O ex-diretor do banco central, Alexandre Schwartsman, em entrevista, classificou a política econômica do governo Lula III de aumento do gasto público como estando fundamentada na ideia de que gasto é vida. Como ideia, expressa bem o que está sendo colocado em prática e ela tem sido defendida, embora seja polêmica. Existem embates entre economistas, por exemplo, keynesianos versus não keynesianos e entre os próprios keynesianos.

Abordo-a aqui de uma perspectiva biossocial. Embora a ideia do mercado enquanto uma estrutura social seja vista com reservas por economistas de diferentes escolas, parece-me que o conceito central do adágio apresentado por Schwartsman é o de recursos. Nas diferentes sociedades animais, os recursos geram competição entre seus pretendentes. Existem hierarquias mais ou menos rígidas no acesso a determinados recursos dependendo do recurso e da espécie social em questão.

Nas sociedades humanas, a competição por recursos, sejam eles tangíveis, como alimentos, bens materiais como carros e imóveis, ou intangíveis, como a posição social (status social) ocupada pelo indivíduo e o prestígio social que ele desfruta, baseia-se no fato inevitável de que nem todas as pessoas conseguem satisfazer a todos os seus desejos.

A competição por recursos desenvolve-se até mesmo em situações de abundância. Mesmo quando há pleno emprego, a rivalidade permanece acentuada para a busca de posições sociais na cúpula de uma sociedade.

Pode-se argumentar que nas sociedades humanas, diferentemente de outras sociedades animais, ampliou-se o conceito de recurso. A vida social humana envolve competição por mais recursos, recursos de tipos mais amplos e recursos inexistentes entre outras sociedades animais. A ciência e a tecnologia permitem que seres humanos explorem desertos e criem grandes sistemas sociais em lugares antes não imagináveis.

Existem várias cidades em desertos que exemplificam o que estou dizendo. Mas, qual seria a mágica da escola de economia do ministro Haddad e cia que, a partir de um recurso que não existe, cria-se incentivos que, como diz o nosso presidente, “faz a roda da economia girar” sem consequências econômicas e sociais negativas? Schwartsman fala do aumento do gasto público. Ou seja, estão gastando um recurso que não existe. Portanto, isso gerará consequências econômicas negativas.

A ideia de que viver é gastar, é muito atrativa. Expressa para o indivíduo comum que ele terá o que acreditava não poder ter, porque é seu direito e porque a economia assim funciona. Contrariamente à ideia de que só podemos gastar o que temos. Mas, em um curto espaço de tempo, enquanto consumidores contumazes, muitos estarão felizes, como em uma festa com muita bebida em que todos cantam alegremente, mas depois, já que foi promovida por quem não tinha recursos para tal,existirá uma conta que terá que ser paga. O gastador animado de Haddad de hoje é o endividado desanimado de amanhã.

André Luís Ribeiro e Lacerda – Sociobiólogo, psicólogo e professor de Sociologia na UFMT, Campus Cuiabá.

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