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A arrogante necessidade de se controlar resultados

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A arrogante necessidade de se controlar resultados
Hayek: A humanidade aprende e desaprende, aceita alguns valores, obedece e prospera

O economista Friedrich Hayek, em “A Arrogância Fatal”, um de seus livros mais brilhantes, afirma que para compreender nossa civilização precisamos entender que a ordem econômica de cooperação humana que hoje se observa não foi fruto do desígnio ou da intenção humana, mas nasceu espontaneamente.

“… nasceu de certos costumes tradicionais e em grande parte morais, muitos dos quais desagradam aos homens, cuja importância estes em geral não entendem, e cuja validade não podem provar, e que, não obstante, difundiram-se de modo relativamente rápido graças a uma seleção evolucionária – o crescimento comparativo da população e da riqueza, dos grupos que por acaso os seguiram. A adoção não premeditada, relutante, até mesmo penosa desses costumes manteve tais grupos unidos, aumentou seu acesso a valiosas informações de todo tipo e permitiu que frutificassem e se multiplicassem, enchessem a terra…Gen 1:28(21-22)”

Para trocar em miúdos, ninguém inventou o famigerado capitalismo, a ordem social e econômica que se tornou sinônimo do Bicho Papão, mas que nos deu a capacidade de escrever neste laptop que uso, e a você de ler o que escrevi no seu. Foi um desenvolvimento demorado, ao longo de séculos, pautado por erros e acertos, adoção e abandono de modelos e valores. Hayek cita a Bíblia porque é exatamente assim que ela explica a história humana. A famosa “mão invisível” de Adam Smith era uma referência metafórica a essa ordem espontânea que ultrapassa nossa capacidade de conhecer e perceber o processo contínuo de erros, acertos e troca de informações na sociedade, que acontece sem que ninguém controle.

Hayek diz que nos adaptamos a uma estrutura de intuições e tradições econômicas, legais e morais, que não controlamos, não compreendemos e que jamais seremos capazes de controlar como fazemos por exemplo com um produto que fabricamos.

Esta é a percepção conservadora ou liberal da história humana. Os socialistas, porém, não enxergam a história e nem a sociedade da mesma maneira. Segundo Hayek, eles percebem os fatos de maneira equivocada acreditando  que a distribuição de conhecimento e renda na sociedade se dá de maneira intencional. Sendo intencional, poderia ser controlada de maneira central, de acordo com certos princípios e gerar os mesmos resultados.

Ao demonizar a ordem espontânea (o capitalismo) atribuindo seus males não à inevitabilidade do mal e da fraqueza humana, mas a uma arquitetura estrutural maligna, os socialistas presumem poder controlá-la.

Isso é o que Hayek chama de “arrogância fatal”: a presunção de querer subverter essa ordem espontânea que vem se desenvolvendo ao longo dos séculos sem que ninguém tenha controle e nem percepção de como reproduzi-la.

Os socialistas propõem a destruição dessa ordem e sua troca por um projeto moralmente e racionalmente planejado. Esse projeto coordenaria os esforços de toda uma população através de um sistema central, pretendendo com isto gerar um resultado mais positivo do que os possíveis na ordem espontânea.

Marx pretendia  um controle dos meios de produção,  mas nós hoje já vimos esse “projeto virtuoso” do socialismo se expandir para a necessidade do controle total de todas as áreas da sociedade, sem a exclusão nem da religião, da consciência individual. O Estado socialista, para ter sucesso, precisa controlar o trabalho que você tem, o quanto você ganha, com quem você se relaciona, quem você chama de família, o que você pensa, quem você adora.

O que Hayek sugere é que toda pretensão de controlar resultados sociais através de um mecanismo central é uma presunção arrogante e que vai ter que necessariamente atribuir, a uns poucos, poder autoritário e injusto sobre muitos, e mesmo assim vai acabar falhando.

A Bíblia concorda 100% com Hayek. O livro sagrado dos judeus e dos cristãos é farto em alertas sobre os problemas do poder centralizado. Ela fala da fragilidade humana, da inevitabilidade do pecado, da importância de se aprender com os erros e com a história, de manter as tradições morais e de conhecimento que com dificuldade adquirimos e da impossibilidade de transformar a terra num reino celestial.

Ou seja, a Bíblia é veementemente anti-utopias, apesar de ter sido o ponto de origem de muitas delas. Mas qual é a alternativa? Com que tipo de política podemos sonhar?  Nós, os conservadores, podemos sonhar com uma sociedade melhor? Será que nós não podemos ter um projeto?

Infelizmente acho que é isto mesmo.  Se existir um projeto de governo conservador, este projeto é o não-projeto. Ou seja, quanto menos se fizer para tentar controlar resultados, melhor. O economista Paulo Guedes, ministro da Economia, sabe disso. Seu trabalho tem sido principalmente o de desfazer, do que o de fazer algo. Suas propostas para o Congresso são todas de soltura de rédeas, menos controle, mais liberdade.

Parece que os conservadores do Brasil entendem a necessidade da liberdade na economia. Mas tenho a impressão de que é muito difícil aplicarmos o mesmo princípio em outras áreas. Na educação, por exemplo, participei de um chat outro dia em que alguns conservadores cobravam do MEC um projeto para “controlar a qualidade” do ensino médio e universitário.

Pergunto-me: mas não chegamos até aqui por causa do extremo “controlismo” dos últimos governos? Os EUA são talvez o país com menos controle sobre seu sistema de educação e com mais prêmios Nobel do mundo (355), com uma distância de mais de 200 prêmios à frente do segundo colocado, que é o Reino Unido (120). O melhor projeto conservador para o MEC no Brasil seria a extinção dele.

O fato é, meus caros, que a verdade descoberta por Hayek se estende a todas as áreas da vida: quanto mais liberdade, mais poder para a sociedade criar, se auto-ajudar, interferir, participar de seu próprio destino, melhor para o país e para o seu povo que tem assim a obrigação de parar de acreditar na redenção que vem de um Estado salvador, e começa a acreditar em si mesmo. Mas isto não quer dizer que as coisas serão perfeitas, de maneira nenhuma. Muitos problemas teremos, muitos erros serão cometidos, muitas injustiças existirão.

Mas a história nos garante que serão bem menores as injustiças de uma sociedade livre, do que as da sociedade cuja elite (não importa se de direita ou esquerda) se propõe a controlar cada aspecto da vida civil para tentar produzir os resultados que eles consideram justos.  Quanto menos utopia e idealismo, melhor para todos.  A hui hou!!

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