Ednilson Aguiar/O Livre
Alan Malouf confirmou que posse foi paga sem nenhum contrato com o governo
Em depoimento à Justiça nesta sexta-feira (21), o empresário Alan Malouf, sócio do Buffet Leila Malouf, disse que recebeu “por fora” um pagamento de R$ 950 mil relativo à realização da cerimônia de posse de Silval Barbosa no governo do Estado em janeiro de 2011.
“Eu recebi em duas parcelas, parte por um motorista que me entregou cheques e outra por um funcionário meu que me passou. Eu suspeitava [que era ilegal]. Mas ou eu recebia assim ou não recebia”, disse.
Alan relatou que foi procurado pelo então chefe da Casa Civil, Éder Morais, em dezembro de 2010. “Ele me falou que o governador queria fazer a posse para cerca de mil pessoas e que seria paga com verba de gabinete”, disse. No entanto, o evento acabou reunindo mais de 4 mil pessoas, disse o empresário. Ele ainda revelou que não houve contrato com o governo, nem emissão de nota fiscal.
Jogo de empurra
Depois da posse, passou a cobrar Éder e até mesmo o próprio Silval, mas viveu um jogo de empurra entre Pedro Nadaf e Maurício Guimarães, que eram secretários do governo.
Ao final, recebeu o pagamento em dois envelopes separados com vários cheques – cada um com cerca de R$ 400 mil. Questionado, o empresário disse não se lembrar quem eram as pessoas que emitiram os cheques.
“Alguém ligou da Casa Civil ligou e avisou que alguém iria levar os valores”, disse.
Promotora e juíza pressionam
“No Direito, a gente fala de cegueira deliberada. O senhor estava com uma dívida de quatro anos, era conveniente que o senhor não soubesse da origem desse dinheiro?”, questionou a promotora Ana Cristina Bardusco, lembrando que Alan Malouf foi dono de uma factoring por 12 anos e certamente sabe da regras do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para se evitar a lavagem de dinheiro.
“No momento eu nem pensei nisso, só meses depois foi que eu passei a suspeitar”, respondeu.
Alan também relatou que pegou emprestada a quantia de R$ 1,6 milhão de Pedro Nadaf e R$ 600 mil de Arnaldo Alves. Evitando responder a perguntas sobre a origem do dinheiro – que suspeita-se ser ilegal – a juíza Selma Arruda disse ao advogado do empresário que Alan “não me parece estar merecendo o benefício da confissão”.
O depoimento foi dado em audiência da quarta fase da Operação Sodoma. O Ministério Público Estadual (MPE) investiga a desapropriação do terreno do bairro Jardim Liberdade por R$ 31,7 milhões pagos pelo Estado. Metade deste valor, R$ 15,8 milhões, teriam retornado ao grupo liderado pelo ex-governador Silval Barbosa por meio da SF Assessoria e Organização de Eventos, uma empresa de fachada.