Crônicas Policiais

Operação “Falso Profeta” mira organização que usava a fé para aplicar golpes financeiros

Ao menos 200 pessoas fazem parte da organização, que fez mais de 50 mil vítimas usando uma teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara”

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Operação “Falso Profeta” mira organização que usava a fé para aplicar golpes financeiros
(Foto: PJC MT)

A Polícia Civil, por meio da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Ordem Tributária, vinculada ao Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (DOT/DECOR), deflagrou, ontem (20), a operação “Falso Profeta”, para desarticular uma organização criminosa acusada de usar a fé das vítimas para aplicar golpes financeiros.

Mais de 100 policiais civis cumpriram 19 mandados judiciais, dois de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão, em Mato Grosso, no Distrito Federal, em Goiás, no Paraná e em São Paulo. Também foram cumpridas medidas cautelares de bloqueio de valores, bloqueio de redes sociais e decisão judicial de proibição de utilização de redes sociais e mídias digitais.

Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal, responsável pela operação, as investigações apontaram que os suspeitos formaram uma rede criminosa organizada, estruturalmente ordenada, hierarquizada e caracterizada pela divisão de tarefas.

O grupo realizava diversos crimes, como falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e estelionato, por meio de redes sociais (fraude eletrônica), com o fim de obter vantagem econômica em prejuízo de milhares de vítimas no Brasil e no exterior, que são induzidas a investirem quantias em dinheiro com a promessa de recebimento futuro de valores milionários.

O golpe consiste na conversa enganosa através de redes sociais (Youtube, Telegram, Instagram, Whatsapp, etc.), abusando da fé alheia, da crença religiosa, e invocando de uma teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara”, para convencer as vítimas, em sua grande maioria evangélicas, a investirem suas economias em falsas operações financeiras, ou falsos projetos de ações humanitárias, com promessa de retorno financeiro imediato e rentabilidade estratosférica.

Foi detectada, por exemplo, a promessa de que, somente com um depósito (“aporte”) de R$ 25, as pessoas poderiam receber de volta nas “operações” o valor de R$ 1 octilhão, ou mesmo “investir” R$ 2 mil para ganhar 350 bilhões de centilhões de euros.

O golpe pode ser considerado um dos maiores já investigados no Brasil, uma vez que foram constatadas, como vítimas, pessoas de diversas camadas sociais e localizadas em quase todas as unidades da federação, estimando-se mais de 50 mil vítimas.

De acordo com a investigação, iniciada há cerca de um ano, o grupo é composto por cerca de 200 integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas intituladas pastores, que induzem e mantêm em erro as vítimas, normalmente fiéis que frequentam suas igrejas, para acreditar no discurso de que são pessoas escolhidas por Deus para receber a “benção”, ou seja, as quantias milionárias.

Como instrumento dos golpes, os investigados constituem pessoas jurídicas “fantasmas” e de fachada simulando ser instituições financeiras digitais (falsos bancos), com alto capital social declarado, através das quais as vítimas supostamente irão receber suas fortunas.

E, para dar aparência de veracidade e legalidade às operações financeiras, os investigados ainda celebram contratos com as vítimas, ideologicamente falsos, com promessas de liberação de quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento, que estariam registrados no Banco Central do Brasil (BACEN) e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).

A investigação também apontou movimentação superior a R$ 156 milhões, nos últimos 5 anos, bem como foram identificadas cerca de 40 empresas “fantasmas” e de fachada, e mais de 800 contas bancárias suspeitas.

Em dezembro do ano passado, a Polícia Civil do Distrito Federal prendeu, em Brasília, um suspeito de envolvimento no esquema, após ele ter feito uso de documento falso perante uma agência bancária localizada na Asa Sul, simulando possuir um crédito de aproximadamente R$17 bilhões.

Porém, mesmo após a prisão em flagrante desse indivíduo, à época o principal digital influencer da organização criminosa, o grupo continuou a aplicar golpes.

Além do DECOR, participaram da operação policiais do Departamento de Polícia Especializada, e das Polícias Civis dos estados de Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

Os alvos poderão responder, a depender de sua participação no esquema de golpes, pelo cometimento dos delitos de estelionato, falsificação de documentos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem tributária e organização criminosa.

(Com Assessoria)

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