Cidades

Alunos se revoltam com universidade que cobra mais de R$ 10 mil por aulas pela internet

Estudantes estão com as aulas práticas suspensas por causa da pandemia, mas continuam a pagar preço cheio das mensalidades há quatro meses

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Alunos se revoltam com universidade que cobra mais de R$ 10 mil por aulas pela internet
(Foto: Divulgação)

Alunos do Univag Centro Universitário, em Várzea Grande (região metropolitana de Cuiabá), estão pagando a mensalidade cheia de seus cursos durante a pandemia, mesmo nos casos em que as aulas dependem totalmente da ida a campo para desenvolvimento de trabalho. 

A situação se arrasta desde o fim de março e a reitoria da instituição ainda não teria dado resposta, o que tem revoltado os estudantes – que reclamam ainda de estarem sendo censurados nas redes sociais da instituição. 

A reclamação tem sido feita principalmente pelos estudantes de medicina, cuja mensalidade gira em torno de R$ 10,5 mil. Thaianny Dazin, universitária do sexto semestre, disse que tem feito aulas ao estilo de cartilha nos últimos quatro meses, porque a presença em hospitais e unidades de atenção primária está vetada. 

“Entendo que a pandemia nos impede de ir para o campo. Mas a universidade deveria reduzir a minha mensalidade de R$ 10,5 mil. Ela não está tendo gasto nenhum com manutenção do curso, com energia elétrica, por exemplo, já que as aulas estão sendo todas EAD (ensino à distância)”, conta. 

Priscila Albernaz Costa Arruda, também do sexto semestre, diz que sua aprendizagem se reduziu a 30%, por causa de matérias pouco aproveitadas. Conforme as estudantes, neste nível do curso as aulas são 70% práticas e 30% teóricas. 

Num momento de normalidade, elas deveriam estar em visita a postos de saúde, para o trabalho de interação com a comunidade, e treinando habilidades cirúrgicas, por exemplo. Atividades que elas vêem como justificativa para o preço das mensalidades. 

“Minha aprendizagem está péssima, caiu a 30%. Já tivemos várias provas, mas eu diria que consegui absorver pouca coisa. A universidade diz que o diferencial do curso é ter contato com a prática desde o início, mas isso não está ocorrendo e estamos pagando R$ 10,5 mil por mês”, disse Priscila. 

Sem opções 

Álvaro Ramalho, que está no quinto ano, diz que os alunos estão enfrentando dificuldades com a administração da faculdade de medicina da Univag desde o início da pandemia. 

A instituição não liberou que os alunos com 75% do curso concluído antecipassem a colação de grau, em abril, para que estivessem disponíveis para trabalhar no front da pandemia. 

Turmas que estavam nessas condições precisaram ir à Justiça para ter o benefício concedido, conforme orientação do Ministério da Saúde, durante a gestão do ex-ministro Nelson Mandetta. 

“E agora ficamos dois meses parados desde o fim de março, por causa do risco de contágio para os estudantes de internato. Voltamos em junho, mas novamente as atividades foram suspensas por causa da taxa de ocupação dos leitos”, afirmou Álvaro. 

Ele disse que a maior preocupação, neste momento, é com a reposição das horas-aulas que estão passando por causa da pandemia. A grade de aulas daqui para a frente deverá ser completa, sem espaço para inserção de horas extras. 

Mesmo choque poderá ocorrer com os universitários nas fases iniciais do curso. 

“Censura” 

Uma abaixo-assinado online de alunos da Univag já tinha quase mil assinaturas até o fim da manhã dessa segunda-feira (6). O documento virtual tem a finalidade de sensibilizar a reitoria para reduzir os custos da mensalidade. 

A estudante Jéssica Rodrigues de Oliveira, presidente do Centro Acadêmico de Medicina da Univag (Cadam), diz que a maioria dos estudantes está enfrentando dificuldades com as aulas online, seja por falta de adaptação, seja por falta de infraestrutura para acesso às atividades virtuais. 

“Os estudantes de medicina estão reclamando mais por causa do custo da mensalidade, mas não é somente eles que estão com dificuldades. Tem aluno que não tem condições de acessar a rede e isso está atrapalhando o acompanhamento”, comentou. 

Os pedidos para redução da mensalidade levaram à criação de um perfil no Instagram para cobrar a universidade. A quantidade elevada de reclamações acabou chamando a atenção por causa das frequentes marcações nos posts do perfil da Univag. 

“A resposta dela para isso foi bloquear os comentários em seu perfil e pagar todas as reclamações, sem mostrar qualquer simpatia pela situação dos estudantes”, disse Thaianny Dazin. 

A censura levou à criação de um perfil exclusivo com posts que o perfil moderado pela instituiu apagou. Até a amanhã de hoje haviam 17 mensagem postadas. 

O que diz a Univag

Em resposta ao LIVRE, a administração da Univag informou que está adotando medidas para manter as atividades das grades de aulas por meio da educação domiciliar emergencial. 

Esse modelo seria diferente da EAD e dispenderia gastos para a oferta das atividades. Ele justificaria a manutenção normal das mensalidades, visto que não tem o custo mais baixo da educação à distância. 

“No modelo do UNIVAG, as aulas acontecem todos os dias da semana, como no presencial (exceção apenas para as aulas práticas que serão repostas tão logo as autoridades presenciais permitam). No EAD, os encontros são esporádicos – apenas uma vez por semana ou mês (considerando todas as disciplinas). O EAD considerado mais barato, tem uma frequência de aulas bem menor do que a oferecida pela educação domiciliar emergencial do UNIVAG. Sendo assim, os custos foram mantidos”, informa trecho da nota. 

Conforme a instituição, o modelo domiciliar emergencial está sendo aplicado com a participação ao vivo dos professores por aplicativos do Google e por instrumento próprio da universidade. 

O material que está sendo aplicado seria o mesmo que o dado em sala de aula. 

A nota não explica em relação à aula de campo dos estudantes de medicina.

Mas, diz que a instituição tem aplicado a lei estadual desconto entre 10% e 30% na mensalidade a estudantes que comprovarem perda de renda durante a pandemia.

Quanto às reclamações de censura, o Univag afirmou que apagou posts com cunho ofensivo ou com uso de palavras de baixo calão. 

“Quando há reclamação em algum comentário o Univag orienta o aluno a ir diretamente na Ouvidoria da Instituição, onde ele terá 100% da resposta questionada”, disse. 

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