse é o momento do se aplicar tecnologia que é o conhecimento com base científica aplicada em uma atividade”.
A solução, segundo Zancanaro, é aplicar no campo o conhecimento que o agrônomo adquiriu nas salas de aula. “Não temos que inventar moda, é selecionar as melhores áreas, as quais temos segurança de que vão produzir mais e investir em materiais mais resistentes”, disse.
Ele também defende que os cotonicultores façam ciclos mais curtos. “Essa pode ser uma boa solução. Porque quanto menos tempo a lavoura fica no campo, menos tempo você tem que cuidar dela”.