Os últimos dias têm sido cinzentos em São Paulo. Dias de garoa e frio. Dias que adoro.

No começo da adolescência esse tempo me enfurecia. Sabia que ninguém sairia de casa, ficava entediada e ansiava por dias de sol e alegria.

Com o passar dos anos, passei a amar dias sem cor.

Os dois lugares onde morei nos Estados Unidos eram cinzentos durante quase seis meses do ano. Além disso, tinha o branco da neve cobrindo gramas, árvores e telhados boa parte do inverno.

Nunca me cansei desse cenário idílico, que parecia uma tela pintada a mão. Uma obra triste e sem vida, diriam alguns. Uma retrato da natureza divina, que resplandecia, religiosamente, com a chegada da primavera — eu diria.

Mas, afinal, qual meu fascínio por uma paisagem assim?

Dias cinzentos, para mim, são poéticos. São típicos para refletir, ler, dar uma pausa. Nada combina mais com trabalho do que um dia chuvoso.

Quem quer produzir quando o sol é um convite para sairmos de casa? Quem quer ficar trancado em um escritório quando a temperatura pede celebração?

Dias cinzentos são introspectivos. São necessários.

Costumava dizer que o nordeste americano era mais avançado do que o sul por causa da temperatura. Que o calor tira a nossa concentração, nos deixa serelepes e saidinhos. Já o inverno nos permite parar para respirar. O tempo fica loooongo, podemos começar várias tarefas e terminar todas, sem pressa de ir para a rua, tão fria e molhada.

Acho que o clima se aplica à personalidade das pessoas também.

As almas com cinza pedem dias assim, onde se encontram interna e externamente. Onde a cor do mundo se torna a extensão de seus sentimentos.

Conheço gente ensolarada que não suporta dias sem cor. Ficam desanimadas, quase deprimidas. Não entendem que dias ensolarados só fazem sentido porque temos os cinzentos.

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