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Polvos de crochê acalmam bebês prematuros nas UTIs

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Polvos de crochê acalmam bebês prematuros nas UTIs

Ednilson Aguiar/O Livre

UTI Neonatal, polvo

Bichinhos recriam a sensação do bebê dentro do útero e ajudam na recuperação dos prematuros

Ao ver a filha pela primeira vez com apenas 28 semanas pesando pouco mais de um quilo, Eliene Amorim da Silva sabia que estava diante de um milagre. O caminho percorrido até que pudesse ter sua menina nos braços foi longo – mas facilitado graças à ajuda dos voluntários do “Polvoando Amor”. De forma lúdica e com materiais simples, o grupo tenta dar mais segurança e aconchego à família, e principalmente ao recém-nascido, em meio ao cenário inesperado de um parto prematuro.

Os voluntários do projeto confeccionam polvos de crochê e doam às unidades de UTIs neonatais para que os bichinhos sejam colocados nas incubadoras, junto aos recém-nascidos. Estudiosos afirmam que os tentáculos do polvo recriam a sensação do bebê dentro do útero, uma vez que se assemelham ao cordão umbilical.

“Achei bem criativo”, contou Eliene ao lado da filha que completou um mês de internação no último dia 14. “Maria Fernanda adora e fica quietinha quando coloco pertinho do seu peito. A espera é grande, mas o projeto veio para nos ajudar”. Enquanto a pequena Maria Fernanda vai ganhando peso, Eliene aproveita para passar o tempo aprendendo a técnica. “Ainda não consigo fazer, mas vou aprender”.

Ednilson Aguiar/O Livre

UTI Neonatal, polvo

Eliene, que acompanha a filha Maria Fernanda há mais de um mês na UTI, disse ter gostado da ideia

Humanização

Relatos de profissionais da saúde e de pais de prematuros, afirmam que o “mimo” parece acalmar os pequenos, ajudando a normalizar a respiração, os batimentos cardíacos e evitando que eles arranquem fios de monitores e tubos de alimentação. “Começamos a trabalhar com os polvos em maio e é visível que o bebê fica mais aconchegado, como se estivesse vivendo a experiência intrauterina novamente”, afirma Yana Rossetto, enfermeira responsável pela UTI Neonatal do Hospital Santa Helena.

Ela explica que os polvos fazem parte do protocolo de humanização da unidade hospitalar e a aceitação tem sido boa, apesar de não existir comprovação científica. “Não é só acolher o bebê em uma incubadora”, diz Yana. “Temos que trazer outros meios para que ele seja um bebê mais humanizado, assim como toda nossa equipe”.

Desde que o projeto chegou a esse hospital, o ambiente da UTI, por vezes hostil, ganhou muitas cores e formas. Nos mais de 20 leitos há agora, além de um bebê lutando pela vida, um polvo companheiro, que o aquece e acalma enquanto às mães estão distantes. “Parece que estamos presente, mesmo quando passamos as noites longe. Ele aquece meu bebê”, acredita Josiane Souza Guimarães, mãe do Kayo Arthur, que está há mais de 15 dias internado. Ela já fez sua primeira aula para aprender a confeccionar o bichinho. “Foi produtiva e interessante. Amanhã quero ver se consigo fazer pelo menos as perninhas. Não é tão simples”.

Quem também aprovou a chegada do polvinho foi Suellen da Silva, mãe da Agatha. Com o parto programado para os primeiros dias de agosto, ela levou um susto quando viu a bolsa estourar na 33ª semana de gestação. “Foi um baque, mas o importante é que ela nasceu saudável”, disse. Suellen passou a última semana chegando cedo à unidade hospital e notou que a filha para de chorar quando está próxima do polvo. “Ela fica quietinha, parece até que está dentro da minha barriga ainda. Fico mais tranquila, pois à noite ela passa sozinha aqui”.

Ednilson Aguiar/O Livre

UTI Neonatal, polvo

A enfermeira, Yana Rossetto, disse ser visível a sensaçao de aconchego que o polvo provoca nos bebês

O projeto
O Projeto Octo começou na Dinamarca, em 2013, e desde então vem se espalhando pelo mundo. No Brasil, a ideia começou a ganhar força no início de 2017. Em Cuiabá, foi a universitária Natália Gomes Rodrigues, de 19 anos, que confeccionou e distribuiu as primeiras unidades em abril. Ela conta que conheceu a ideia durante uma viagem a Brasília (DF) e, com o apoio da mãe, iniciou as ações. “A gente nem sabia fazer crochê, tivemos que aprender”, conta. “Hoje, levo cerca de duas horas para fazer um polvo. Se tiver que enfeitar bastante, demoro mais”.

A estudante revela que o projeto vive de doação. Nesses dois primeiros meses, conseguiram doar mais de 150 polvinhos para diferentes hospitais da Capital. “Queremos ampliar esse número, mas, para isso, preciso de mais voluntários e material”, diz Natália.

Ednilson Aguiar/O Livre

UTI Neonatal, polvo

A universitária Natália Rodrigues trouxe o projeto para Cuiabá e agora busca voluntários 

Para atrair adeptos, Natália e os voluntários mais experientes estão oferecendo oficinas que podem ser realizadas em escolas, igrejas ou asilos. “Ou até para grupo de amigas que se reúnem e querem aprender”, explica. “Nós só pedimos que comprem os materiais para a confecção”.

Segundo a estudante, um polvo pronto sai em torno de R$ 7. Ela destaca ainda que existem cuidados para a produção dos bichinhos, que devem ser esterilizados, feitos com linha 100% de algodão e o enchimento de fibra siliconada. Além disso, o polvo não pode ter mais que 22 cm.

Saiba mais sobre o projeto aqui. Telefone para contato: (65) 99695-8008

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