Política

Para especialista, manifestações irão traduzir a insatisfação dos brasileiros com a política

Analista político acredita que nenhum dos candidatos ao governo conseguiu convencer a população

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Para especialista, manifestações irão traduzir a insatisfação dos brasileiros com a política
Desfile cívico-militar na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

A influência dos brasileiros nos assuntos políticos marcantes na história própria é vista como nota de rodapé ao corpo dos acontecimentos, o que é um estranho para um país que se pretende democrático.  

Essa percepção pode ser recolhida dos estudos históricos. A Proclamação da República foi um ato burocrático dos militares insatisfeitos com os caminhos pelos quais a monarquia conduzia o país, nos negócios políticos e econômicos, no fim do século XIX. 

Enquanto Marechal Deodoro da Fonseca, considerado o responsável pela proclamação, decidiu num grupo restrito o futuro do país, os brasileiros que passavam em frente ao Exército sabiam que acontecia alguma coisa, mas não tinham a dimensão da magnitude. 

Um cenário semelhante pode ser montado do Dia da Independência, que completa neste ano 200 anos. A data 7 de setembro se tornou simbólica da desvinculação política e administrativa da coroa portuguesa que foi impulsionada pelo desgaste político entre membros da monarquia e a elite nacional. De novo, a massa da população assistiu aos acontecimentos. 

Do emocionado ao político? 

O analista político Onofre Ribeiro diz ver apenas três momentos na história do Brasil, nos séculos XX e XXI, em que os movimentos de rua surgiram das ruas. Foram manifestações mais simples do que pode ser traçado hoje, porque estavam cristalizadas por figuras ou anseios. 

“O primeiro foi o choro do país pela morte de Getúlio Vargas [em 1954], foi uma comoção geral por tudo aquilo que ele representava, pelo presidente que entrou para a história como o ‘pai dos pobres’. A manifestação foram as Diretas Já [em 1984], que reuniu 1 milhão de pessoas na Praça da Sé, em São Paulo, pedindo eleição direta para presidente”, diz. 

Segundo ele, em Cuiabá, cerca de 12 mil pessoas se reuniram no centro da cidade para participar do ato, que tomou conta de várias cidades. As manifestações seguintes aconteceram mais próximas a nós e indicam a situação difusa que as manifestações políticas, incluindo esta quarta-feira (7), podem tomar daqui pra frente. 

“Em 2013, as pessoas foram às ruas por causa da insatisfação com o país e em favor da Dilma [Rouseff, ex-presidente pelo PT]. Mas, [Jair] Bolsonaro (PL) foi eleito num contexto de insatisfação com o governo do PT e isso aconteceu em 2018, ou seja, cinco anos depois. Ano passado, puxado por ele, mais ou menos 1 milhão foram para as ruas”, comenta Onofre. 

Manifestação do saco cheio? 

Dilma teria o mandato cassado em 2016, pouco mais de três anos após a manifestação das ruas. A polarização do país aumentou desde então. Conforme o analista, Bolsonaro conseguiu estimular a manifestação de 2021, mas neste ano o grupo de seus simpatizantes deve ser mais um entre outros bolsões. 

A figura que parece surge deste ano é uma população indignada com a política e com a insatisfação da burocracia estatal e de baixa eficiência. As bandeiras vermelhas ou azuis, ou de outra qualquer cor política, estão incapacitadas de aglomerar uma visão que satisfatória de país. 

“Nesta manifestação de 7 de setembro, vão tanto bolsonaristas quanto pessoas da esquerda, mas ela não será representada nem por um nem por outro. Bolsonaro consegue reunir mais gente, mas é um bolsão; nenhum político tem sido convencer os brasileiros. As pessoas estão de saco cheio, indignadas com a políticas, com a corrupção, burocracia, com o Congresso, com o STF (Supremo Tribunal Federal)”, comenta. 

Ele vê com certo otimismo o momento atual, que indica para um amadurecimento político dos brasileiros – o que poderia uma renúncia à letargia histórica. “Nenhum político consegui agregar adesão, mesmo assim as pessoas estão falando em ir para ruas”, complementa. 

Onofre Ribeiro vê a troca da exposição dos tanques e do armamento militares, típica dos desfiles da Independência, pelos cliques em redes sociais e uma mobilização, também às margens do centro do poder. 

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